Segunda-Feira 02 de Julho de 2007
CANSADO....
Estou cansado. Imensamente cansado.
Cansado do homem. Sim, cansado do ser humano. Cansado de vaidades, chocarrices, futilidades; cansado de egoísmos, de “vampirismos”; cansado do ego humano, em especial do ego evangélico, dos donos da verdade, dos lobos disfarçados de cordeiros; cansado dos muitos que se dizem cristãos, e que usam a Bíblia com maior ou menor eficiência para adorar o próprio ventre; cansado dos “heréticos” e dos “apologetas”; cansado dos “fariseus”, “nazireus”, “profetas” e “extravagantes”; cansado dos hipócritas, que pregam a mentira como se fosse verdade — e também dos que pregam a verdade que não vivem, e são para si mesmos mentira. Cansado dessa raça humana, falida, da qual eu faço parte. E, portanto, cansado também de mim mesmo.
Este é um desabafo, sim. Desabafo necessário e perfeitamente aceitável, já que nem o Homem dos Homens se negou esse direito:
“E Jesus, respondendo, disse: Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-mo aqui.” (Mateus 17:17)
Ainda mais considerando que nem mesmo Deus está isento disso:
“De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? diz o Senhor. Estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecerdes perante mim, quem requereu de vós isto, que viésseis pisar os meus átrios? Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação. As luas novas, os sábados, e a convocação de assembléias … não posso suportar a iniqüidade e o ajuntamento solene! As vossas luas novas, e as vossas festas fixas, a minha alma as aborrece; já me são pesadas; estou cansado de as sofrer. Quando estenderdes as vossas mãos, esconderei de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei; porque as vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos; tirai de diante dos meus olhos a maldade dos vossos atos; cessai de fazer o mal; aprendei a fazer o bem; buscai a justiça, acabai com a opressão, fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva.” (Isaías 1:11-17)
Ah, quem dera o homem fosse como aquele Homem. Quem dera a iniqüidade e o ajuntamento solene nos causassem a mesma reação! Quem dera lutássemos contra a iniqüidade, não sendo injustos e preconceituosos, mas usando de justiça! Quem dera combatêssemos a opressão maligna, não com uma “opressão benigna”, mas quebrando a força da opressão nas mentes e corações dos oprimidos, para que, oprimidos ou não na sua carne, no espírito fossem sempre livres! Quem nos dera fazer justiça ao órfão e à viúva, ao invés de roubar-lhes as casas em nome do evangelho! Quem dera nos mantermos incontaminados do mundo, ao invés de sermos tão malignos quanto ele o é; ou até mais malignos, por nos acharmos melhores que ele!
Ah, quem me dera ver mais pessoas como Jesus foi. Ah, quem me dera ser como Ele foi! Quem me dera dizer tantas coisas, e fazer tantas coisas, às vezes aparentemente tão incongruentes, mas que se encontravam e harmonizavam no ser — muito mais do que no falar ou no fazer. “Eu sou”, disse Ele. Ele é. E porque é, é que Ele era e há de vir; porque é, Ele harmoniza em si a justiça e a misericórdia, a derrota e a vitória, a fraqueza e a força, o homem e Deus; Cristo é um rasgo de luz na história negra da humanidade.
Não somos tão “iluminados” quanto pensamos, enquanto nossa vida não refletir a luz dEle. Podemos até ser sacerdotes e levitas, mas não seremos como o samaritano enquanto não nos reconhecermos no homem ferido, à beira da estrada; enquanto não nos cansarmos de nós mesmos, enquanto não abrirmos mão de nós em nome daquEle que é, não amaremos ao próximo.
Chega do evangelho intelectual, que jamais transcende a fronteira do saber para o ser. Chega do evangelho pragmático, experimental, que não se molda no modelo de Cristo, ou do que dEle se revela nas Escrituras. Chega do evangelho que mata e transgride em nome de Deus, que ofende a criação e o Criador em nome da “verdade” que diz defender; chega da pretensão humana em achar-se melhor que a pura simplicidade da pessoa de Cristo.
Estou cansado, sim. E como estou. Mas quanto mais cansado estou, mais ouço o chamado deste que, mesmo cansado de nós, ainda assim se deu por nós; que, mesmo cansado de nós, se despiu de sua glória, para experimentar o pior que a humanidade tinha a oferecer - e que, mesmo à vista de tudo isso, ainda foi capaz de dizer:
“Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.” (Mateus 11:28-30)
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