Epidemia de bactéria já fez 76 vítimas neste ano - Agência Estado
ImprimirEnviarCorrigirFale ConoscoUma epidemia de bactérias de crescimento rápido que atinge hospitais brasileiros já vitimou mais de mil pessoas nos últimos três anos - 76 delas só em 2008 - e serviços de saúde têm feito um “recall” de pacientes para buscar casos ainda desconhecidos. Enquanto isso, quem já se descobriu doente enfrenta um calvário de cirurgias para a retirada de tecidos atingidos ou vive acamado, sofrendo com cicatrizes e efeitos de um coquetel de medicamentos contra a infecção, que gera feridas de difícil cicatrização e lesões nodulares.
Pelo menos duas mortes estão em investigação hoje no Paraná, além de outros 153 casos no País, e o problema preocupa principalmente o Rio Grande do Sul, Goiás e Distrito Federal, segundo balanço da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) da última terça-feira. Mesmo Estados que vêem a situação controlada, como o Rio, o Espírito Santo, Pará e Paraná, já têm novas suspeitas de contaminação neste ano.
Segundo avaliação da Anvisa, 89% das vítimas são pacientes de hospitais privados, que se submeteram a cirurgias não invasivas - as chamadas videocirurgias - que utilizam câmeras e cânulas que adentram o corpo do paciente por pequenos orifícios na pele.
No entanto, também há registros em cirurgias abertas, lipoaspirações, cirurgias oculares e endoscopias, amplamente utilizadas na rede privada. As vigilâncias sanitárias vinculam o problema principalmente à sujeira de equipamentos utilizados nas cirurgias, mas, mesmo após três anos e um grande número de casos registrados, não há ainda estudos conclusivos. Os agentes infecciosos, chamados de Micobactérias de Crescimento Rápido, podem demorar até dois anos para se manifestar.
De acordo com a Anvisa, a situação é epidêmica por causa do ineditismo do problema e de seu crescimento nos últimos anos, segundo o diretor do órgão regulador Claudio Maierovitch.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
29 de junho de 2008
26 de junho de 2008
Manifesto em prol de materiais Científicos
Manifesto pedindo solução para o problema de importação de material científico
O Brasil tem um grande futuro pela frente, e os cientistas brasileiros estão prontos a dar sua contribuição. É preciso entretanto que o novo governo, eleito para realizar mudanças, encampe mais esta bandeira de transformação em prol do interesse nacional.
Eis a íntegra do manifesto, que será entregue ao ministro da C&T. Para assiná-lo, mande um e-mail para srehen@scripps.edu com nome, titulação e local de trabalho.
'É impossível alavancar a ciência brasileira sem revolucionar a importação de material científico!
Os entraves burocráticos que cientistas brasileiros atravessam quando têm que importar quaisquer equipamentos ou reagentes para pesquisa são estarrecedores.
Inúmeros pesquisadores brasileiros esperam há anos pela liberação de equipamentos essenciais ao desenvolvimento de suas pesquisas. Quando finalmente são liberados, estes equipamentos encontram-se frequentemente obsoletos.
Da mesma forma, centenas de cientistas aguardam meses pelo desembaraço alfandegário de alguns microlitros de um simples reagente, muitas vezes com o prazo de validade vencido.
Como se não fosse o bastante, a importação de material científico encontra-se monopolizada por um pequeno número de empresas e intermediários que determinam sobretaxas em geral superiores ao próprio valor do material importado.
Em outras palavras, o cientista brasileiro paga verdadeiras fortunas por equipamentos obsoletos e reagentes vencidos. É simplesmente impossível competir com o Primeiro Mundo nestas condições. Em persistindo esta trágica situação, perpetuaremos o atraso científico e tecnológico que compromete o desenvolvimento da ciência brasileira, o registro de novas patentes e a melhoria da qualidade de vida de nossa população.
Continuaremos ainda a desencorajar o retorno de jovens pesquisadores que trazem do exterior novas idéias e motivação, além de dinheiro estrangeiro a ser investido em ciência nacional.
É extremamente importante que o governo federal esteja ciente da gravidade deste problema, que atualmente estrangula e atrofia a nossa ciência.
Uma política séria para a importação de material científico e redução das taxas alfandegárias que incidem sobre o pesquisador brasileiro precisa ser definida com urgência urgentíssima.
Além disso, as instituições públicas precisam ser capazes de receber, de forma simples e ágil, doações e equipamentos necessários à sua própria sobrevivência como instituição. Diante do grave problema acima apresentado, propomos como medidas prioritárias para implementação imediata:
1. Criação de armazéns alfandegários do CNPq nos principais aeroportos, com desembaraço em 24 horas de todo e qualquer material científico;
2. Eliminação das taxas de importação de material científico que incidem sobre o pesquisador brasileiro;
3. Facilitação jurídica das normas para recebimento de doações de material científico.
4. Em face das altas taxas de importações impostas pelo governo americano (e outros) a produtos agrícolas e siderúrgicos brasileiros, e tomando em conta a quase ausência de empresas brasileiras no setor de material e equipamentos científicos, sugerimos a oferta por parte do governo brasileiro de redução tarifária para produtos e equipamentos científicos americanos, pedindo em contrapartida a redução de taxas de importação para produtos agrícolas e siderúrgicos brasileiros.
O Brasil tem um grande futuro pela frente, e os cientistas brasileiros estão prontos a dar sua contribuição. É preciso entretanto que o novo governo, eleito para realizar mudanças, encampe mais esta bandeira de transformação em prol do interesse nacional.
Assumindo a liderança deste processo, o MCT encontrará ressonância em toda a comunidade científica nacional, e deixará uma marca realmente perene.'
Stevens Kastrup Rehen, PhD, Universidade Federal do RJ & The Scripps Research Institute
Sidarta Ribeiro, PhD, Duke University
Cecília Hedin, Universidade Federal do RJ
Ronaldo Mohana-Borges, PhD, Universidade Federal do RJ
25 de junho de 2008
Evangélicos contra Homofobia no Senado Federal.
Evangélicos “invadem” Congresso e reivindicam direito de criticar homossexualismo
BRASÍLIA - Cerca de mil evangélicos realizaram, na tarde desta quarta-feira, um grande protesto em frente ao Congresso Nacional contra o projeto de lei (PL) 122/2006, que entre outros pontos prevê prisão para quem praticar a homofobia. Uma parte dos manifestantes, inclusive pastores e parlamentares, forçou a entrada no Parlamento e distribuiu um documento a parlamentares para pedir a rejeição do projeto, alegando prejuízo à prática religiosa.
Manifestantes invadiram Congresso Nacional
O PL 122, de autoria da ex-deputada Iara Bernardi (PT-SP), atualmente tramita na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado após aprovação na Câmara dos Deputados em 2007. A proposta considera crime o preconceito de gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero. Entre as sanções previstas para a homofobia, está a pena de cinco anos de prisão
A luta contra o projeto de lei, que atualmente aguarda votação na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, vem ocorrendo há semanas, por meio dos obstáculos colocados por senadores evangélicos para impedir sua apreciação e aprovação. Os senadores conseguiram mobilizar caravanas que somaram cerca de mil manifestantes na frente do Congresso, que fizeram orações e gritaram palavras de ordem contra o PL.
Um dos pastores que puxou as orações, Jabes de Alencar, da Assembléia de Deus, apelou: “Senhor, sabemos que há uma maquinação para que este País seja transformado numa Sodoma e Gomorra (cidades que, pela Bíblia, foi arrasada por Deus pela prática da luxúria). Um projeto desses vai abrir as portas do inferno”. Quando começaram a se dirigir para o interior do Congresso, os protestantes gritavam melodias como “Caia, Babilônia, caia, Babilônia”.
Expressão
Parlamentares ajudaram um grupo de pastores e fiéis a entrar no Parlamento, após o empurra-empurra em frente à entrada principal. Depois, eles se dirigiram à sala da Presidência do Senado e aproveitaram o fato de só haver como representante da Presidência um senador evangélico, Magno Malta (PR-ES).
O coordenador do movimento, o pastor da Assembléia de Deus Silas Malafaia, entregou a Malta o documento para ser distribuído aos senadores. “Esse projeto de livre expressão sexual abre as portas para a pedofilia. É uma afronta à Constituição e à família”, discursou Malafaia.
Magno Malta tomou a palavra e elogiou a manifestação. “Sempre falaram que esse era um debate de evangélicos, mas temos aqui um deputado católico (Miguel Martini, do PHS-MG) que sempre representou o segmento católico do Brasil e está apoiando um documento que contradita as inconstitucionalidades do PL 122”, disse.
O deputado católico Miguel Martini foi ainda mais duro. “Querem calar a boca dos cristãos para impedir que falemos a verdade, que está na Bíblia. Nós amamos os homossexuais, porque são nossos irmãos, mas não amamos o homossexualismo. Não aceitamos discriminação de ninguém, mas não aceitamos sermos discriminados em nossas convicções religiosas”, bradou Martini.
O projeto
O PL 122, de autoria da ex-deputada Iara Bernardi (PT-SP), atualmente tramita na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado após aprovação na Câmara dos Deputados em 2007. A proposta considera crime o preconceito de gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero. Entre as sanções previstas para a homofobia, está a pena de cinco anos de prisão.
Segundo a relatora do PL 122 na CAS, senadora Fátima Cleide (PT-RO), "no Brasil não se muda a realidade se não houver punição".
Mas o deputado federal Bispo Rodovalho (DEM-DF), protestou contra possíveis “abusos” decorrentes do PL 122. “O PL 122 dá poderes ditatoriais a uma minoria. Se um funcionário for dispensado de uma empresa, poderá alegar homofobia, e o dono da empresa vai ser preso por crime hediondo, inafiançável”, alegou Rodovalho.
A senadora Fátima Cleide criticou os argumentos e a atuação dos parlamentares evangélicos nesta quarta-feira. “Infelizmente alguns religiosos utilizam discurso político para tentar ludibriar as pessoas crentes e tementes a Deus. Há que se observar aí mais uma postura de intolerância, pois em qualquer religião há diversidade dos seres humanos. Mais uma vez a diversidade não é respeitada, como se todos os religiosos tivessem de ter um pensamento único”, lamentou Cleide.
24 de junho de 2008
"Campanha Dracena quer mais Saúde PSFs"
"CAMPANHA DRACENA QUER MAIS SAÚDE PSFs"
Mobilização popular pela VOLTA DOS PSFs ( Programa Saúde da Fámília)
do Governo Federal que tem beneficiado a população mais carente.
Nosso Município na Gestão do Prefeito Elzio Stelato do PSDB, teve encerrado o Programa Saúde da Família.
Através desta Campanha queremos chamar a atenção dos nobres Candidatos a prefeito de Dracena em 2008 que assumam o Compromisso com o povo pela reabertura dos P.S.Fs !!
: http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=52229049
O Caminho dos Vencedores.!
O Caminho dos vencedores é sempre traçado
passo a passo com muito esforço,
suor e muitas vezes com lágrimas.
Sabemos que a alegria da vitória
compensa qualquer sacrifício.
Somente pessoas corajosas,
constantes, decididas e com muita fé em DEUS,
chegam ao final vitoriosos..
"A perseverança conquista a vitória“...!!
UMA SEMANA REPLETA DE BENÇÃO PARA TODOS..!!!
Soli Deo Gloria
ramon.cardoso@hotmail.com
22 de junho de 2008
"BATALHA ESPIRITUAL"
BATALHA ESPIRITUAL
Augustus Nicodemus Gomes Lopes*
Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do Diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne e sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau, e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis. Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz; embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito, e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos, e também por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra para com intrepidez fazer conhecido o mistério do evangelho, pelo qual sou embaixador em cadeias, para que em Cristo eu seja ousado para falar, como me cumpre fazê-lo (Ef 6:10 – 20)
Quando estourou a Segunda Guerra Mundial, o conhecido John Stott era bem jovem, com idade de alistar-se no Exército. Contudo, ele se recusou a entrar no Exército Britânico e a participar da guerra. O pai de Stott, um médico que havia se alistado para combater ao lado dos aliados, ficou extremamente revoltado com o filho e cortou as relações com ele. Só depois que Stott tornou-se pastor conhecido, e começou a pregar na capela de All Souls, na Inglaterra, é que um dia, finalmente, seu pai, comovido, o procurou. Seu pai não aceitava que, naquele momento de crise para o país, as convicções pacifistas de Stott o impedissem de lutar pela sua Pátria.
Pacifismo ou guerra espiritual? - Sem entrar no mérito da questão do pacifismo, queremos apenas usar essa ilustração para dizer que não há lugar para pacifistas na guerra espiritual em que a Igreja está envolvida. A Bíblia diz que estamos num combate, estamos no meio de uma escaramuça. Não é de estranhar que no Novo Testamento a Igreja quase sempre é descrita com uma linguagem oriunda do campo militar. Muita gente hoje fala em Igreja, inclusive há essa idéia muito popular de que a Igreja é um grande hospital onde as pessoas vêm para que sejam curadas. Não queremos descartar esse lado, cremos que o Novo Testamento nos dá base para afirmar que há espaço entre o povo de Deus para a cura interior. Aliás, muita gente vê a Igreja desta maneira, como um grande sanatório, onde nossas esquizofrenias espirituais são tratadas pelo pastor ou por uma equipe.
O problema com essa visão é que ela não leva em consideração que, no Novo Testamento, a Igreja é vista como um exército que marcha, um exército que está em plena campanha, um exército que está em batalha. Há muitos que estão na Igreja há tantos anos esperando para que sejam curados de suas feridas. Talvez o que esteja faltando seja uma palavra como: “Irmão, toma a tua armadura e vai para o campo de combate”. Há irmãos que são doentes profissionais na Igreja. Estão ali e vão ficar ali a vida toda. Na realidade, o quadro de Igreja que vemos no Novo Testamento é o de uma Igreja militante. Não é por acaso que os nossos teólogos entendem a Igreja como sendo a Igreja militante e a Igreja triunfante. Militante porque está em luta, está em combate, está em conflito, contra as hostes do mal, contra o pecado, e contra o mundo.
Entendendo o contexto de Efésios 6 - O texto lido é o mais detalhado do Novo Testamento sobre a militância da Igreja, sobre o seu conflito com as hostes das trevas. Antes de analisar esse texto propriamente dito, para aprender dele o conceito do apóstolo Paulo quanto ao conflito cristão e à guerra em que estamos envolvidos, é importante entender a situação em que o apóstolo escreveu estas palavras. Seguindo regras simples de interpretação, observamos que quando vamos pregar sobre um texto, ou quando vamos estudar uma passagem, é sempre bom levar em conta o quadro maior. E aqui, no caso desse texto em particular, isso é extremamente importante. Essa passagem tem sido mal usada por pessoas que defendem as mais loucas idéias que você possa imaginar na área de conflito ou batalha espiritual. Contudo, quando nos colocamos dentro do contexto e da perspectiva da carta, temos uma visão privilegiada do ponto de vista do autor.
Não é mistério para ninguém que quando Paulo escreveu a carta aos Efésios estava preso em Roma, mas, mesmo assim, desejava confortar os que sabiam da sua prisão. Não sabemos exatamente todos os detalhes. A carta aos Efésios é uma das que mais se revestem de mistérios, especialmente no que respeita ao propósito de Paulo ao escrevê-la. Pessoalmente, cremos que ele a escreveu para explicar à Igreja de Éfeso, e talvez a outras Igrejas da região, o fato de que Deus havia permitido que ele, mesmo sendo o apóstolo designado para pregar aos gentios, tivesse sido lançado na prisão de Roma, ficando impedido, assim, de realizar o seu ministério. É isso que ele diz no capítulo 3, no verso 13: “Portanto, vos peço que não desfaleçais nas minhas tribulações por vós, pois nisso está a vossa glória” O propósito de Paulo era mostrar que aquilo que para os efésios, e possivelmente para as Igrejas daquela região, era motivo de dúvida, questionamento ou perturbação, na realidade representava a glória deles. E ele faz isso expondo a doutrina da Igreja, mostrando o propósito de Deus para a Igreja.
No capítulo primeiro, mostra como Deus, em Cristo, reuniu todas as coisas, apresentando a Igreja como representação disso; ele mostra como, em Cristo Jesus, a Igreja foi abençoada com toda a sorte de bênção espiritual e foi selada pelo Espírito Santo (vs. 3). No segundo capítulo, ele mostra que Deus fez isso em termos práticos, chamando-nos pela graça quando estávamos mortos em ofensas e pecados. Depois, ainda no segundo capítulo, ele mostra a união de judeus e gentios formando um único povo, a Igreja, desfazendo a diferença ou barreira entre judeus e gentios. Deus não tem dois povos. Deus tem um único povo: a Igreja, que é composta de judeus e gentios convertidos. No terceiro capítulo, Paulo fala da sua função, como apóstolo, no propósito eterno de Deus de revelar o mistério de Cristo que outrora havia estado oculto, mas que tinha sido revelado através dos apóstolos e da pregação da Palavra, na vinda do Senhor Jesus. Paulo mostra que estava sofrendo exatamente por causa disso, e que o sofrimento dele fazia parte desse eterno propósito de Deus; e nisso estava a glória dos efésios e de tantos quantos lessem a carta que, possivelmente, era uma carta circular. E, a partir daí, ele fala, no quarto capítulo, sobre a unidade da fé através do ministério dos apóstolos, dos profetas, dos evangelistas e dos pastores e mestres. Ainda no quarto capítulo, ele começa a traçar as implicações práticas de tudo que ele havia feito, mostrando, a partir da metade do capítulo, como os efésios deveriam andar, à luz desse contexto. Então ele trata da santificação, uma vida pura diante de Deus. No quinto capítulo, trabalhando na mesma direção, Paulo trata da vida conjugal. No sexto capítulo, ele fala sobre a criação de filhos, sobre a vida na sociedade, e, por fim, conclui exortando a Igreja a se preparar contra as astutas ciladas do inimigo. Os efésios ouviram tantas coisas maravilhosas a respeito do que eles eram em Cristo Jesus, do que Deus providenciou para eles, do plano eterno; e certamente devem ter ficado tão cheios de alegria e de gozo que Paulo sentiu a necessidade de dizer: “irmãos, nós ainda não chegamos lá, vocês vão encontrar oposição no mundo para viver como Igreja de Deus, para experimentar em termos práticos, definidos, completos tudo isso que Deus tem para vocês”. Ele disse então: “irmãos, vocês vão encontrar oposição, não de homens de carne e sangue como nós, mas dos principados e potestades que estão nos lugares celestiais que querem nos destruir. Portanto, vocês têm que tomar toda a armadura de Deus para poder resistir às tentativas dessas forças que hão de tentar impedi-los na carreira cristã”. Então, quando olhamos para o capítulo 6 de Efésios, particularmente os versos 10 a 20, com a perspectiva da carta como um todo, à luz da eclesiologia de Paulo nessa Carta, algumas lições se tornam evidentes para nós no que respeita à questão da batalha espiritual. Em primeiro lugar, devemos ver que o propósito de Paulo no capítulo seis é ensinar a Igreja a resistir. Esse é o seu ponto principal. Não é difícil provar isso. Se vocês derem uma olhadinha no texto que lemos, a ordem principal é: “ficai firmes”. O imperativo aparece três vezes, no versos 1, 13 e 14 “Ficai firmes” é a exortação de Paulo.
Combate ou resistência? - Essa passagem tem sido descrita por alguns como sendo uma convocação ao combate. Contudo, ela seria melhor descrita como uma exortação a que a Igreja resista. Outra coisa que a gente observa é que o soldado cristão, aqui descrito, está numa posição de defesa. O soldado que é descrito aqui, a partir inclusive da descrição das armas que lhe são dadas, não está partindo para o combate, para conquistar novos campos ou para assaltar o inimigo, ou para derrubar uma trincheira. Na realidade, ele já conquistou, já venceu, já colocou o pé em território inimigo. O que ele tem que fazer é resistir firme, esse é o peso da passagem que se coaduna com tudo que nós vimos até agora. A Igreja, na Carta aos Efésios, já é vitoriosa, já está assentada com Cristo nos lugares celestiais, como Igreja invencível e imbatível. Cristo já venceu todas as batalhas por ela. Paulo começa a tratar dessa batalha (Ef 6:10) dizendo: “Sede fortalecidos no Senhor e na força do Seu poder”. Essa expressão aparece no capítulo primeiro, quando Paulo ora, no verso 18, para que fossem iluminados os olhos do entendimento daquela Igreja e o coração para que soubessem qual era a esperança da vocação deles, qual era a riqueza da glória da herança dos santos e qual era a suprema grandeza do seu poder para com os que crêem, segundo a eficácia da força do Seu poder.
Assim, Paulo exorta a Igreja a que se apodere da vitória de Cristo, daquele poder que ressuscitou Cristo dentre os mortos e O colocou à direita de Deus nos lugares celestiais. Portanto, o guerreiro que está descrito aqui já é vencedor, já conquistou, já colocou o pé no solo inimigo. O que Paulo manda é que esse guerreiro resista às tentativas do inimigo de recuperar aquilo que ele já perdeu e que foi tomado pelo nosso Capitão, o Senhor Jesus. Estamos destacando esse ponto porque uma das ênfases do movimento de “Batalha Espiritual”, que vamos considerar mais detalhadamente, é que a Igreja deve entrar em conflito direto com os principados e potestades. Eles mudaram as coisas. Para eles, não somos nós que somos caçados pelo Diabo; antes, nós é que temos que sair caçando o Diabo. Mas vejam que o que Paulo está dizendo nesse texto não é isso. Ele está dizendo é que nós já somos vencedores. Mas ainda assim, o movimento de “Batalha Espiritual” insiste em que os crentes saiam caçando o Diabo para tomar o território dele, para derrubá-lo, para conquistá-lo e implantar a doutrina de Cristo nesses locais todos. Como se tudo já não fosse de nosso Senhor e como se o Diabo já não fosse um inimigo derrotado. Voltaremos a esse ponto porque ele requer mais detalhes. Mas esse é o ponto principal que gostaríamos de enfatizar e que fica claro quando se vê essa passagem à luz do seu contexto. Paulo não está mandando a Igreja partir para tomar qualquer ofensiva contra demônios. Pelo contrário, a Igreja, segundo ele, já é vencedora. Sua recomendação, portanto, é para que ela resista aos ataques que lhe são feitos. Esse é um ponto de grande importância que devemos guardar em mente.
Origens do movimento - Agora, a grande pergunta, naturalmente, é: Como podemos resistir? Vamos considerar, em primeiro lugar, a resposta do movimento de “Batalha Espiritual”, como é conhecido em nossos dias. Vamos dizer, brevemente, o que eles pensam sobre o assunto, depois ofereceremos uma análise de tudo e, finalmente, apresentaremos uma alternativa bíblica quanto ao tema. Vamos começar, então, entendendo o que é esse movimento de “Batalha Espiritual” e a que ele se propõe. Em nossas pesquisas, não encontramos, com muita segurança, a origem do movimento, a não ser uma informação de um dos seus defensores que diz que o movimento teve as suas origens em um missionário americano chamado J.O. Fraser, na década de 30. Fraser foi missionário na China, pela “Missão para o Interior da China”, fundada por Hudson Taylor. Seu trabalho se restringia a uma tribo no interior da China envolvida com ocultismo, práticas de feitiçaria, e magia negra. Fraser, no início do seu ministério, fracassou redondamente. Ele não conseguia libertar aqueles chineses incultos e bárbaros das suas superstições mágicas e das suas tradições de feitiçaria e ocultismo. Notava que os seus convertidos não conseguiam realmente se libertar da influência dos espíritos dos demônios. Então ele começou a tentar na forma empírica, isto é, na base da tentativa de erro e acerto, achar uma maneira de combater esses demônios. Ele entendia que a sua luta não era mais com os convertidos; então, queria ir direto à causa. Assim, achou que seu negócio era com os demônios, e começou a desenvolver uma técnica, uma estratégia para anular, para eliminar, ou para impedir a atuação dos demônios nos convertidos; impedir a ação dos demônios que emperravam o trabalho da Igreja. Depois de várias tentativas, Fraser deixou de lado as Escrituras e desenvolveu um método na base do pragmatismo, ou seja: se funciona, está certo. Foi assim que ele entendeu ter encontrado o caminho do sucesso, em termos de invadir os territórios dos demônios e amarrá-los.
Fraser era um missionário, uma pessoa desconhecida, portanto as técnicas e o trabalho dele ficaram desapercebidos até que a irmã dele publicou, trouxe à luz, as cartas que ele havia escrito, e as anotações dele sobre o assunto. A partir daí, a coisa passou para o domínio público. Isso teria acontecido no começo da década de 30.
Divulgadores atuais - Um nome bem mais conhecido, Frank Perreti, popularizou essas idéias no mundo todo. Peretti, com dois romances entitulados: “Este Mundo Tenebroso”, descreve a luta espiritual de uma pequena comunidade de uma cidade dos Estados Unidos para impedir que os espíritos malignos daquela região se apoderassem da cidade. Ele narra, então, de forma muito bem escrita, uma estória que se passa em um local fictício e com personagens fictícios. Esse livro foi um best seller nos Estados Unidos e já foi traduzido para quase todas as línguas ocidentais. Peter Wagner, o maior nome do movimento de “Batalha Espiritual”, agradece publicamente a Peretti dizendo que nós devemos mais a Peretti do que a qualquer outro autor a difusão da idéia do movimento de “Batalha Espiritual” no mundo todo.
Peter Wagner foi professor e missionário na América Latina durante alguns anos. Então, ele voltou aos Estados Unidos para ensinar no Centro de Missões no Seminário Fuller e voltou com convicções pentecostais. Ele estava convencido das coisas que viu na América Latina. A princípio ele era bastante conservador e contra todas as manifestações pentecostais e carismáticas. Mas ele viu alguma coisa na América Latina que virou a cabeça dele. Assim, ao voltar para o Fuller, estava absolutamente comprometido com essas manifestações. Depois de algum tempo, tomou o lugar de Donald McGavran, que é o fundador do movimento de “Crescimento de Igreja”. Peter Wagner tomou o lugar de McGavran, que era mais moderado, e difundiu não somente a idéia do movimento de “Crescimento de Igreja”, mas associou a idéia de fazer a Igreja crescer com sinais e prodígios. Ou seja, ele acha que no mundo de hoje não tem jeito de fazer a Igreja crescer se não houver sinais e prodígios. Nós vivemos numa época pós-moderna onde ninguém valoriza o conceito de certo ou errado. O que vale hoje é a experiência, o que você sente; e, portanto, a única coisa que a Igreja tem para oferecer como principal chamariz, diz Wagner, é exatamente a produção de sinais e prodígios.
Riso, urro e vômito “santos” - O Seminário de Fuller comprou a idéia e abriu um curso chamado: “Crescimento de Igreja, Sinais e Prodígios” onde quem dava aula eram Peter Wagner e John Wimber, o fundador do movimento “A Videira”, uma das denominações carismáticas que mais cresce nos Estados Unidos hoje e de onde saiu a Igreja da “Bênção de Toronto”. Já ouviu falar da “bênção de Toronto”? A “bênção de Toronto” é a “gargalhada santa”, o “riso santo”. Quando a Igreja de Toronto começou com a “gargalhada santa”, John Wimber foi lá, não sabemos se Peter Wagner foi também, mas eles trabalhavam juntos. John Wimber foi lá e disse: “Isso é uma obra do Espírito Santo”. Ele deu todo apoio à “bênção de Toronto”. No Natal do ano passado, acrescentou-se alguma coisa ao “riso santo” - o “urro santo”. Aqueles irmãos começaram não somente a rir, mas a berrar, a urrar, a grunhir e a latir. A justificativa dada, no caso dos que urravam como leão, é que o berro é o urro de indignação de Deus contra o pecado da Igreja, porque no livro de Amós, Deus se apresenta como um leão e, portanto, quando o Espírito vem sobre alguém ele urra em indignação contra o pecado da Igreja. Tudo bem! Mas e o cachorro? A coisa ficou tão feia que John Wimber voltou lá, disse que o movimento não era mais do Espírito Santo e cortou a Igreja de Toronto da comunhão. Ele fez isso no Natal do ano passado. Recentemente, o Dr. Michael Horton, que esteve aqui no Simpósio dos Puritanos em Águas de Lindóia, disse que o último desdobramento do movimento é o “vômito santo”. De acordo com o “vômito santo”, quando a pessoa está vomitando no Espírito quer dizer que ela está expelindo, na linguagem deles, todos aqueles espíritos malignos, todos aqueles pecados e coisas que estavam neles.
Queremos fazer apenas um parêntese para dizer o seguinte: Se não houver o freio da Escritura, se não houver limite, ninguém sabe onde isso vai parar. Até o próprio John Wimber disse: “Tem hora que tenho que dizer basta”. Tem muita gente entusiasmada com esse tipo de movimento, mas nós já podemos ver o fim deles, o que vai acontecer. Porque o movimento que não se baseia exclusivamente na Palavra de Deus, que não parte da suficiência da Escritura, e não se submete ao crivo da Bíblia, não tem cerca.
O movimento no Brasil - O que está acontecendo em Toronto e em outros lugares nos Estados Unidos, infelizmente, é o que irá acontecer, segundo cremos, no Brasil. Com o rumo que o movimento de “Batalha Espiritual” está tomando hoje, no mundo todo, precisamos ficar apostos quanto à nossa Igreja.
Peter Wagner que defendeu o crescimento de Igreja com sinais e prodígios, abraçou logo em seguida a idéia de batalha espiritual como sendo necessária para fazer sua Igreja crescer. Não estamos dizendo que todo mundo que defende o movimento de crescimento de Igreja também é do movimento de “Batalha Espiritual”. Mas é preciso ficar claro que existe essa relação entre as duas coisas e você tem que ficar de olho aberto para entender bem o que está acontecendo no movimento de crescimento de Igreja, junto com batalha espiritual. Não estamos dizendo que são todos, mas na pessoa de Wagner e de muitos outros você vai encontrar esta fusão. Assim, Wagner pode ser visto como o teólogo do movimento. No Brasil, ele ganhou muitos adeptos; o mais conhecido é a Drª. Neusa Itioka, que é membro da equipe da SEPAL e que se tornou conhecida pela publicação do seu livro: “Deuses da Umbanda”, que na realidade foi sua tese de doutorado em Missiologia no Seminário de Fuller. No livro “Deuses da Umbanda”, Neusa Itioka coloca nomes nos demônios que controlam o Brasil, e a grande crítica que se faz contra ela é quanto à fonte de informação que usou para descobrir os nomes dos demônios, porque a Bíblia não dá nome a nenhum demônio. À exceção daquela legião, que simplesmente quer dizer “muitos”, e de Satanás, a Bíblia não dá nome a demônio nenhum. Como, então, Neusa Itioka sabe os nomes dos demônios que estão no Brasil? A resposta dela é que soube disso através de informação de pessoas endemoninhadas em tratamento no seu gabinete. Mas, desde quando o testemunho de pessoa endemoninhada ou o testemunho de demônios pode servir de base para formulação doutrinária? Outra pessoa também que tem difundido muito essa idéia, embora menos teologicamente, é a conhecida Valnice Milhomens, através dos seus escritos e especialmente através dos seus simpósios e programas de televisão. Além disso, centenas de simpósios sobre batalha espiritual, conferências sobre o assunto e uma grande quantidade de literatura, a maior parte traduzida do inglês para o português, têm divulgado o movimento no Brasil
Em primeiro lugar, gostaríamos de dizer, antes de fazer uma análise seguida de uma crítica do pensamento deles, que não estamos negando nem a sinceridade, nem a honestidade, nem o desejo de servir a Deus e nem mesmo a conversão de quem quer que seja. Estamos tratando as coisas no campo das idéias. Não estamos dizendo que porque alguém abraçou o movimento de “Batalha Espiritual” não é crente. Não estamos dizendo que Neusa Itioka não é crente, que Valnice e Peter Wagner não são crentes. Ao tratar desse assunto, que Deus nos dê humildade e também dor no coração para com a situação.
Demônios especialistas - Fica difícil dizer o que eles crêem por causa das divergências existentes entre si. Mas há uma base na qual todos eles se firmam. Em um livro que está para ser publicado pela Casa Editora Presbiteriana, o autor faz uma distinção que nos ajuda muito. Ele colocou o dedo no ponto crucial da “Batalha Espiritual”: O conceito de que todo mal que existe no mundo, qualquer que seja sua natureza, quer seja mal moral, pecado, desastre, etc. é causado pela ação direta de um ou mais demônios que são especialistas em causar aquilo. Portanto, a única solução apresentada por eles é um ministério ekbalístico. (que quer dizer “lançar fora”, “expelir”). Para o pessoal do movimento de “Batalha Espiritual”, o único modo possível de ministério é o ministério ekbalístico, já que tudo que aflige o indivíduo, a Igreja, e a sociedade é produzido pela interferência, pela atuação e pela influência de demônios. Assim, a solução só pode ser uma: amarrá-los, controlá-los, proibi-los, repreendê-los, etc. Então, se você compreende isso, você já conhece a porta de entrada para o movimento de "Batalha Espiritual".
Com essa base, será possível entender tudo o que eles fazem. O ministério ekbalístico refere-se, então, àquele tipo de ministério crido e exercido por muitos pastores no Brasil: a expulsão de demônios. Isso é visto por eles como a arma principal da Igreja, talvez a única arma para resolver todos os problemas da Igreja e da sociedade. Vamos supor: alguém está sofrendo de pensamentos sensuais, é crente, não consegue se livrar de pensamentos lascivos, devaneios eróticos, imagens contra as quais venha lutando, etc. Se essa suposta pessoa for a um conselheiro ekbalístico ele vai dizer o seguinte: “Isso está acontecendo porque tem um demônio entrincheirado na sua vida e que está produzindo esse tipo de coisa e você não vai resolver o problema enquanto você não expelir esse demônio da sua vida”. Então, possivelmente, o que vai acontecer é que vai haver uma sessão de exorcismo onde o conselheiro vai repreender o demônio e mandar que saia e o cidadão vai embora sentindo-se bastante aliviado. Possivelmente os pensamentos vão voltar, a pessoa vai regressar e repetir o mesmo processo por umas duas ou três vezes. Finalmente, o conselheiro ekbalístico vai dizer: “Você tem que aprender você mesmo a expulsar o demônio”. Eles ensinam, então, uma técnica para localizar o demônio fisicamente na parte do corpo em que ele se encontra, colocar a mão ali e ordenar que o demônio saia em nome de Jesus. Assim a pessoa passa a se automedicar, expelindo os demônios todas as vezes que eles voltam. Essa é a abordagem deles. Contudo, se o mesmo suposto personagem for a um conselheiro bíblico, a interpretação será outra. O conselheiro dirá: “Meu filho, comece a queimar as revistas ‘Playboy’ do seu quarto, depois pára de ver esses filmes com figuras e pensamentos eróticos, pára de andar com certas companhias que provocam a sua sensualidade, começa a lutar sério com isso, aprenda a orar, pedir a Deus que lhe guarde, tenha uma vida reta, toma muito banho frio, joga bola, e aprenda que o caminho para se libertar disso é chamado pela Bíblia de ´santificação`, um processo árduo que exige a mortificação da natureza humana” O fato de “amarrar” um ou mais demônios não vai resolver isso. Como se vê, o ponto principal do movimento de “Batalha Espiritual” é o conceito de que todos os problemas do indivíduo, da Igreja, e da sociedade são causados por demônios que estão instalados em posições estratégicas e geográficas cabendo à Igreja a responsabilidade, segundo o movimento, de ir a esses demônios e anular a atuação deles. Essa é a base do pensamento, é a porta de entrada para a teologia de batalha espiritual deles.
Espíritos territoriais - Como já mencionamos, temos que compreender esse conceito de espíritos territoriais. Há um livro que foi editado por Peter Wagner, recentemente publicado, onde ele fala sobre esses espíritos. Para eles, os espíritos ocupam determinados territórios geográficos, regiões que podem abranger países, estados, cidades, bairros, e até casas e ruas. A idéia é que para cada região geográfica existem um, dois ou três demônios responsáveis pelo pessoal que mora ali. O trabalho deles é cegar as pessoas, levá-las à perdição e impedir que a Igreja penetre ali. Esse seria o trabalho dos espíritos territoriais. O alvo deles é cegar as pessoas daquelas regiões, pelas quais eles são responsáveis, através do ocultismo, Nova Era, astrologia, satanismo, uso de pirâmides, cristais, bruxaria, macumba, etc. O segundo objetivo desses demônios seria oferecer total resistência aos esforços da Igreja para entrar naquela área, impedir a abertura da área para a entrada da Igreja. Para isso eles cegam e oprimem os crentes. No caso mais extremo, alguns defensores de “Batalha Espiritual” crêem na possessão demoníaca dos crentes. O crente poderia ficar possesso, segundo eles. Neusa Itioka, partindo de um estudo de Gilberto Piker, procura fazer distinção entre possessão e demonização. Ela não aceita que o crente possa ser possuído, mas acredita que pode ficar demonizado. Neusa está trabalhando em cima de uma distinção que foi feita por Gilberto Piker, no seu livro sobre guerra espiritual. Parece-nos bastante infeliz essa idéia e sem qualquer apoio na língua grega. Ele acha que temos traduzido daimonitzo, que é o verbo para indicar possessão, de uma forma errada. Segundo ele, a tradução correta seria “ficar demonizado”. Assim, Piker entende que possessão significa estar totalmente sob o controle do Diabo e demonização significa que um demônio entrou na vida de alguém e ocupa uma área. Então, enquanto alguns diriam que o crente pode ficar totalmente possesso, como Neuza Itioka, Gilberto Piker, fala em demonização de áreas da vida em que o demônio pode chegar e se entrincheirar e de onde só sairá através do ministério ekbalístico. Os demônios fariam isso na Igreja para impedir o seu avanço, atacando pregadores, promovendo pecados de divisão e semeando confusão.
Outro ponto interessante é que, segundo eles, o quartel general dos demônios, o território que eles chamam de “trono de Satanás” está localizado em um ponto geográfico. Quando Peter Wagner esteve aqui no Brasil, convidado pela Comissão Nacional de Evangelização da Igreja Presbiteriana naquela época, ele defendeu abertamente em Campinas a idéia de que estas regiões têm um local geográfico, que é conhecido como “trono de Satanás”, onde o líder dos demônios daquela região tem o seu quartel general e de onde controla os seus subordinados que cegam as pessoas e oferecem resistência à Igreja. Por conseguinte, a Igreja não pode progredir, crescer e evangelizar enquanto não neutralizar estas forças espirituais cósmicas. Seria inútil a Igreja começar uma campanha de evangelização numa nova área sem primeiro neutralizar esses espíritos territoriais que estariam ali entrincheirados. Primeiro temos que amarrar o valente e depois é que podemos saquear a casa. Essa é a estratégia missionária do movimento de “Batalha Espiritual” associada com o crescimento da Igreja. Primeiro tem que neutralizar os demônios, neutralizar suas fortalezas, tirar-lhes o domínio daquela região, e só assim a Igreja vai poder entrar, evangelizar e conquistar as pessoas para Cristo. A Igreja não deve ficar na defensiva. A reflexão inicial que fizemos sobre Efésios 6, mostrando que a Igreja já é vitoriosa e está na defensiva, essa nossa posição é totalmente inaceitável para eles. Segundo o movimento, temos que sair caçando Satanás, derrubando esses territórios, neutralizando a ação dos demônios e travando uma batalha cósmica nas regiões celestes.
Técnicas contra os espíritos - Segundo Wagner, nem todo mundo pode ser um guerreiro de oração, se não estiver preparado. Satanás vai devorá-lo no café da manhã. Como ninguém quer ser devorado por Satanás no café da manhã, os crentes vão em massa para o simpósio de “Batalha Espiritual” aprender com os “peritos” as estratégias e as táticas para enfrentar o inimigo e conquistar seus territórios. Esses “peritos” ensinam aos crentes os segredos de como atacar, nas regiões celestiais, essas forças espirituais. J.O. Fraser, na década de 30, não tinha idéia do que o seu pensamento iria produzir no século XX.
O que a Igreja deve fazer, segundo o movimento? Em primeiro lugar, fala-se muito em mapeamento espiritual. A idéia é que assim como se pode ir para uma cidade e mapear as suas diversas localidades e os seus acidentes geográficos, pode-se, também, fazer um mapa das regiões celestiais. Chamam isso de “mapeamento espiritual”. Dizem que há uma superposição do que está acontecendo nas regiões celestes com o que está acontecendo na terra. O mapeamento espiritual consistiria em descobrir basicamente duas coisas: a) onde estão localizados os demônios que controlam uma determinada região; b) quais os nomes deles. A idéia é que o conhecimento do nome do demônio dá poder sobre ele. Por isso dão tanta ênfase à necessidade de conhecer o nome dos demônios. Essa idéia veio, possivelmente, do gnosticismo antigo que o Dr. Horton chamou de “tecnologia espiritual”. Os gnósticos acreditavam que quando você tinha determinado conhecimento, você tinha controle de Deus e podia ter acesso a ele quando quisesse. Isso, portanto, é um reavivamento de certos aspectos do gnosticismo antigo, quando se conhece o nome de um demônio tem-se autoridade sobre ele.
Quanto à questão do trono de Satanás, Wagner ensinou um método para localizá-lo e derrubá-lo. Primeiro, toma-se o mapa da região, divide-o em quadros e anda-se por eles orando em cada um deles. Na área em que a maior opressão se manifestar, onde se torna quase impossível orar, é que está a maior concentração de demônios e ali, possivelmente, estará o trono de Satanás. O que deve ser feito é a promoção de uma corrente de oração trazendo guerreiros de oração para que derrubem o trono de Satanás. Uma vez feito isso, a região estará livre e poderá ser evangelizada com sucesso. No livro “Espíritos Territoriais” há uma ilustração interessante: Havia um cidadão na fronteira do Brasil com o Uruguai. No Uruguai, ele recebeu um folheto, mas ao lê-lo, nada aconteceu. Quando o cidadão cruzou a fronteira e entrou no Brasil, ele se converteu. Explicação dada: “Os demônios do lado do Uruguai não estavam amarrados, ao passo que, no lado brasileiro, eles estavam amarrados”. Segundo eles, ninguém se converte enquanto essas entidades não forem anuladas. Essa é a implicação do conceito do movimento de que todo mal existente no mundo é causado pela ação direta de um demônio. Portanto, a solução sempre seria a de atacar os demônios com um ministério ekbalístico. Então, esses simpósios ensinam fazer mapas espirituais; localizar e derrubar o trono de Satanás; orar intercessoriamente, em voz alta, determinando a queda das fortalezas; amarrar demônios pela palavra, especialmente os demônios ligados a certas atividades como embriaguez, vícios em geral, uso de drogas, etc.; dar ordens diretas aos demônios, repreendê-los e mandá-los para o abismo.
Quebrando maldições - Um desenvolvimento recente encontra-se na questão da maldição hereditária. Essa ênfase tem sido dada por Valnice Milhomens, Neusa Itioka, Jorge Linhares e Robson Rodovalho; este, da Comunidade de Goiânia. Eles entendem que os demônios passam a ter autoridade na vida de uma pessoa quando alguém lança uma praga. Por exemplo, quando um pai diz a um filho: “menino, que o Diabo te carregue!”. Por causa disso, o demônio vai controlar a vida desse menino e mesmo que ele se converta, se não se quebrar essa maldição, ele não conseguirá ser feliz porque ela o acompanhará pelo resto da vida. Assim, palavras descaridosas dos pais, xingamento, coisas más que são ditas, dariam autoridade aos demônios sobre as pessoas. Jorge Linhares conta que comprou um carro novo e, viajando, atropelou um coelho; na semana seguinte, atropelou um cachorro; na terceira semana, um passarinho bateu no parabrisa e morreu. Então ele orou: “Senhor, eu quero saber o que está acontecendo, tem alguma coisa errada com esse carro”. Ele diz em seu livro que o Espírito Santo revelou-lhe que aquele carro estava amaldiçoado e que ele devia quebrar todas as maldições; então ele foi e anulou todas as maldições que havia naquele carro. Qual é a conclusão lógica? Quando chegou em casa ele saiu de quarto em quarto anulando a maldição do refrigerador, da televisão, da mesa, etc. Isso porque ele cria que o Espírito tinha lhe revelado que o carro estava amaldiçoado porque foi produzido numa fábrica de ímpios. Há pessoas que crêem seriamente nisso e estão fazendo isso mesmo.
Robson Rodovalho ensina que para anular maldições hereditárias deve-se traçar uma árvore genealógica com todos os ascendentes e investigar a vida de todos os antepassados para saber se eles fizeram algum pacto com o Diabo, se há algum pecado que se repete na família o tempo todo, como separação, ou outra característica da família; e então, ensina o que fazer para quebrar essas maldições.
Pontos positivos - Gostaríamos de fazer uma breve avaliação do ensino do movimento de “Batalha Espiritual” e oferecer uma alternativa bíblica para a questão. Tentaremos cobrir os pontos básicos: Primeiramente, vamos fazer uma avaliação positiva do movimento. Há pelo menos três coisas boas em tudo isso:
a) a conscientização que esse movimento vem trazer à Igreja da realidade do poder e da atuação das hostes espirituais da maldade. A tendência e a tentação das igrejas reformadas calvinistas têm sido a de esquecer-se de que a luta não é contra carne e sangue, mas contra principados e potestades. Às vezes, a ênfase na igreja reformada calvinista é muito forte na questão do conhecimento, do treinamento doutrinário, e da precisão teológica na mente. Por vezes pensamos que qualquer coisa no reino de Deus sempre se processa no campo das idéias. Sem, naturalmente, querer desmerecer esta verdade, precisamos destacar que o verdadeiro calvinismo ensina a importância de uma mente preparada, sem se esquecer do valor de um coração aquecido, um coração em chamas pelo Evangelho, por amor a Deus, amor à Igreja, amor à glória de Cristo, que deseja ver essa glória espalhada pelo mundo. Não podemos dissociar essas duas coisas. Se ficarmos só na questão intelectual seremos reformados frios; e o que tem acontecido é que esta frieza tem entrado nas igrejas. Em outros países, onde estudamos, professores de seminários não acreditam em possessão demoníaca. Eles não têm nenhuma preocupação com o que a Escritura diz com respeito às astutas ciladas do Diabo. O fato de que Satanás anda ao nosso redor como leão que ruge, procurando a quem possa devorar, não desperta neles a menor preocupação. Tudo isso é considerado como sendo coisa do período apostólico e que cessou. Há, portanto, esse perigo e certamente esse movimento vem nos conscientizar dele.
Quando Paulo escreveu a carta aos Efésios, ele estava preso e, portanto, impedido de prosseguir na evangelização. Entretanto, Paulo não via a coisa apenas do ponto de vista meramente humano. Ele estava preso porque o imperador o havia abrigado como preso político e porque os judeus o entregaram ao imperador. Mas Paulo, ao analisar a situação, vê além disso. Ele sabia que por detrás do imperador e dos judeus que o colocaram ali, estavam forças espirituais da maldade nos lugares celestiais. Às vezes a Igreja esquece esse aspecto. É claro que o extremo oposto é de gente que vê o Diabo em tudo, em qualquer coisa, mas o outro extremo é esquecer da existência da atuação, da realidade dessas forças malignas ao nosso redor. Cremos que esse movimento, mesmo sendo definitivamente estranho aos ensinos bíblicos, pode nos ajudar a corrigir a nossa tendência de ir aos extremos.
b) O segundo ponto positivo é o zelo evangelístico. Como vimos, esse movimento nasceu no campo missionário, numa tentativa de ganhar pessoas para Cristo, libertá-las e levar o Evangelho a elas. É verdade que hoje o moderno movimento de crescimento de Igreja já perdeu muito desse zelo missionário de ir a outros povos e praticamente se tornou uma metodologia urbana de igrejas grandes; mas as raízes do movimento são missionárias e esse pessoal, muitos deles, têm um zelo muito grande no trabalho de ganhar as pessoas para Cristo e levá-las ao conhecimento de Deus. Isso vem fustigar, às vezes, a mornidão e indiferença das igrejas reformadas; a acomodação que vem às igrejas calvinistas que não têm visão missionária. Esse pessoal tem essa preocupação, alguns com motivos errados, mas pelo menos a preocupação existe.
c) Uma terceira coisa é a ênfase que eles dão à oração. Eles estão orando pela coisa errada, mas pelo menos acreditam que pela oração podem fazer alguma coisa. Sabemos que é Deus quem faz todas as coisas, mas também sabemos que Deus manda, em Sua Palavra, que oremos e que a Igreja ore e que interceda. Paulo mostra isso no final do capítulo seis de sua carta aos Efésios, ao pedir que a Igreja estivesse orando em todo o tempo no Espírito por todos os santos e também por ele para que lhe fosse dada a Palavra. Assim, embora o movimento de “Batalha Espiritual” tenha a ênfase errada, a vida de oração que ensina serve de chicote de Deus para nós.
Talvez um lugar onde seja mais fácil negligenciar uma vida de oração seja no seminário. Quando o seminarista chega ao seminário, calouro, feliz, ele ajoelha toda noite e sabe de cor o nome de todos os membros da sua Igreja, dos seus amigos e a favor de cada um ora de joelhos durante o seu primeiro ano. No segundo, ele já não conhece os nomes de cor e prepara, então, uma lista. Então, à noite, ele se ajoelha, pega a lista e diante de Deus lê o nome daquelas pessoas e pede que Deus as abençoe. No terceiro ano, ele já pregou a lista na parede. À noite, ele se ajoelha e diz: “Senhor, abençoa os nomes que estão nessa lista”. Esse movimento vem nos lembrar que sem oração, sem buscar a Deus, sem obedecer a ordem das Escrituras de que temos que orar Deus não nos abençoará.
Erros do movimento - Agora, ao mesmo tempo em que destacamos esses pontos positivos, temos também alguns questionamentos sinceros, algumas preocupações verdadeiras; mas, antes de apresentá-las, queremos dizer duas coisas: Primeiro, cremos na realidade e na atuação dos demônios conforme o ensino bíblico. Não entendemos que toda atividade demoníaca foi restrita ao período apostólico, não há base para dizer isso. Segundo, cremos no poder da oração e cremos que o crente fortalecido no Senhor, na força do seu poder, é capaz de enfrentar e vencer as tentações do Diabo.
Agora vamos ver algumas críticas. São seis ou sete observações. A ordem que vamos seguir não tem que ver com a ordem de importância, mas a primeira merece destaque:
1. Apesar do tom de autoridade desses “peritos”, o que eles falam, a grande maioria das estratégias propostas, não tem base bíblica. Suas técnicas parecem mais com um misticismo exagerado. Por exemplo, onde, na Bíblia, vamos encontrar uma orientação, uma ordem do Senhor Jesus, para que os apóstolos e a Igreja localizassem e derrubassem o trono de Satanás? Por que Jesus nunca ensinou isso aos apóstolos e os apóstolos nunca ensinaram isso às Igrejas? Onde vamos encontrar, no Novo Testamento, o Senhor Jesus ensinando aos apóstolos que eles deveriam amarrar Satanás por meio de palavras? E onde vamos encontrar os apóstolos ensinando as Igrejas que na batalha contra o Diabo elas poderiam amarrar Satanás com a autoridade que Jesus deu? Onde vamos encontrar que a Igreja deve se organizar para, através da oração, fazer guerra contra o trânsito, como o pessoal de “Batalha Espiritual” em Los Angeles amarrou os demônios no engarrafamento, durante as Olimpíadas? Amarraram os demônios da maldição do triângulo das Bermudas. Na revista News Week saiu a notícia de que não houve engarrafamento no trânsito em Los Angeles durante as Olimpíadas porque eles decretaram a prisão do demônio do engarrafamento. Onde está na Escritura que a Igreja deve se unir em oração para fazer isso? É claro que não tinha engarrafamento na época de Paulo.
Segundo o pensamento de alguns deles, os demônios não só atuam em pessoas mas, também, em estruturas. Neusa Itioka afirma que o problema do funcionalismo público no Brasil é que existe um demônio do funcionalismo público. Ela afirma isso! No seu livro: “Você Está em Guerra”, publicado agora pela SEPAL, ela fala que o problema do funcionalismo público no Brasil é um demônio que está entrincheirado nas estruturas econômicas, e o problema do racismo no Brasil é que quando foi assinada a Lei Áurea, resolveu-se o problema externo, mas ninguém passou uma canetada amarrando o demônio do escravagismo; por isso a raça negra continua sendo desprezada, ridicularizada e menosprezada. Certamente não vamos encontrar esse ensino na Escritura. Por que o apóstolo Paulo não promoveu uma campanha entre as suas Igrejas para amarrar o imperador ou destronar o poder do Império Romano que estava matando cristãos? Por que Paulo não fez uma campanha para acabar com a escravidão, amarrar o demônio da escravidão que havia no Império Romano? Por que Paulo não fez nada disso? Onde encontramos na Escritura que para o homem ser feliz ele tem que quebrar as maldições hereditárias?
A interpretação que o movimento de “Batalha Espiritual” tem dado à passagem de Êxodo 20 consiste num crasso erro de hermenêutica. Nunca se deve pegar um texto isoladamente, para elaborar uma doutrina. Êxodo 20 tem que ser interpretado à luz de Ezequiel 18, onde o profeta repreende a nação porque o povo estava dizendo: “os pais comeram uvas verdes e os dentes dos filhos é que embotaram”. O profeta disse: “de forma nenhuma. A alma que pecar essa morrerá”. Se um homem justo gerar um ladrão, as bênçãos do justo, os méritos do justo não vão passar para o filho ladrão; ele vai morrer debaixo da ira de Deus; e se o filho ladrão gerar um filho justo nada do que o pai fez de errado vai cair sobre esse filho justo. Assim, devemos interpretar Êxodo 20 à luz dos profetas, do Novo Testamento, onde está escrito que em Cristo Jesus todas as nossas cadeias, toda a nossa dívida foi desfeita. Essa é a nossa primeira preocupação, a falta de base bíblica para essas ousadas afirmações.
Outra coisa: Por que Paulo sofreu durante catorze anos com um espinho que ele expressamente diz que era um mensageiro de Satanás? Não sabemos a natureza do mensageiro, mas sabemos sua procedência, era de Satanás. Por que durante catorze anos Paulo sofreu com aquele enviado de Satanás? O que ele fez foi pedir a Deus, três vezes, humildemente, que tirasse aquele espinho. E nem assim ele foi atendido. Como se explica isso? Como se explica que Paulo, querendo voltar a Tessalônica, tenha sido barrado por Satanás (I Ts 2:18; 3:1)? Qual foi a estratégia de Paulo? Aqui está um caso típico de guerra espiritual, ele queria voltar a Tessalônica, onde tinha deixado uma Igreja de novos convertidos, mas não pôde porque Satanás lhe barrou o caminho. Não sabemos a natureza da barreira. A palavra “barrar” significa: “cavar uma trincheira”, vem da linguagem militar, cavar uma trincheira para que o inimigo não passe. Está claramente caracterizado um caso em que o missionário quer entrar no campo mas o Diabo coloca obstáculo. O que fez o apóstolo Paulo? Ele não amarrou, não determinou queda, não repreendeu, não mandou de volta para o abismo. Não podendo ir pessoalmente a Tessalônica, ele simplesmente enviou Timóteo. Mais duas coisas: Ele orou, escreveu uma carta e mandou Timóteo driblar a barreira e ir em seu lugar. Segundo os padrões de “Batalha Espiritual” moderno, Paulo era um verdadeiro crente frio, “não era presbiteriano”.
De onde vêm essas técnicas, de onde elas se desenvolveram? Há duas fontes: primeiro, do pragmatismo; - “se funciona, então está certo”. Neusa Itioka, nesse livro que saiu agora, diz que os demônios ganham autoridade para sentar no pescoço de alguns crentes. Ai você pergunta: Neusa, de onde você tirou essa idéia? Certamente a resposta não será: “das Escrituras”, pois isso não está na Bíblia. A resposta dela será: “eu tenho observado no meu gabinete que muitos crentes que vêm se queixando de determinados pecados, também vêm sofrendo com dores no pescoço. A conclusão dela é que o demônio monta no pescoço. É uma questão tragicômica. A base da maioria das práticas desenvolvidas por esse movimento vem dessa forma. Uma vez, um defensor do movimento, conhecido aqui no Brasil, foi fazer uma palestra numa igreja em Minas; quando acabou de falar, ele perguntou aos presentes: “Quem ficou com sono durante a palestra”? As pessoas levantaram a mão e ele chamou-as para a frente e disse: “Vou orar, agora, repreendendo o demônio do sono da vida de vocês”. Orou, expulsou o demônio do sono, e na saída o pessoal foi falar com ele. Disseram: “onde é que você tem base para dizer que se uma pessoa está cochilando durante a sua palestra, aquilo é um demônio que está causando sono”? Porque, na realidade, se olhar na Bíblia, o sono é uma bênção de Deus. Tem gente que daria qualquer coisa no mundo para passar uma noite de sono profundo. Em nenhum momento da Escritura isso está ligado a uma ação demoníaca, como é que você sabe disso”? Ele respondeu: “Eu sei que não está na Escritura, mas Deus me revelou”. São essas as fontes básicas do movimento: Revelações especiais diretas de Deus e experiências práticas. Em outras palavras: Isso é uma mistura de pragmatismo e misticismo.
2. Outra coisa que tem nos preocupado é a influência doutrinária da “Confissão Positiva”, nas práticas do movimento. O movimento de “Confissão Positiva” começou com o pastor Essek William Kenyon, dos Estados Unidos. Ele pegou a idéia de filósofos sobre o poder da palavra; - “a palavra cria” - e trouxe isso para dentro da Igreja, criando a idéia de que pela palavra o crente consegue criar realidades ao seu redor. Um dos discípulos de Kenyon é Paul Young Cho, com aquele famoso livro, que fez muito mal ao Brasil, chamado “A Quarta Dimensão”, onde se lê que você visualiza, mentaliza e pela palavra você cria resposta à sua oração, exatamente do jeito que você queria. Outro discípulo é Benny Hinn, cuja literatura está espalhada pelo Brasil. Sua idéia é basicamente esta: Assim como Deus no começo criou todas as coisas pela palavra do seu poder, nós, porque somos deuses, podemos igualmente criar, podemos criar circunstâncias através da palavra.
Há pouco tempo recebemos um livro escrito por um pastor chamado Hank Hanegraaff, dos Estados Unidos, e ele mandou, acompanhando o livro, duas fitas onde colecionou as próprias palavras e expressões usadas por Benny Hinn e outros, tiradas da televisão e de revistas. Ele fez uma coletânea para que os evangélicos ouvissem, nas próprias palavras desse pessoal, o ensino deles. Benny Hinn diz: “Você não tem um deus dentro de você, você é deus”. O que está por detrás disso é a idéia de que podemos criar como Deus criou, porque nós também somos deuses. Um outro evangelista dessa linha diz o seguinte: “Não diga que você está doente, você simplesmente bata em seu corpo e diga: ´Ah! esse corpo saudável!` Porque na hora em que você disser: ´eu estou doente` você vai ficar doente, porque a palavra tem poder. Mas diga: ´eu estou curado`. Não diga também que você está pobre, bata no seu bolso e diga: ´Ah! carteirinha cheia de dinheiro`” Esse pensamento da palavra criadora está por detrás de muitas das estratégias do movimento de “Batalha Espiritual”. Ou seja, a voz de autoridade e comando dos crentes vai criar aquilo que eles estão dizendo e aquela vocalização vai derrubar fortalezas, vai amarrar o Diabo, vai repreender os demônios, e vai criar realidades favoráveis ao crescimento da Igreja. Então há a influência do movimento. Essa idéia de confissão positiva, não é só idéia da "Teologia da Prosperidade", mas também do movimento de “Batalha Espiritual”.
3. As ênfases do movimento comprometem o conceito da suficiência de Cristo no Evangelho. Todos precisam saber que essa teologia de “Batalha Espiritual” nasceu em solo arminiano; Peter Wagner é arminiano, Neusa Itioka é arminiana e Valnice é arminiana. Uma teologia dessa jamais poderia florescer em solo Reformado. Isso porque a Teologia Reformada coloca a sua ênfase na soberania de Deus, no senhorio de Jesus Cristo, e na suficiência de Cristo e sua Palavra. Assim, esse movimento acaba atacando a suficiência de Cristo. Não é suficiente o que o nosso Salvador fez por nós na cruz e na ressurreição, temos que completar isso quebrando as maldições hereditárias, dizem eles. As afirmações da Escritura sobre a vitória de Cristo na cruz do calvário e a sua ação de anular as obras do maligno não são suficientes, temos que completar isso amarrando o que Ele deixou de amarrar, dizem eles.
4. O movimento tende a isentar os crentes da sua responsabilidade moral, e de todo o processo de santificação, como demonstramos naquele exemplo da pessoa que procura o conselheiro, porque tem pensamentos impuros. O que acontece é que pessoas que abraçam esse movimento e que começam a ver os demônios como responsáveis, inclusive pelos seus próprios pecados individuais, acabam finalmente a se sentir isentos de qualquer responsabilidade. Não é difícil encontrar pessoas que dizem: “Meu casamento deu errado, o Diabo entrou ali, fez a maior bagunça; o Diabo tomou conta de mim, eu não sabia o que estava fazendo, bati na minha esposa, mandei meus filhos embora, etc.” O Diabo acaba sempre sendo o responsável e os homens ficam isentos de culpa, pois agiram debaixo da influência do Diabo. Isso pode ser visto nos grandes tele-evangelistas dos Estados Unidos. Um deles, depois de um grande e comprovado escândalo moral, foi à televisão e disse: “Irmãos, eu sei o que fiz, mas foi o Diabo que me levou a fazer, eu não sabia o que estava fazendo, o Diabo fez isso”. Esse é o resultado, quanto à responsabilidade individual. O caminho do quebrantamento, do arrependimento, da mortificação fica cada vez mais distante à medida que a ênfase recai nesse tipo de coisa. Alguns meses atrás recebemos um convite que dizia o seguinte: “Achamos que o Brasil está vivendo um momento de grande avivamento espiritual, e há uma mudança na liturgia e um retorno dos dons espirituais, mas notamos que está faltando uma coisa essencial e queremos convidar o irmão a participar como preletor de uma série de conferências sobre santidade”. É a primeira conferência sobre santidade, por achar que está faltando santidade no avivamento. Há o avivamento, mas está faltando santidade, então vamos promover um simpósio sobre santidade.
5. O movimento tende a criar uma obsessão doentia por Satanás, demônios e as coisas do ocultismo. A cosmovisão da Escritura é a seguinte: a Bíblia não nos manda olhar o mundo pela ótica da atuação dos demônios, embora nos ensine a reconhecer a presença deles. O problema do pessoal que abraçou o movimento de “Batalha Espiritual” é que eles olham o mundo dessa perspectiva, filtrada pela atuação dos demônios. Portanto, eles vêem demônios atuando em todas as coisas. Essa não é a cosmovisão da Bíblia. Essa é a maneira do mundo ver as coisas, dos povos pagãos do passado e das religiões gregas do passado, em que para cada árvore, cada casa, cada pedra, havia uma fada, um duende ou coisa dessa natureza; era uma visão pagã do mundo e não uma visão bíblica. A Bíblia reconhece a presença e atuação do inimigo, mas não nos ensina a viver como se em cada esquina houvesse um demônio esperando para nos devorar.
Estivemos, há alguns dias, em uma certa cidade. Ficamos hospedados na casa de um pastor que abraçou o movimento de “Batalha Espiritual”. Ele nos contou que o menino dele, de seis anos de idade, não conseguia dormir mais sozinho no quarto e vinha sempre para o quarto dele. Perguntamos como isso aconteceu, e ele contou que quando chegaram à cidade, a Igreja alugou um apartamento para a sua família; depois, com o crescimento da Igreja, o Conselho resolveu comprar uma casa que havia na região. Ele e sua família mudaram-se para a nova casa. Na primeira e também na segunda noite que passaram na casa, eles foram acordados pelos gritos da empregada “urrando” e se batendo pelos corredores; e o menino presenciou tudo. O pessoal da região dizia que a razão estava no fato da casa ser mal assombrada. A Igreja a havia comprado porque era uma casa barata, que ninguém quis comprar. Então, uma senhora da Igreja, que tem o ministério de quebrar maldições, foi levada à casa para exorcizá-la, e o menino presenciou tudo. A mulher foi de quarto em quarto amarrando e desfazendo toda a obra maligna, etc. Daquele dia em diante o problema não se repetiu mais. Depois de ouvir o pastor, fizemos com que ele visse que estava enganado, o problema continuava. O filho dele não estava conseguindo dormir. O problema era que o menino viu tudo o que fizeram e ficou com a convicção de que mesmo no recinto de um lar, debaixo da graça e proteção do Cordeiro, a qualquer momento ele poderia ser atacado por entidades malignas. Mas o fato não é apenas que esse menino vai crescer traumatizado; o pai dele já estava obcecado e centenas de crentes no Brasil, em nossas Igrejas, vivem obcecados e com medo disso. Essa não é a maneira bíblica de ver o mundo. Essa é a visão pagã do mundo. Satanás, e não Cristo, tem se tornado o centro do ministério de muitos. Cristo deixou de ser o centro do ministério de muita gente, e o seu lugar de primazia foi ocupado pelo Diabo e sua atuação.
6. O movimento trouxe de volta uma heresia que a Igreja já havia descartado há muito tempo, o dualismo. O maniqueísmo, para ser mais exato. Como todos sabem, essa corrente de pensamento ensina que o mundo é controlado por duas forças iguais, o bem e o mal. A Igreja já condenou isso como heresia. O que acontece no mundo não é determinado pelo conflito de duas forças opostas, uma boa e outra má, como se Deus e o Diabo fossem iguais e estivessem lutando pelo controle do mundo. Pelo contrário, o ensino das Escrituras é que Deus é o Senhor; Ele tem todas as coisas debaixo do Seu controle e o Diabo não mexe um dedo sem a permissão de Deus. Ele só vai aonde Deus permite. O Diabo é apenas uma criatura, mas do jeito que ele é pintado nesse movimento parece que ele é um poder, senão igual, mas pelo menos independente de Deus. Ele faz o que quer e Deus é que tem que vir atrás para consertar. O Diabo não é um poder independente de Deus; ele só faz o que Deus permite, e Deus o usa inclusive nos Seus propósitos; é por isso que dissemos que essa teologia não brotaria no solo calvinista, reformado. Isso só poderia brotar na teologia arminiana, segundo a qual praticamente Deus não tem controle nenhum; o Diabo faz o que lhe apraz e os homens também.
7. O movimento faz uma confusão entre mal moral e mal situacional. Mal moral é o pecado, nossa atividade pecaminosa, nossa culpa, nossos erros, nossa quebra da lei; o mal situacional é a miséria do homem, o fato dele adoecer, sofrer desastres, acidentes, opressão econômica; enfim, tudo aquilo que oprime o ser humano. Quando Jesus estava aqui nesse mundo, Ele agiu de duas maneiras diante do mal: quando Ele encontrava o mal moral, ele não expulsava. Ele dizia à pessoa: arrependa-se e me siga; quando Ele encontrou uma prostituta, um Zaqueu, não expeliu nenhum demônio da ganância de Zaqueu, nem expeliu nenhum demônio de prostituição; quando se diz lá que Maria Madalena tinha sete demônios, não quer dizer que algum deles era de prostituição ou que causava prostituição. Prostituição, nas Escrituras, sempre em última análise é responsabilidade do ser humano e é por isso que Deus vem tratar com o ser humano. De nada valeu a desculpa de Eva e nem a de Adão, colocando a culpa no Diabo. Deus não Se deixou enganar, eles foram considerados responsáveis e estavam debaixo da ira de Deus. Quando Jesus encontra o mal moral, a atitude dele é de repreender, exortar ao arrependimento e mandar que as pessoas O sigam; Jesus só usa o modo ekbalístico de ministério quando encontrava pessoas aprisionadas pelo Diabo em termos de doença, pessoas epilépticas, pessoas possuídas pelo maligno. Mas quando via um mal moral Ele nunca expulsava demônios. O problema do movimento de “Batalha Espiritual” é que eles misturam as duas coisas e dizem que o ministério de expelir demônios se aplica a todas as circunstâncias. Isso não pode ser sustentado biblicamente, pois pecado não se resolve amarrando demônio; pecado não se resolve expulsando demônio. É verdade que a Bíblia diz que o Diabo nos tenta, não estamos negando esse fato; isso seria negar o que a Bíblia diz com clareza. Mas se pecamos, em última análise, a responsabilidade é nossa, somos nós que pecamos e o Diabo não vai levar a culpa disso.
Que fazer, então? - Essas são algumas críticas e preocupações. Como então a Igreja deve resistir e enfrentar esse problema? Como deve estar pronta para a batalha? Qual o ensino bíblico sobre o assunto? Começaremos dizendo que as Escrituras verdadeiramente afirmam a existência e a realidade das forças espirituais do mal. No texto que lemos, Efésios 6, Paulo fala sobre essas forças espirituais numerosas, organizadas e lideradas por Satanás. Elas são poderosas, perversas, más, astutas, inteligentes e estão em franca oposição a Deus, a Cristo e à Sua Igreja. Esse quadro é muito claro nas Escrituras e não podemos negar e nem mesmo questionar essa realidade. Nós estamos num combate, e essas forças espirituais estão presentes, continuamente nos atacando. Mas cremos que o movimento “Batalha Espiritual” deixa de ensinar o que é mais importante: Essas forças malignas já estão derrotadas. O modo como o movimento leva seus adeptos a brigar com o Diabo, a confrontar essas forças malignas, sugere que Satanás é o senhor do mundo. Assim, o ensino bíblico da vitória de Cristo tem sido colocado de lado. A Bíblia nos fala sobre isso usando uma linguagem bastante diferente, usando figura de campo semântico diferente. O ponto central é que, na cruz, Cristo ganhou a batalha contra as hostes espirituais do mal, contra Satanás. Como é que as Escrituras nos descrevem isso? Em Gênesis 3:15, está dito que viria um descendente da mulher, semente da mulher, que esmagaria a cabeça da serpente; e a Escritura não deixa dúvida que isso aconteceu na cruz do calvário. A figura de “esmagar a cabeça” não poderia ser mais apropriada ou seja: foi dado um golpe final, não há retorno, foi dado um golpe mortal. Falando uma vez sobre esse assunto, um gaúcho chegou a mim e disse: “Pastor, se o senhor quiser enriquecer esse ponto, o senhor pode acrescentar a minha experiência. Eu sou gaúcho lá dos pampas e lido com gado e a nossa experiência lá é que quando a gente esmaga a cabeça da cobra de manhã ou à tarde, ela vai ficar tremendo, se retorcendo até à noite. Mas passa o dia todo se mexendo, apesar da cabeça já ter sido definitivamente esmagada.” Essa figura ilustra bem o ensino da Escritura de que Cristo já desfechou o golpe final, não há retorno para Satanás. Em Colossenses 2: 14-15 Paulo diz: “tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz”. Essa linguagem vem do campo militar, essa idéia de despojar, de expor ao desprezo, triunfar é uma linguagem que vem das batalhas do mundo antigo. Quando um adversário era vencido ele sabia que ia ser despojado, o vencedor lhe tirava os bens, as mulheres, os filhos, o gado e ainda levava as armas do guerreiro vencido; ele era completamente despojado, ao ponto de algumas traduções modernas, em vez de dizer “despojando” dizem “desarmando”, porque esse era o sentido de despojamento. Todas as armas da cidade vencida eram levadas. A cidade era desarmada para que não houvesse outra rebelião. Várias traduções modernas dão preferência a “desarmar”, transmitindo a idéia de que Cristo desarmou, na cruz, os principados e potestades, expondo-os publicamente ao desprezo e triunfando deles na cruz. Essa figura é bastante conhecida - “o triunfo romano”; um general, voltando vitorioso para sua cidade, entrava em triunfo com os prisioneiros amarrados atrás dele. E aí as mulheres, as crianças e os velhos jogavam terra, tomate, nos derrotados. Eles eram expostos ao desprezo. O apóstolo Paulo deliberadamente está dizendo que, na cruz, Cristo desarmou os principados e potestades; é a mesma expressão de “principados e potestades” que aparece em Efésios 6. Desarmou, despojou, tirou tudo em que eles confiavam. O inimigo foi deixado despido, nu, sem nada e exposto ao desprezo. Na cruz do Calvário Cristo triunfou deles. A Escritura afirma isso de forma indiscutível. Em João 12: 31-33 Jesus diz aos discípulos: “Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso. E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo. Isto dizia, significando de que gênero de morte estava para morrer”. Nessa passagem, o Senhor Jesus Cristo está dizendo que na Sua morte o príncipe desse mundo seria expulso. Em resumo, Ele está dizendo a mesma coisa que Paulo, em Colossenses 2:14,15; e que Moisés escreveu em Gênesis 3:15. As expressões “esmagar a cabeça”, “desarmar”, e “expulsar o príncipe desse mundo” referem-se, todas elas, a Satanás. Não há qualquer referência no Evangelho de João à expulsão de demônios que Jesus tenha feito. Os relatos de expulsão de demônios estão apenas nos Evangelhos sinópticos: Mateus, Marcos e Lucas. Por que João não narra nenhuma expulsão de demônios? A resposta é a seguinte: João estava preocupado com a maior de todas as expulsões, a expulsão central. Na Sua morte, Jesus expulsou definitivamente a Satanás, o príncipe desse mundo. João, assim, não narra outras expulsões de demônios.
Voltando a Efésios 6, considerando as peças da armadura, veremos que cada uma delas nada mais é do que tudo aquilo que pertence, naturalmente, ao crente, a qualquer um: “verdade de Deus”, “justiça de Cristo”, “fé”, “evangelho” e “palavra de oração”. Não há na passagem nenhuma arma secreta. Todos os crentes em Cristo Jesus possuem essas armas. Para muitos, a armadura é o próprio Cristo. Revestir-se da armadura de Deus é a mesma coisa que revestir de Cristo, em quem estão todos os tesouros da sabedoria e da ciência. Não há nada no texto que dê margem às técnicas especiais de caça ao Diabo ensinadas pelo movimento de “Batalha Espiritual”.
A título de uma aplicação final, devemos dizer que a Igreja deve tomar duas linhas: Em primeiro lugar, precisamos estar conscientes de que estamos envolvidos numa guerra espiritual. Na realidade, conscientes da atuação dos demônios. As pessoas que estão lá fora, no mundo, estão debaixo do poder deles e a Igreja tem que ter consciência disso. Em segundo lugar, mais do que em qualquer outro momento da sua história, a Igreja deve fincar os pés na Escritura e fazer da Escritura o seu manual prático. Aquilo que não puder ser provado pela Escritura, ou deduzido de uma forma legítima da Escritura, deve ser rejeitado e colocado fora da nossa vida, da nossa Igreja e da nossa prática de ministério. A chamada da Igreja, a essa altura, é para a suficiência da Escritura, e todas as nossas práticas devem passar por esse crivo. A nossa oração a Deus, o nosso desejo é que nos Seminários, na Igreja evangélica brasileira, tomemos uma posição de firmeza sem negar a realidade dessas coisas, combatendo-as biblicamente, tomando toda a armadura de Deus que nos é concedida em Cristo. Que Ele nos abençoe!
*O Rev. Augustus é pastor presbiteriano, tem mestrado em Novo Testamento pela Potschefstroom University for Christian Higher Education, na África do Sul, e doutorado em Hermenêutica e Estudos Bíblicos pelo Westminster Theological Seminary, Filadélfia, USA. Atualmente é coordenador do Departamento de Novo Testamento do Centro de Pós-Graduação Andrew A. Jumper, em São Paulo.
(Publicado em O Presbiteriano Conservador na edição de Setembro/Outubro de 1996)
Augustus Nicodemus Gomes Lopes*
Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do Diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne e sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau, e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis. Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz; embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito, e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos, e também por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra para com intrepidez fazer conhecido o mistério do evangelho, pelo qual sou embaixador em cadeias, para que em Cristo eu seja ousado para falar, como me cumpre fazê-lo (Ef 6:10 – 20)
Quando estourou a Segunda Guerra Mundial, o conhecido John Stott era bem jovem, com idade de alistar-se no Exército. Contudo, ele se recusou a entrar no Exército Britânico e a participar da guerra. O pai de Stott, um médico que havia se alistado para combater ao lado dos aliados, ficou extremamente revoltado com o filho e cortou as relações com ele. Só depois que Stott tornou-se pastor conhecido, e começou a pregar na capela de All Souls, na Inglaterra, é que um dia, finalmente, seu pai, comovido, o procurou. Seu pai não aceitava que, naquele momento de crise para o país, as convicções pacifistas de Stott o impedissem de lutar pela sua Pátria.
Pacifismo ou guerra espiritual? - Sem entrar no mérito da questão do pacifismo, queremos apenas usar essa ilustração para dizer que não há lugar para pacifistas na guerra espiritual em que a Igreja está envolvida. A Bíblia diz que estamos num combate, estamos no meio de uma escaramuça. Não é de estranhar que no Novo Testamento a Igreja quase sempre é descrita com uma linguagem oriunda do campo militar. Muita gente hoje fala em Igreja, inclusive há essa idéia muito popular de que a Igreja é um grande hospital onde as pessoas vêm para que sejam curadas. Não queremos descartar esse lado, cremos que o Novo Testamento nos dá base para afirmar que há espaço entre o povo de Deus para a cura interior. Aliás, muita gente vê a Igreja desta maneira, como um grande sanatório, onde nossas esquizofrenias espirituais são tratadas pelo pastor ou por uma equipe.
O problema com essa visão é que ela não leva em consideração que, no Novo Testamento, a Igreja é vista como um exército que marcha, um exército que está em plena campanha, um exército que está em batalha. Há muitos que estão na Igreja há tantos anos esperando para que sejam curados de suas feridas. Talvez o que esteja faltando seja uma palavra como: “Irmão, toma a tua armadura e vai para o campo de combate”. Há irmãos que são doentes profissionais na Igreja. Estão ali e vão ficar ali a vida toda. Na realidade, o quadro de Igreja que vemos no Novo Testamento é o de uma Igreja militante. Não é por acaso que os nossos teólogos entendem a Igreja como sendo a Igreja militante e a Igreja triunfante. Militante porque está em luta, está em combate, está em conflito, contra as hostes do mal, contra o pecado, e contra o mundo.
Entendendo o contexto de Efésios 6 - O texto lido é o mais detalhado do Novo Testamento sobre a militância da Igreja, sobre o seu conflito com as hostes das trevas. Antes de analisar esse texto propriamente dito, para aprender dele o conceito do apóstolo Paulo quanto ao conflito cristão e à guerra em que estamos envolvidos, é importante entender a situação em que o apóstolo escreveu estas palavras. Seguindo regras simples de interpretação, observamos que quando vamos pregar sobre um texto, ou quando vamos estudar uma passagem, é sempre bom levar em conta o quadro maior. E aqui, no caso desse texto em particular, isso é extremamente importante. Essa passagem tem sido mal usada por pessoas que defendem as mais loucas idéias que você possa imaginar na área de conflito ou batalha espiritual. Contudo, quando nos colocamos dentro do contexto e da perspectiva da carta, temos uma visão privilegiada do ponto de vista do autor.
Não é mistério para ninguém que quando Paulo escreveu a carta aos Efésios estava preso em Roma, mas, mesmo assim, desejava confortar os que sabiam da sua prisão. Não sabemos exatamente todos os detalhes. A carta aos Efésios é uma das que mais se revestem de mistérios, especialmente no que respeita ao propósito de Paulo ao escrevê-la. Pessoalmente, cremos que ele a escreveu para explicar à Igreja de Éfeso, e talvez a outras Igrejas da região, o fato de que Deus havia permitido que ele, mesmo sendo o apóstolo designado para pregar aos gentios, tivesse sido lançado na prisão de Roma, ficando impedido, assim, de realizar o seu ministério. É isso que ele diz no capítulo 3, no verso 13: “Portanto, vos peço que não desfaleçais nas minhas tribulações por vós, pois nisso está a vossa glória” O propósito de Paulo era mostrar que aquilo que para os efésios, e possivelmente para as Igrejas daquela região, era motivo de dúvida, questionamento ou perturbação, na realidade representava a glória deles. E ele faz isso expondo a doutrina da Igreja, mostrando o propósito de Deus para a Igreja.
No capítulo primeiro, mostra como Deus, em Cristo, reuniu todas as coisas, apresentando a Igreja como representação disso; ele mostra como, em Cristo Jesus, a Igreja foi abençoada com toda a sorte de bênção espiritual e foi selada pelo Espírito Santo (vs. 3). No segundo capítulo, ele mostra que Deus fez isso em termos práticos, chamando-nos pela graça quando estávamos mortos em ofensas e pecados. Depois, ainda no segundo capítulo, ele mostra a união de judeus e gentios formando um único povo, a Igreja, desfazendo a diferença ou barreira entre judeus e gentios. Deus não tem dois povos. Deus tem um único povo: a Igreja, que é composta de judeus e gentios convertidos. No terceiro capítulo, Paulo fala da sua função, como apóstolo, no propósito eterno de Deus de revelar o mistério de Cristo que outrora havia estado oculto, mas que tinha sido revelado através dos apóstolos e da pregação da Palavra, na vinda do Senhor Jesus. Paulo mostra que estava sofrendo exatamente por causa disso, e que o sofrimento dele fazia parte desse eterno propósito de Deus; e nisso estava a glória dos efésios e de tantos quantos lessem a carta que, possivelmente, era uma carta circular. E, a partir daí, ele fala, no quarto capítulo, sobre a unidade da fé através do ministério dos apóstolos, dos profetas, dos evangelistas e dos pastores e mestres. Ainda no quarto capítulo, ele começa a traçar as implicações práticas de tudo que ele havia feito, mostrando, a partir da metade do capítulo, como os efésios deveriam andar, à luz desse contexto. Então ele trata da santificação, uma vida pura diante de Deus. No quinto capítulo, trabalhando na mesma direção, Paulo trata da vida conjugal. No sexto capítulo, ele fala sobre a criação de filhos, sobre a vida na sociedade, e, por fim, conclui exortando a Igreja a se preparar contra as astutas ciladas do inimigo. Os efésios ouviram tantas coisas maravilhosas a respeito do que eles eram em Cristo Jesus, do que Deus providenciou para eles, do plano eterno; e certamente devem ter ficado tão cheios de alegria e de gozo que Paulo sentiu a necessidade de dizer: “irmãos, nós ainda não chegamos lá, vocês vão encontrar oposição no mundo para viver como Igreja de Deus, para experimentar em termos práticos, definidos, completos tudo isso que Deus tem para vocês”. Ele disse então: “irmãos, vocês vão encontrar oposição, não de homens de carne e sangue como nós, mas dos principados e potestades que estão nos lugares celestiais que querem nos destruir. Portanto, vocês têm que tomar toda a armadura de Deus para poder resistir às tentativas dessas forças que hão de tentar impedi-los na carreira cristã”. Então, quando olhamos para o capítulo 6 de Efésios, particularmente os versos 10 a 20, com a perspectiva da carta como um todo, à luz da eclesiologia de Paulo nessa Carta, algumas lições se tornam evidentes para nós no que respeita à questão da batalha espiritual. Em primeiro lugar, devemos ver que o propósito de Paulo no capítulo seis é ensinar a Igreja a resistir. Esse é o seu ponto principal. Não é difícil provar isso. Se vocês derem uma olhadinha no texto que lemos, a ordem principal é: “ficai firmes”. O imperativo aparece três vezes, no versos 1, 13 e 14 “Ficai firmes” é a exortação de Paulo.
Combate ou resistência? - Essa passagem tem sido descrita por alguns como sendo uma convocação ao combate. Contudo, ela seria melhor descrita como uma exortação a que a Igreja resista. Outra coisa que a gente observa é que o soldado cristão, aqui descrito, está numa posição de defesa. O soldado que é descrito aqui, a partir inclusive da descrição das armas que lhe são dadas, não está partindo para o combate, para conquistar novos campos ou para assaltar o inimigo, ou para derrubar uma trincheira. Na realidade, ele já conquistou, já venceu, já colocou o pé em território inimigo. O que ele tem que fazer é resistir firme, esse é o peso da passagem que se coaduna com tudo que nós vimos até agora. A Igreja, na Carta aos Efésios, já é vitoriosa, já está assentada com Cristo nos lugares celestiais, como Igreja invencível e imbatível. Cristo já venceu todas as batalhas por ela. Paulo começa a tratar dessa batalha (Ef 6:10) dizendo: “Sede fortalecidos no Senhor e na força do Seu poder”. Essa expressão aparece no capítulo primeiro, quando Paulo ora, no verso 18, para que fossem iluminados os olhos do entendimento daquela Igreja e o coração para que soubessem qual era a esperança da vocação deles, qual era a riqueza da glória da herança dos santos e qual era a suprema grandeza do seu poder para com os que crêem, segundo a eficácia da força do Seu poder.
Assim, Paulo exorta a Igreja a que se apodere da vitória de Cristo, daquele poder que ressuscitou Cristo dentre os mortos e O colocou à direita de Deus nos lugares celestiais. Portanto, o guerreiro que está descrito aqui já é vencedor, já conquistou, já colocou o pé no solo inimigo. O que Paulo manda é que esse guerreiro resista às tentativas do inimigo de recuperar aquilo que ele já perdeu e que foi tomado pelo nosso Capitão, o Senhor Jesus. Estamos destacando esse ponto porque uma das ênfases do movimento de “Batalha Espiritual”, que vamos considerar mais detalhadamente, é que a Igreja deve entrar em conflito direto com os principados e potestades. Eles mudaram as coisas. Para eles, não somos nós que somos caçados pelo Diabo; antes, nós é que temos que sair caçando o Diabo. Mas vejam que o que Paulo está dizendo nesse texto não é isso. Ele está dizendo é que nós já somos vencedores. Mas ainda assim, o movimento de “Batalha Espiritual” insiste em que os crentes saiam caçando o Diabo para tomar o território dele, para derrubá-lo, para conquistá-lo e implantar a doutrina de Cristo nesses locais todos. Como se tudo já não fosse de nosso Senhor e como se o Diabo já não fosse um inimigo derrotado. Voltaremos a esse ponto porque ele requer mais detalhes. Mas esse é o ponto principal que gostaríamos de enfatizar e que fica claro quando se vê essa passagem à luz do seu contexto. Paulo não está mandando a Igreja partir para tomar qualquer ofensiva contra demônios. Pelo contrário, a Igreja, segundo ele, já é vencedora. Sua recomendação, portanto, é para que ela resista aos ataques que lhe são feitos. Esse é um ponto de grande importância que devemos guardar em mente.
Origens do movimento - Agora, a grande pergunta, naturalmente, é: Como podemos resistir? Vamos considerar, em primeiro lugar, a resposta do movimento de “Batalha Espiritual”, como é conhecido em nossos dias. Vamos dizer, brevemente, o que eles pensam sobre o assunto, depois ofereceremos uma análise de tudo e, finalmente, apresentaremos uma alternativa bíblica quanto ao tema. Vamos começar, então, entendendo o que é esse movimento de “Batalha Espiritual” e a que ele se propõe. Em nossas pesquisas, não encontramos, com muita segurança, a origem do movimento, a não ser uma informação de um dos seus defensores que diz que o movimento teve as suas origens em um missionário americano chamado J.O. Fraser, na década de 30. Fraser foi missionário na China, pela “Missão para o Interior da China”, fundada por Hudson Taylor. Seu trabalho se restringia a uma tribo no interior da China envolvida com ocultismo, práticas de feitiçaria, e magia negra. Fraser, no início do seu ministério, fracassou redondamente. Ele não conseguia libertar aqueles chineses incultos e bárbaros das suas superstições mágicas e das suas tradições de feitiçaria e ocultismo. Notava que os seus convertidos não conseguiam realmente se libertar da influência dos espíritos dos demônios. Então ele começou a tentar na forma empírica, isto é, na base da tentativa de erro e acerto, achar uma maneira de combater esses demônios. Ele entendia que a sua luta não era mais com os convertidos; então, queria ir direto à causa. Assim, achou que seu negócio era com os demônios, e começou a desenvolver uma técnica, uma estratégia para anular, para eliminar, ou para impedir a atuação dos demônios nos convertidos; impedir a ação dos demônios que emperravam o trabalho da Igreja. Depois de várias tentativas, Fraser deixou de lado as Escrituras e desenvolveu um método na base do pragmatismo, ou seja: se funciona, está certo. Foi assim que ele entendeu ter encontrado o caminho do sucesso, em termos de invadir os territórios dos demônios e amarrá-los.
Fraser era um missionário, uma pessoa desconhecida, portanto as técnicas e o trabalho dele ficaram desapercebidos até que a irmã dele publicou, trouxe à luz, as cartas que ele havia escrito, e as anotações dele sobre o assunto. A partir daí, a coisa passou para o domínio público. Isso teria acontecido no começo da década de 30.
Divulgadores atuais - Um nome bem mais conhecido, Frank Perreti, popularizou essas idéias no mundo todo. Peretti, com dois romances entitulados: “Este Mundo Tenebroso”, descreve a luta espiritual de uma pequena comunidade de uma cidade dos Estados Unidos para impedir que os espíritos malignos daquela região se apoderassem da cidade. Ele narra, então, de forma muito bem escrita, uma estória que se passa em um local fictício e com personagens fictícios. Esse livro foi um best seller nos Estados Unidos e já foi traduzido para quase todas as línguas ocidentais. Peter Wagner, o maior nome do movimento de “Batalha Espiritual”, agradece publicamente a Peretti dizendo que nós devemos mais a Peretti do que a qualquer outro autor a difusão da idéia do movimento de “Batalha Espiritual” no mundo todo.
Peter Wagner foi professor e missionário na América Latina durante alguns anos. Então, ele voltou aos Estados Unidos para ensinar no Centro de Missões no Seminário Fuller e voltou com convicções pentecostais. Ele estava convencido das coisas que viu na América Latina. A princípio ele era bastante conservador e contra todas as manifestações pentecostais e carismáticas. Mas ele viu alguma coisa na América Latina que virou a cabeça dele. Assim, ao voltar para o Fuller, estava absolutamente comprometido com essas manifestações. Depois de algum tempo, tomou o lugar de Donald McGavran, que é o fundador do movimento de “Crescimento de Igreja”. Peter Wagner tomou o lugar de McGavran, que era mais moderado, e difundiu não somente a idéia do movimento de “Crescimento de Igreja”, mas associou a idéia de fazer a Igreja crescer com sinais e prodígios. Ou seja, ele acha que no mundo de hoje não tem jeito de fazer a Igreja crescer se não houver sinais e prodígios. Nós vivemos numa época pós-moderna onde ninguém valoriza o conceito de certo ou errado. O que vale hoje é a experiência, o que você sente; e, portanto, a única coisa que a Igreja tem para oferecer como principal chamariz, diz Wagner, é exatamente a produção de sinais e prodígios.
Riso, urro e vômito “santos” - O Seminário de Fuller comprou a idéia e abriu um curso chamado: “Crescimento de Igreja, Sinais e Prodígios” onde quem dava aula eram Peter Wagner e John Wimber, o fundador do movimento “A Videira”, uma das denominações carismáticas que mais cresce nos Estados Unidos hoje e de onde saiu a Igreja da “Bênção de Toronto”. Já ouviu falar da “bênção de Toronto”? A “bênção de Toronto” é a “gargalhada santa”, o “riso santo”. Quando a Igreja de Toronto começou com a “gargalhada santa”, John Wimber foi lá, não sabemos se Peter Wagner foi também, mas eles trabalhavam juntos. John Wimber foi lá e disse: “Isso é uma obra do Espírito Santo”. Ele deu todo apoio à “bênção de Toronto”. No Natal do ano passado, acrescentou-se alguma coisa ao “riso santo” - o “urro santo”. Aqueles irmãos começaram não somente a rir, mas a berrar, a urrar, a grunhir e a latir. A justificativa dada, no caso dos que urravam como leão, é que o berro é o urro de indignação de Deus contra o pecado da Igreja, porque no livro de Amós, Deus se apresenta como um leão e, portanto, quando o Espírito vem sobre alguém ele urra em indignação contra o pecado da Igreja. Tudo bem! Mas e o cachorro? A coisa ficou tão feia que John Wimber voltou lá, disse que o movimento não era mais do Espírito Santo e cortou a Igreja de Toronto da comunhão. Ele fez isso no Natal do ano passado. Recentemente, o Dr. Michael Horton, que esteve aqui no Simpósio dos Puritanos em Águas de Lindóia, disse que o último desdobramento do movimento é o “vômito santo”. De acordo com o “vômito santo”, quando a pessoa está vomitando no Espírito quer dizer que ela está expelindo, na linguagem deles, todos aqueles espíritos malignos, todos aqueles pecados e coisas que estavam neles.
Queremos fazer apenas um parêntese para dizer o seguinte: Se não houver o freio da Escritura, se não houver limite, ninguém sabe onde isso vai parar. Até o próprio John Wimber disse: “Tem hora que tenho que dizer basta”. Tem muita gente entusiasmada com esse tipo de movimento, mas nós já podemos ver o fim deles, o que vai acontecer. Porque o movimento que não se baseia exclusivamente na Palavra de Deus, que não parte da suficiência da Escritura, e não se submete ao crivo da Bíblia, não tem cerca.
O movimento no Brasil - O que está acontecendo em Toronto e em outros lugares nos Estados Unidos, infelizmente, é o que irá acontecer, segundo cremos, no Brasil. Com o rumo que o movimento de “Batalha Espiritual” está tomando hoje, no mundo todo, precisamos ficar apostos quanto à nossa Igreja.
Peter Wagner que defendeu o crescimento de Igreja com sinais e prodígios, abraçou logo em seguida a idéia de batalha espiritual como sendo necessária para fazer sua Igreja crescer. Não estamos dizendo que todo mundo que defende o movimento de crescimento de Igreja também é do movimento de “Batalha Espiritual”. Mas é preciso ficar claro que existe essa relação entre as duas coisas e você tem que ficar de olho aberto para entender bem o que está acontecendo no movimento de crescimento de Igreja, junto com batalha espiritual. Não estamos dizendo que são todos, mas na pessoa de Wagner e de muitos outros você vai encontrar esta fusão. Assim, Wagner pode ser visto como o teólogo do movimento. No Brasil, ele ganhou muitos adeptos; o mais conhecido é a Drª. Neusa Itioka, que é membro da equipe da SEPAL e que se tornou conhecida pela publicação do seu livro: “Deuses da Umbanda”, que na realidade foi sua tese de doutorado em Missiologia no Seminário de Fuller. No livro “Deuses da Umbanda”, Neusa Itioka coloca nomes nos demônios que controlam o Brasil, e a grande crítica que se faz contra ela é quanto à fonte de informação que usou para descobrir os nomes dos demônios, porque a Bíblia não dá nome a nenhum demônio. À exceção daquela legião, que simplesmente quer dizer “muitos”, e de Satanás, a Bíblia não dá nome a demônio nenhum. Como, então, Neusa Itioka sabe os nomes dos demônios que estão no Brasil? A resposta dela é que soube disso através de informação de pessoas endemoninhadas em tratamento no seu gabinete. Mas, desde quando o testemunho de pessoa endemoninhada ou o testemunho de demônios pode servir de base para formulação doutrinária? Outra pessoa também que tem difundido muito essa idéia, embora menos teologicamente, é a conhecida Valnice Milhomens, através dos seus escritos e especialmente através dos seus simpósios e programas de televisão. Além disso, centenas de simpósios sobre batalha espiritual, conferências sobre o assunto e uma grande quantidade de literatura, a maior parte traduzida do inglês para o português, têm divulgado o movimento no Brasil
Em primeiro lugar, gostaríamos de dizer, antes de fazer uma análise seguida de uma crítica do pensamento deles, que não estamos negando nem a sinceridade, nem a honestidade, nem o desejo de servir a Deus e nem mesmo a conversão de quem quer que seja. Estamos tratando as coisas no campo das idéias. Não estamos dizendo que porque alguém abraçou o movimento de “Batalha Espiritual” não é crente. Não estamos dizendo que Neusa Itioka não é crente, que Valnice e Peter Wagner não são crentes. Ao tratar desse assunto, que Deus nos dê humildade e também dor no coração para com a situação.
Demônios especialistas - Fica difícil dizer o que eles crêem por causa das divergências existentes entre si. Mas há uma base na qual todos eles se firmam. Em um livro que está para ser publicado pela Casa Editora Presbiteriana, o autor faz uma distinção que nos ajuda muito. Ele colocou o dedo no ponto crucial da “Batalha Espiritual”: O conceito de que todo mal que existe no mundo, qualquer que seja sua natureza, quer seja mal moral, pecado, desastre, etc. é causado pela ação direta de um ou mais demônios que são especialistas em causar aquilo. Portanto, a única solução apresentada por eles é um ministério ekbalístico. (que quer dizer “lançar fora”, “expelir”). Para o pessoal do movimento de “Batalha Espiritual”, o único modo possível de ministério é o ministério ekbalístico, já que tudo que aflige o indivíduo, a Igreja, e a sociedade é produzido pela interferência, pela atuação e pela influência de demônios. Assim, a solução só pode ser uma: amarrá-los, controlá-los, proibi-los, repreendê-los, etc. Então, se você compreende isso, você já conhece a porta de entrada para o movimento de "Batalha Espiritual".
Com essa base, será possível entender tudo o que eles fazem. O ministério ekbalístico refere-se, então, àquele tipo de ministério crido e exercido por muitos pastores no Brasil: a expulsão de demônios. Isso é visto por eles como a arma principal da Igreja, talvez a única arma para resolver todos os problemas da Igreja e da sociedade. Vamos supor: alguém está sofrendo de pensamentos sensuais, é crente, não consegue se livrar de pensamentos lascivos, devaneios eróticos, imagens contra as quais venha lutando, etc. Se essa suposta pessoa for a um conselheiro ekbalístico ele vai dizer o seguinte: “Isso está acontecendo porque tem um demônio entrincheirado na sua vida e que está produzindo esse tipo de coisa e você não vai resolver o problema enquanto você não expelir esse demônio da sua vida”. Então, possivelmente, o que vai acontecer é que vai haver uma sessão de exorcismo onde o conselheiro vai repreender o demônio e mandar que saia e o cidadão vai embora sentindo-se bastante aliviado. Possivelmente os pensamentos vão voltar, a pessoa vai regressar e repetir o mesmo processo por umas duas ou três vezes. Finalmente, o conselheiro ekbalístico vai dizer: “Você tem que aprender você mesmo a expulsar o demônio”. Eles ensinam, então, uma técnica para localizar o demônio fisicamente na parte do corpo em que ele se encontra, colocar a mão ali e ordenar que o demônio saia em nome de Jesus. Assim a pessoa passa a se automedicar, expelindo os demônios todas as vezes que eles voltam. Essa é a abordagem deles. Contudo, se o mesmo suposto personagem for a um conselheiro bíblico, a interpretação será outra. O conselheiro dirá: “Meu filho, comece a queimar as revistas ‘Playboy’ do seu quarto, depois pára de ver esses filmes com figuras e pensamentos eróticos, pára de andar com certas companhias que provocam a sua sensualidade, começa a lutar sério com isso, aprenda a orar, pedir a Deus que lhe guarde, tenha uma vida reta, toma muito banho frio, joga bola, e aprenda que o caminho para se libertar disso é chamado pela Bíblia de ´santificação`, um processo árduo que exige a mortificação da natureza humana” O fato de “amarrar” um ou mais demônios não vai resolver isso. Como se vê, o ponto principal do movimento de “Batalha Espiritual” é o conceito de que todos os problemas do indivíduo, da Igreja, e da sociedade são causados por demônios que estão instalados em posições estratégicas e geográficas cabendo à Igreja a responsabilidade, segundo o movimento, de ir a esses demônios e anular a atuação deles. Essa é a base do pensamento, é a porta de entrada para a teologia de batalha espiritual deles.
Espíritos territoriais - Como já mencionamos, temos que compreender esse conceito de espíritos territoriais. Há um livro que foi editado por Peter Wagner, recentemente publicado, onde ele fala sobre esses espíritos. Para eles, os espíritos ocupam determinados territórios geográficos, regiões que podem abranger países, estados, cidades, bairros, e até casas e ruas. A idéia é que para cada região geográfica existem um, dois ou três demônios responsáveis pelo pessoal que mora ali. O trabalho deles é cegar as pessoas, levá-las à perdição e impedir que a Igreja penetre ali. Esse seria o trabalho dos espíritos territoriais. O alvo deles é cegar as pessoas daquelas regiões, pelas quais eles são responsáveis, através do ocultismo, Nova Era, astrologia, satanismo, uso de pirâmides, cristais, bruxaria, macumba, etc. O segundo objetivo desses demônios seria oferecer total resistência aos esforços da Igreja para entrar naquela área, impedir a abertura da área para a entrada da Igreja. Para isso eles cegam e oprimem os crentes. No caso mais extremo, alguns defensores de “Batalha Espiritual” crêem na possessão demoníaca dos crentes. O crente poderia ficar possesso, segundo eles. Neusa Itioka, partindo de um estudo de Gilberto Piker, procura fazer distinção entre possessão e demonização. Ela não aceita que o crente possa ser possuído, mas acredita que pode ficar demonizado. Neusa está trabalhando em cima de uma distinção que foi feita por Gilberto Piker, no seu livro sobre guerra espiritual. Parece-nos bastante infeliz essa idéia e sem qualquer apoio na língua grega. Ele acha que temos traduzido daimonitzo, que é o verbo para indicar possessão, de uma forma errada. Segundo ele, a tradução correta seria “ficar demonizado”. Assim, Piker entende que possessão significa estar totalmente sob o controle do Diabo e demonização significa que um demônio entrou na vida de alguém e ocupa uma área. Então, enquanto alguns diriam que o crente pode ficar totalmente possesso, como Neuza Itioka, Gilberto Piker, fala em demonização de áreas da vida em que o demônio pode chegar e se entrincheirar e de onde só sairá através do ministério ekbalístico. Os demônios fariam isso na Igreja para impedir o seu avanço, atacando pregadores, promovendo pecados de divisão e semeando confusão.
Outro ponto interessante é que, segundo eles, o quartel general dos demônios, o território que eles chamam de “trono de Satanás” está localizado em um ponto geográfico. Quando Peter Wagner esteve aqui no Brasil, convidado pela Comissão Nacional de Evangelização da Igreja Presbiteriana naquela época, ele defendeu abertamente em Campinas a idéia de que estas regiões têm um local geográfico, que é conhecido como “trono de Satanás”, onde o líder dos demônios daquela região tem o seu quartel general e de onde controla os seus subordinados que cegam as pessoas e oferecem resistência à Igreja. Por conseguinte, a Igreja não pode progredir, crescer e evangelizar enquanto não neutralizar estas forças espirituais cósmicas. Seria inútil a Igreja começar uma campanha de evangelização numa nova área sem primeiro neutralizar esses espíritos territoriais que estariam ali entrincheirados. Primeiro temos que amarrar o valente e depois é que podemos saquear a casa. Essa é a estratégia missionária do movimento de “Batalha Espiritual” associada com o crescimento da Igreja. Primeiro tem que neutralizar os demônios, neutralizar suas fortalezas, tirar-lhes o domínio daquela região, e só assim a Igreja vai poder entrar, evangelizar e conquistar as pessoas para Cristo. A Igreja não deve ficar na defensiva. A reflexão inicial que fizemos sobre Efésios 6, mostrando que a Igreja já é vitoriosa e está na defensiva, essa nossa posição é totalmente inaceitável para eles. Segundo o movimento, temos que sair caçando Satanás, derrubando esses territórios, neutralizando a ação dos demônios e travando uma batalha cósmica nas regiões celestes.
Técnicas contra os espíritos - Segundo Wagner, nem todo mundo pode ser um guerreiro de oração, se não estiver preparado. Satanás vai devorá-lo no café da manhã. Como ninguém quer ser devorado por Satanás no café da manhã, os crentes vão em massa para o simpósio de “Batalha Espiritual” aprender com os “peritos” as estratégias e as táticas para enfrentar o inimigo e conquistar seus territórios. Esses “peritos” ensinam aos crentes os segredos de como atacar, nas regiões celestiais, essas forças espirituais. J.O. Fraser, na década de 30, não tinha idéia do que o seu pensamento iria produzir no século XX.
O que a Igreja deve fazer, segundo o movimento? Em primeiro lugar, fala-se muito em mapeamento espiritual. A idéia é que assim como se pode ir para uma cidade e mapear as suas diversas localidades e os seus acidentes geográficos, pode-se, também, fazer um mapa das regiões celestiais. Chamam isso de “mapeamento espiritual”. Dizem que há uma superposição do que está acontecendo nas regiões celestes com o que está acontecendo na terra. O mapeamento espiritual consistiria em descobrir basicamente duas coisas: a) onde estão localizados os demônios que controlam uma determinada região; b) quais os nomes deles. A idéia é que o conhecimento do nome do demônio dá poder sobre ele. Por isso dão tanta ênfase à necessidade de conhecer o nome dos demônios. Essa idéia veio, possivelmente, do gnosticismo antigo que o Dr. Horton chamou de “tecnologia espiritual”. Os gnósticos acreditavam que quando você tinha determinado conhecimento, você tinha controle de Deus e podia ter acesso a ele quando quisesse. Isso, portanto, é um reavivamento de certos aspectos do gnosticismo antigo, quando se conhece o nome de um demônio tem-se autoridade sobre ele.
Quanto à questão do trono de Satanás, Wagner ensinou um método para localizá-lo e derrubá-lo. Primeiro, toma-se o mapa da região, divide-o em quadros e anda-se por eles orando em cada um deles. Na área em que a maior opressão se manifestar, onde se torna quase impossível orar, é que está a maior concentração de demônios e ali, possivelmente, estará o trono de Satanás. O que deve ser feito é a promoção de uma corrente de oração trazendo guerreiros de oração para que derrubem o trono de Satanás. Uma vez feito isso, a região estará livre e poderá ser evangelizada com sucesso. No livro “Espíritos Territoriais” há uma ilustração interessante: Havia um cidadão na fronteira do Brasil com o Uruguai. No Uruguai, ele recebeu um folheto, mas ao lê-lo, nada aconteceu. Quando o cidadão cruzou a fronteira e entrou no Brasil, ele se converteu. Explicação dada: “Os demônios do lado do Uruguai não estavam amarrados, ao passo que, no lado brasileiro, eles estavam amarrados”. Segundo eles, ninguém se converte enquanto essas entidades não forem anuladas. Essa é a implicação do conceito do movimento de que todo mal existente no mundo é causado pela ação direta de um demônio. Portanto, a solução sempre seria a de atacar os demônios com um ministério ekbalístico. Então, esses simpósios ensinam fazer mapas espirituais; localizar e derrubar o trono de Satanás; orar intercessoriamente, em voz alta, determinando a queda das fortalezas; amarrar demônios pela palavra, especialmente os demônios ligados a certas atividades como embriaguez, vícios em geral, uso de drogas, etc.; dar ordens diretas aos demônios, repreendê-los e mandá-los para o abismo.
Quebrando maldições - Um desenvolvimento recente encontra-se na questão da maldição hereditária. Essa ênfase tem sido dada por Valnice Milhomens, Neusa Itioka, Jorge Linhares e Robson Rodovalho; este, da Comunidade de Goiânia. Eles entendem que os demônios passam a ter autoridade na vida de uma pessoa quando alguém lança uma praga. Por exemplo, quando um pai diz a um filho: “menino, que o Diabo te carregue!”. Por causa disso, o demônio vai controlar a vida desse menino e mesmo que ele se converta, se não se quebrar essa maldição, ele não conseguirá ser feliz porque ela o acompanhará pelo resto da vida. Assim, palavras descaridosas dos pais, xingamento, coisas más que são ditas, dariam autoridade aos demônios sobre as pessoas. Jorge Linhares conta que comprou um carro novo e, viajando, atropelou um coelho; na semana seguinte, atropelou um cachorro; na terceira semana, um passarinho bateu no parabrisa e morreu. Então ele orou: “Senhor, eu quero saber o que está acontecendo, tem alguma coisa errada com esse carro”. Ele diz em seu livro que o Espírito Santo revelou-lhe que aquele carro estava amaldiçoado e que ele devia quebrar todas as maldições; então ele foi e anulou todas as maldições que havia naquele carro. Qual é a conclusão lógica? Quando chegou em casa ele saiu de quarto em quarto anulando a maldição do refrigerador, da televisão, da mesa, etc. Isso porque ele cria que o Espírito tinha lhe revelado que o carro estava amaldiçoado porque foi produzido numa fábrica de ímpios. Há pessoas que crêem seriamente nisso e estão fazendo isso mesmo.
Robson Rodovalho ensina que para anular maldições hereditárias deve-se traçar uma árvore genealógica com todos os ascendentes e investigar a vida de todos os antepassados para saber se eles fizeram algum pacto com o Diabo, se há algum pecado que se repete na família o tempo todo, como separação, ou outra característica da família; e então, ensina o que fazer para quebrar essas maldições.
Pontos positivos - Gostaríamos de fazer uma breve avaliação do ensino do movimento de “Batalha Espiritual” e oferecer uma alternativa bíblica para a questão. Tentaremos cobrir os pontos básicos: Primeiramente, vamos fazer uma avaliação positiva do movimento. Há pelo menos três coisas boas em tudo isso:
a) a conscientização que esse movimento vem trazer à Igreja da realidade do poder e da atuação das hostes espirituais da maldade. A tendência e a tentação das igrejas reformadas calvinistas têm sido a de esquecer-se de que a luta não é contra carne e sangue, mas contra principados e potestades. Às vezes, a ênfase na igreja reformada calvinista é muito forte na questão do conhecimento, do treinamento doutrinário, e da precisão teológica na mente. Por vezes pensamos que qualquer coisa no reino de Deus sempre se processa no campo das idéias. Sem, naturalmente, querer desmerecer esta verdade, precisamos destacar que o verdadeiro calvinismo ensina a importância de uma mente preparada, sem se esquecer do valor de um coração aquecido, um coração em chamas pelo Evangelho, por amor a Deus, amor à Igreja, amor à glória de Cristo, que deseja ver essa glória espalhada pelo mundo. Não podemos dissociar essas duas coisas. Se ficarmos só na questão intelectual seremos reformados frios; e o que tem acontecido é que esta frieza tem entrado nas igrejas. Em outros países, onde estudamos, professores de seminários não acreditam em possessão demoníaca. Eles não têm nenhuma preocupação com o que a Escritura diz com respeito às astutas ciladas do Diabo. O fato de que Satanás anda ao nosso redor como leão que ruge, procurando a quem possa devorar, não desperta neles a menor preocupação. Tudo isso é considerado como sendo coisa do período apostólico e que cessou. Há, portanto, esse perigo e certamente esse movimento vem nos conscientizar dele.
Quando Paulo escreveu a carta aos Efésios, ele estava preso e, portanto, impedido de prosseguir na evangelização. Entretanto, Paulo não via a coisa apenas do ponto de vista meramente humano. Ele estava preso porque o imperador o havia abrigado como preso político e porque os judeus o entregaram ao imperador. Mas Paulo, ao analisar a situação, vê além disso. Ele sabia que por detrás do imperador e dos judeus que o colocaram ali, estavam forças espirituais da maldade nos lugares celestiais. Às vezes a Igreja esquece esse aspecto. É claro que o extremo oposto é de gente que vê o Diabo em tudo, em qualquer coisa, mas o outro extremo é esquecer da existência da atuação, da realidade dessas forças malignas ao nosso redor. Cremos que esse movimento, mesmo sendo definitivamente estranho aos ensinos bíblicos, pode nos ajudar a corrigir a nossa tendência de ir aos extremos.
b) O segundo ponto positivo é o zelo evangelístico. Como vimos, esse movimento nasceu no campo missionário, numa tentativa de ganhar pessoas para Cristo, libertá-las e levar o Evangelho a elas. É verdade que hoje o moderno movimento de crescimento de Igreja já perdeu muito desse zelo missionário de ir a outros povos e praticamente se tornou uma metodologia urbana de igrejas grandes; mas as raízes do movimento são missionárias e esse pessoal, muitos deles, têm um zelo muito grande no trabalho de ganhar as pessoas para Cristo e levá-las ao conhecimento de Deus. Isso vem fustigar, às vezes, a mornidão e indiferença das igrejas reformadas; a acomodação que vem às igrejas calvinistas que não têm visão missionária. Esse pessoal tem essa preocupação, alguns com motivos errados, mas pelo menos a preocupação existe.
c) Uma terceira coisa é a ênfase que eles dão à oração. Eles estão orando pela coisa errada, mas pelo menos acreditam que pela oração podem fazer alguma coisa. Sabemos que é Deus quem faz todas as coisas, mas também sabemos que Deus manda, em Sua Palavra, que oremos e que a Igreja ore e que interceda. Paulo mostra isso no final do capítulo seis de sua carta aos Efésios, ao pedir que a Igreja estivesse orando em todo o tempo no Espírito por todos os santos e também por ele para que lhe fosse dada a Palavra. Assim, embora o movimento de “Batalha Espiritual” tenha a ênfase errada, a vida de oração que ensina serve de chicote de Deus para nós.
Talvez um lugar onde seja mais fácil negligenciar uma vida de oração seja no seminário. Quando o seminarista chega ao seminário, calouro, feliz, ele ajoelha toda noite e sabe de cor o nome de todos os membros da sua Igreja, dos seus amigos e a favor de cada um ora de joelhos durante o seu primeiro ano. No segundo, ele já não conhece os nomes de cor e prepara, então, uma lista. Então, à noite, ele se ajoelha, pega a lista e diante de Deus lê o nome daquelas pessoas e pede que Deus as abençoe. No terceiro ano, ele já pregou a lista na parede. À noite, ele se ajoelha e diz: “Senhor, abençoa os nomes que estão nessa lista”. Esse movimento vem nos lembrar que sem oração, sem buscar a Deus, sem obedecer a ordem das Escrituras de que temos que orar Deus não nos abençoará.
Erros do movimento - Agora, ao mesmo tempo em que destacamos esses pontos positivos, temos também alguns questionamentos sinceros, algumas preocupações verdadeiras; mas, antes de apresentá-las, queremos dizer duas coisas: Primeiro, cremos na realidade e na atuação dos demônios conforme o ensino bíblico. Não entendemos que toda atividade demoníaca foi restrita ao período apostólico, não há base para dizer isso. Segundo, cremos no poder da oração e cremos que o crente fortalecido no Senhor, na força do seu poder, é capaz de enfrentar e vencer as tentações do Diabo.
Agora vamos ver algumas críticas. São seis ou sete observações. A ordem que vamos seguir não tem que ver com a ordem de importância, mas a primeira merece destaque:
1. Apesar do tom de autoridade desses “peritos”, o que eles falam, a grande maioria das estratégias propostas, não tem base bíblica. Suas técnicas parecem mais com um misticismo exagerado. Por exemplo, onde, na Bíblia, vamos encontrar uma orientação, uma ordem do Senhor Jesus, para que os apóstolos e a Igreja localizassem e derrubassem o trono de Satanás? Por que Jesus nunca ensinou isso aos apóstolos e os apóstolos nunca ensinaram isso às Igrejas? Onde vamos encontrar, no Novo Testamento, o Senhor Jesus ensinando aos apóstolos que eles deveriam amarrar Satanás por meio de palavras? E onde vamos encontrar os apóstolos ensinando as Igrejas que na batalha contra o Diabo elas poderiam amarrar Satanás com a autoridade que Jesus deu? Onde vamos encontrar que a Igreja deve se organizar para, através da oração, fazer guerra contra o trânsito, como o pessoal de “Batalha Espiritual” em Los Angeles amarrou os demônios no engarrafamento, durante as Olimpíadas? Amarraram os demônios da maldição do triângulo das Bermudas. Na revista News Week saiu a notícia de que não houve engarrafamento no trânsito em Los Angeles durante as Olimpíadas porque eles decretaram a prisão do demônio do engarrafamento. Onde está na Escritura que a Igreja deve se unir em oração para fazer isso? É claro que não tinha engarrafamento na época de Paulo.
Segundo o pensamento de alguns deles, os demônios não só atuam em pessoas mas, também, em estruturas. Neusa Itioka afirma que o problema do funcionalismo público no Brasil é que existe um demônio do funcionalismo público. Ela afirma isso! No seu livro: “Você Está em Guerra”, publicado agora pela SEPAL, ela fala que o problema do funcionalismo público no Brasil é um demônio que está entrincheirado nas estruturas econômicas, e o problema do racismo no Brasil é que quando foi assinada a Lei Áurea, resolveu-se o problema externo, mas ninguém passou uma canetada amarrando o demônio do escravagismo; por isso a raça negra continua sendo desprezada, ridicularizada e menosprezada. Certamente não vamos encontrar esse ensino na Escritura. Por que o apóstolo Paulo não promoveu uma campanha entre as suas Igrejas para amarrar o imperador ou destronar o poder do Império Romano que estava matando cristãos? Por que Paulo não fez uma campanha para acabar com a escravidão, amarrar o demônio da escravidão que havia no Império Romano? Por que Paulo não fez nada disso? Onde encontramos na Escritura que para o homem ser feliz ele tem que quebrar as maldições hereditárias?
A interpretação que o movimento de “Batalha Espiritual” tem dado à passagem de Êxodo 20 consiste num crasso erro de hermenêutica. Nunca se deve pegar um texto isoladamente, para elaborar uma doutrina. Êxodo 20 tem que ser interpretado à luz de Ezequiel 18, onde o profeta repreende a nação porque o povo estava dizendo: “os pais comeram uvas verdes e os dentes dos filhos é que embotaram”. O profeta disse: “de forma nenhuma. A alma que pecar essa morrerá”. Se um homem justo gerar um ladrão, as bênçãos do justo, os méritos do justo não vão passar para o filho ladrão; ele vai morrer debaixo da ira de Deus; e se o filho ladrão gerar um filho justo nada do que o pai fez de errado vai cair sobre esse filho justo. Assim, devemos interpretar Êxodo 20 à luz dos profetas, do Novo Testamento, onde está escrito que em Cristo Jesus todas as nossas cadeias, toda a nossa dívida foi desfeita. Essa é a nossa primeira preocupação, a falta de base bíblica para essas ousadas afirmações.
Outra coisa: Por que Paulo sofreu durante catorze anos com um espinho que ele expressamente diz que era um mensageiro de Satanás? Não sabemos a natureza do mensageiro, mas sabemos sua procedência, era de Satanás. Por que durante catorze anos Paulo sofreu com aquele enviado de Satanás? O que ele fez foi pedir a Deus, três vezes, humildemente, que tirasse aquele espinho. E nem assim ele foi atendido. Como se explica isso? Como se explica que Paulo, querendo voltar a Tessalônica, tenha sido barrado por Satanás (I Ts 2:18; 3:1)? Qual foi a estratégia de Paulo? Aqui está um caso típico de guerra espiritual, ele queria voltar a Tessalônica, onde tinha deixado uma Igreja de novos convertidos, mas não pôde porque Satanás lhe barrou o caminho. Não sabemos a natureza da barreira. A palavra “barrar” significa: “cavar uma trincheira”, vem da linguagem militar, cavar uma trincheira para que o inimigo não passe. Está claramente caracterizado um caso em que o missionário quer entrar no campo mas o Diabo coloca obstáculo. O que fez o apóstolo Paulo? Ele não amarrou, não determinou queda, não repreendeu, não mandou de volta para o abismo. Não podendo ir pessoalmente a Tessalônica, ele simplesmente enviou Timóteo. Mais duas coisas: Ele orou, escreveu uma carta e mandou Timóteo driblar a barreira e ir em seu lugar. Segundo os padrões de “Batalha Espiritual” moderno, Paulo era um verdadeiro crente frio, “não era presbiteriano”.
De onde vêm essas técnicas, de onde elas se desenvolveram? Há duas fontes: primeiro, do pragmatismo; - “se funciona, então está certo”. Neusa Itioka, nesse livro que saiu agora, diz que os demônios ganham autoridade para sentar no pescoço de alguns crentes. Ai você pergunta: Neusa, de onde você tirou essa idéia? Certamente a resposta não será: “das Escrituras”, pois isso não está na Bíblia. A resposta dela será: “eu tenho observado no meu gabinete que muitos crentes que vêm se queixando de determinados pecados, também vêm sofrendo com dores no pescoço. A conclusão dela é que o demônio monta no pescoço. É uma questão tragicômica. A base da maioria das práticas desenvolvidas por esse movimento vem dessa forma. Uma vez, um defensor do movimento, conhecido aqui no Brasil, foi fazer uma palestra numa igreja em Minas; quando acabou de falar, ele perguntou aos presentes: “Quem ficou com sono durante a palestra”? As pessoas levantaram a mão e ele chamou-as para a frente e disse: “Vou orar, agora, repreendendo o demônio do sono da vida de vocês”. Orou, expulsou o demônio do sono, e na saída o pessoal foi falar com ele. Disseram: “onde é que você tem base para dizer que se uma pessoa está cochilando durante a sua palestra, aquilo é um demônio que está causando sono”? Porque, na realidade, se olhar na Bíblia, o sono é uma bênção de Deus. Tem gente que daria qualquer coisa no mundo para passar uma noite de sono profundo. Em nenhum momento da Escritura isso está ligado a uma ação demoníaca, como é que você sabe disso”? Ele respondeu: “Eu sei que não está na Escritura, mas Deus me revelou”. São essas as fontes básicas do movimento: Revelações especiais diretas de Deus e experiências práticas. Em outras palavras: Isso é uma mistura de pragmatismo e misticismo.
2. Outra coisa que tem nos preocupado é a influência doutrinária da “Confissão Positiva”, nas práticas do movimento. O movimento de “Confissão Positiva” começou com o pastor Essek William Kenyon, dos Estados Unidos. Ele pegou a idéia de filósofos sobre o poder da palavra; - “a palavra cria” - e trouxe isso para dentro da Igreja, criando a idéia de que pela palavra o crente consegue criar realidades ao seu redor. Um dos discípulos de Kenyon é Paul Young Cho, com aquele famoso livro, que fez muito mal ao Brasil, chamado “A Quarta Dimensão”, onde se lê que você visualiza, mentaliza e pela palavra você cria resposta à sua oração, exatamente do jeito que você queria. Outro discípulo é Benny Hinn, cuja literatura está espalhada pelo Brasil. Sua idéia é basicamente esta: Assim como Deus no começo criou todas as coisas pela palavra do seu poder, nós, porque somos deuses, podemos igualmente criar, podemos criar circunstâncias através da palavra.
Há pouco tempo recebemos um livro escrito por um pastor chamado Hank Hanegraaff, dos Estados Unidos, e ele mandou, acompanhando o livro, duas fitas onde colecionou as próprias palavras e expressões usadas por Benny Hinn e outros, tiradas da televisão e de revistas. Ele fez uma coletânea para que os evangélicos ouvissem, nas próprias palavras desse pessoal, o ensino deles. Benny Hinn diz: “Você não tem um deus dentro de você, você é deus”. O que está por detrás disso é a idéia de que podemos criar como Deus criou, porque nós também somos deuses. Um outro evangelista dessa linha diz o seguinte: “Não diga que você está doente, você simplesmente bata em seu corpo e diga: ´Ah! esse corpo saudável!` Porque na hora em que você disser: ´eu estou doente` você vai ficar doente, porque a palavra tem poder. Mas diga: ´eu estou curado`. Não diga também que você está pobre, bata no seu bolso e diga: ´Ah! carteirinha cheia de dinheiro`” Esse pensamento da palavra criadora está por detrás de muitas das estratégias do movimento de “Batalha Espiritual”. Ou seja, a voz de autoridade e comando dos crentes vai criar aquilo que eles estão dizendo e aquela vocalização vai derrubar fortalezas, vai amarrar o Diabo, vai repreender os demônios, e vai criar realidades favoráveis ao crescimento da Igreja. Então há a influência do movimento. Essa idéia de confissão positiva, não é só idéia da "Teologia da Prosperidade", mas também do movimento de “Batalha Espiritual”.
3. As ênfases do movimento comprometem o conceito da suficiência de Cristo no Evangelho. Todos precisam saber que essa teologia de “Batalha Espiritual” nasceu em solo arminiano; Peter Wagner é arminiano, Neusa Itioka é arminiana e Valnice é arminiana. Uma teologia dessa jamais poderia florescer em solo Reformado. Isso porque a Teologia Reformada coloca a sua ênfase na soberania de Deus, no senhorio de Jesus Cristo, e na suficiência de Cristo e sua Palavra. Assim, esse movimento acaba atacando a suficiência de Cristo. Não é suficiente o que o nosso Salvador fez por nós na cruz e na ressurreição, temos que completar isso quebrando as maldições hereditárias, dizem eles. As afirmações da Escritura sobre a vitória de Cristo na cruz do calvário e a sua ação de anular as obras do maligno não são suficientes, temos que completar isso amarrando o que Ele deixou de amarrar, dizem eles.
4. O movimento tende a isentar os crentes da sua responsabilidade moral, e de todo o processo de santificação, como demonstramos naquele exemplo da pessoa que procura o conselheiro, porque tem pensamentos impuros. O que acontece é que pessoas que abraçam esse movimento e que começam a ver os demônios como responsáveis, inclusive pelos seus próprios pecados individuais, acabam finalmente a se sentir isentos de qualquer responsabilidade. Não é difícil encontrar pessoas que dizem: “Meu casamento deu errado, o Diabo entrou ali, fez a maior bagunça; o Diabo tomou conta de mim, eu não sabia o que estava fazendo, bati na minha esposa, mandei meus filhos embora, etc.” O Diabo acaba sempre sendo o responsável e os homens ficam isentos de culpa, pois agiram debaixo da influência do Diabo. Isso pode ser visto nos grandes tele-evangelistas dos Estados Unidos. Um deles, depois de um grande e comprovado escândalo moral, foi à televisão e disse: “Irmãos, eu sei o que fiz, mas foi o Diabo que me levou a fazer, eu não sabia o que estava fazendo, o Diabo fez isso”. Esse é o resultado, quanto à responsabilidade individual. O caminho do quebrantamento, do arrependimento, da mortificação fica cada vez mais distante à medida que a ênfase recai nesse tipo de coisa. Alguns meses atrás recebemos um convite que dizia o seguinte: “Achamos que o Brasil está vivendo um momento de grande avivamento espiritual, e há uma mudança na liturgia e um retorno dos dons espirituais, mas notamos que está faltando uma coisa essencial e queremos convidar o irmão a participar como preletor de uma série de conferências sobre santidade”. É a primeira conferência sobre santidade, por achar que está faltando santidade no avivamento. Há o avivamento, mas está faltando santidade, então vamos promover um simpósio sobre santidade.
5. O movimento tende a criar uma obsessão doentia por Satanás, demônios e as coisas do ocultismo. A cosmovisão da Escritura é a seguinte: a Bíblia não nos manda olhar o mundo pela ótica da atuação dos demônios, embora nos ensine a reconhecer a presença deles. O problema do pessoal que abraçou o movimento de “Batalha Espiritual” é que eles olham o mundo dessa perspectiva, filtrada pela atuação dos demônios. Portanto, eles vêem demônios atuando em todas as coisas. Essa não é a cosmovisão da Bíblia. Essa é a maneira do mundo ver as coisas, dos povos pagãos do passado e das religiões gregas do passado, em que para cada árvore, cada casa, cada pedra, havia uma fada, um duende ou coisa dessa natureza; era uma visão pagã do mundo e não uma visão bíblica. A Bíblia reconhece a presença e atuação do inimigo, mas não nos ensina a viver como se em cada esquina houvesse um demônio esperando para nos devorar.
Estivemos, há alguns dias, em uma certa cidade. Ficamos hospedados na casa de um pastor que abraçou o movimento de “Batalha Espiritual”. Ele nos contou que o menino dele, de seis anos de idade, não conseguia dormir mais sozinho no quarto e vinha sempre para o quarto dele. Perguntamos como isso aconteceu, e ele contou que quando chegaram à cidade, a Igreja alugou um apartamento para a sua família; depois, com o crescimento da Igreja, o Conselho resolveu comprar uma casa que havia na região. Ele e sua família mudaram-se para a nova casa. Na primeira e também na segunda noite que passaram na casa, eles foram acordados pelos gritos da empregada “urrando” e se batendo pelos corredores; e o menino presenciou tudo. O pessoal da região dizia que a razão estava no fato da casa ser mal assombrada. A Igreja a havia comprado porque era uma casa barata, que ninguém quis comprar. Então, uma senhora da Igreja, que tem o ministério de quebrar maldições, foi levada à casa para exorcizá-la, e o menino presenciou tudo. A mulher foi de quarto em quarto amarrando e desfazendo toda a obra maligna, etc. Daquele dia em diante o problema não se repetiu mais. Depois de ouvir o pastor, fizemos com que ele visse que estava enganado, o problema continuava. O filho dele não estava conseguindo dormir. O problema era que o menino viu tudo o que fizeram e ficou com a convicção de que mesmo no recinto de um lar, debaixo da graça e proteção do Cordeiro, a qualquer momento ele poderia ser atacado por entidades malignas. Mas o fato não é apenas que esse menino vai crescer traumatizado; o pai dele já estava obcecado e centenas de crentes no Brasil, em nossas Igrejas, vivem obcecados e com medo disso. Essa não é a maneira bíblica de ver o mundo. Essa é a visão pagã do mundo. Satanás, e não Cristo, tem se tornado o centro do ministério de muitos. Cristo deixou de ser o centro do ministério de muita gente, e o seu lugar de primazia foi ocupado pelo Diabo e sua atuação.
6. O movimento trouxe de volta uma heresia que a Igreja já havia descartado há muito tempo, o dualismo. O maniqueísmo, para ser mais exato. Como todos sabem, essa corrente de pensamento ensina que o mundo é controlado por duas forças iguais, o bem e o mal. A Igreja já condenou isso como heresia. O que acontece no mundo não é determinado pelo conflito de duas forças opostas, uma boa e outra má, como se Deus e o Diabo fossem iguais e estivessem lutando pelo controle do mundo. Pelo contrário, o ensino das Escrituras é que Deus é o Senhor; Ele tem todas as coisas debaixo do Seu controle e o Diabo não mexe um dedo sem a permissão de Deus. Ele só vai aonde Deus permite. O Diabo é apenas uma criatura, mas do jeito que ele é pintado nesse movimento parece que ele é um poder, senão igual, mas pelo menos independente de Deus. Ele faz o que quer e Deus é que tem que vir atrás para consertar. O Diabo não é um poder independente de Deus; ele só faz o que Deus permite, e Deus o usa inclusive nos Seus propósitos; é por isso que dissemos que essa teologia não brotaria no solo calvinista, reformado. Isso só poderia brotar na teologia arminiana, segundo a qual praticamente Deus não tem controle nenhum; o Diabo faz o que lhe apraz e os homens também.
7. O movimento faz uma confusão entre mal moral e mal situacional. Mal moral é o pecado, nossa atividade pecaminosa, nossa culpa, nossos erros, nossa quebra da lei; o mal situacional é a miséria do homem, o fato dele adoecer, sofrer desastres, acidentes, opressão econômica; enfim, tudo aquilo que oprime o ser humano. Quando Jesus estava aqui nesse mundo, Ele agiu de duas maneiras diante do mal: quando Ele encontrava o mal moral, ele não expulsava. Ele dizia à pessoa: arrependa-se e me siga; quando Ele encontrou uma prostituta, um Zaqueu, não expeliu nenhum demônio da ganância de Zaqueu, nem expeliu nenhum demônio de prostituição; quando se diz lá que Maria Madalena tinha sete demônios, não quer dizer que algum deles era de prostituição ou que causava prostituição. Prostituição, nas Escrituras, sempre em última análise é responsabilidade do ser humano e é por isso que Deus vem tratar com o ser humano. De nada valeu a desculpa de Eva e nem a de Adão, colocando a culpa no Diabo. Deus não Se deixou enganar, eles foram considerados responsáveis e estavam debaixo da ira de Deus. Quando Jesus encontra o mal moral, a atitude dele é de repreender, exortar ao arrependimento e mandar que as pessoas O sigam; Jesus só usa o modo ekbalístico de ministério quando encontrava pessoas aprisionadas pelo Diabo em termos de doença, pessoas epilépticas, pessoas possuídas pelo maligno. Mas quando via um mal moral Ele nunca expulsava demônios. O problema do movimento de “Batalha Espiritual” é que eles misturam as duas coisas e dizem que o ministério de expelir demônios se aplica a todas as circunstâncias. Isso não pode ser sustentado biblicamente, pois pecado não se resolve amarrando demônio; pecado não se resolve expulsando demônio. É verdade que a Bíblia diz que o Diabo nos tenta, não estamos negando esse fato; isso seria negar o que a Bíblia diz com clareza. Mas se pecamos, em última análise, a responsabilidade é nossa, somos nós que pecamos e o Diabo não vai levar a culpa disso.
Que fazer, então? - Essas são algumas críticas e preocupações. Como então a Igreja deve resistir e enfrentar esse problema? Como deve estar pronta para a batalha? Qual o ensino bíblico sobre o assunto? Começaremos dizendo que as Escrituras verdadeiramente afirmam a existência e a realidade das forças espirituais do mal. No texto que lemos, Efésios 6, Paulo fala sobre essas forças espirituais numerosas, organizadas e lideradas por Satanás. Elas são poderosas, perversas, más, astutas, inteligentes e estão em franca oposição a Deus, a Cristo e à Sua Igreja. Esse quadro é muito claro nas Escrituras e não podemos negar e nem mesmo questionar essa realidade. Nós estamos num combate, e essas forças espirituais estão presentes, continuamente nos atacando. Mas cremos que o movimento “Batalha Espiritual” deixa de ensinar o que é mais importante: Essas forças malignas já estão derrotadas. O modo como o movimento leva seus adeptos a brigar com o Diabo, a confrontar essas forças malignas, sugere que Satanás é o senhor do mundo. Assim, o ensino bíblico da vitória de Cristo tem sido colocado de lado. A Bíblia nos fala sobre isso usando uma linguagem bastante diferente, usando figura de campo semântico diferente. O ponto central é que, na cruz, Cristo ganhou a batalha contra as hostes espirituais do mal, contra Satanás. Como é que as Escrituras nos descrevem isso? Em Gênesis 3:15, está dito que viria um descendente da mulher, semente da mulher, que esmagaria a cabeça da serpente; e a Escritura não deixa dúvida que isso aconteceu na cruz do calvário. A figura de “esmagar a cabeça” não poderia ser mais apropriada ou seja: foi dado um golpe final, não há retorno, foi dado um golpe mortal. Falando uma vez sobre esse assunto, um gaúcho chegou a mim e disse: “Pastor, se o senhor quiser enriquecer esse ponto, o senhor pode acrescentar a minha experiência. Eu sou gaúcho lá dos pampas e lido com gado e a nossa experiência lá é que quando a gente esmaga a cabeça da cobra de manhã ou à tarde, ela vai ficar tremendo, se retorcendo até à noite. Mas passa o dia todo se mexendo, apesar da cabeça já ter sido definitivamente esmagada.” Essa figura ilustra bem o ensino da Escritura de que Cristo já desfechou o golpe final, não há retorno para Satanás. Em Colossenses 2: 14-15 Paulo diz: “tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz”. Essa linguagem vem do campo militar, essa idéia de despojar, de expor ao desprezo, triunfar é uma linguagem que vem das batalhas do mundo antigo. Quando um adversário era vencido ele sabia que ia ser despojado, o vencedor lhe tirava os bens, as mulheres, os filhos, o gado e ainda levava as armas do guerreiro vencido; ele era completamente despojado, ao ponto de algumas traduções modernas, em vez de dizer “despojando” dizem “desarmando”, porque esse era o sentido de despojamento. Todas as armas da cidade vencida eram levadas. A cidade era desarmada para que não houvesse outra rebelião. Várias traduções modernas dão preferência a “desarmar”, transmitindo a idéia de que Cristo desarmou, na cruz, os principados e potestades, expondo-os publicamente ao desprezo e triunfando deles na cruz. Essa figura é bastante conhecida - “o triunfo romano”; um general, voltando vitorioso para sua cidade, entrava em triunfo com os prisioneiros amarrados atrás dele. E aí as mulheres, as crianças e os velhos jogavam terra, tomate, nos derrotados. Eles eram expostos ao desprezo. O apóstolo Paulo deliberadamente está dizendo que, na cruz, Cristo desarmou os principados e potestades; é a mesma expressão de “principados e potestades” que aparece em Efésios 6. Desarmou, despojou, tirou tudo em que eles confiavam. O inimigo foi deixado despido, nu, sem nada e exposto ao desprezo. Na cruz do Calvário Cristo triunfou deles. A Escritura afirma isso de forma indiscutível. Em João 12: 31-33 Jesus diz aos discípulos: “Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso. E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo. Isto dizia, significando de que gênero de morte estava para morrer”. Nessa passagem, o Senhor Jesus Cristo está dizendo que na Sua morte o príncipe desse mundo seria expulso. Em resumo, Ele está dizendo a mesma coisa que Paulo, em Colossenses 2:14,15; e que Moisés escreveu em Gênesis 3:15. As expressões “esmagar a cabeça”, “desarmar”, e “expulsar o príncipe desse mundo” referem-se, todas elas, a Satanás. Não há qualquer referência no Evangelho de João à expulsão de demônios que Jesus tenha feito. Os relatos de expulsão de demônios estão apenas nos Evangelhos sinópticos: Mateus, Marcos e Lucas. Por que João não narra nenhuma expulsão de demônios? A resposta é a seguinte: João estava preocupado com a maior de todas as expulsões, a expulsão central. Na Sua morte, Jesus expulsou definitivamente a Satanás, o príncipe desse mundo. João, assim, não narra outras expulsões de demônios.
Voltando a Efésios 6, considerando as peças da armadura, veremos que cada uma delas nada mais é do que tudo aquilo que pertence, naturalmente, ao crente, a qualquer um: “verdade de Deus”, “justiça de Cristo”, “fé”, “evangelho” e “palavra de oração”. Não há na passagem nenhuma arma secreta. Todos os crentes em Cristo Jesus possuem essas armas. Para muitos, a armadura é o próprio Cristo. Revestir-se da armadura de Deus é a mesma coisa que revestir de Cristo, em quem estão todos os tesouros da sabedoria e da ciência. Não há nada no texto que dê margem às técnicas especiais de caça ao Diabo ensinadas pelo movimento de “Batalha Espiritual”.
A título de uma aplicação final, devemos dizer que a Igreja deve tomar duas linhas: Em primeiro lugar, precisamos estar conscientes de que estamos envolvidos numa guerra espiritual. Na realidade, conscientes da atuação dos demônios. As pessoas que estão lá fora, no mundo, estão debaixo do poder deles e a Igreja tem que ter consciência disso. Em segundo lugar, mais do que em qualquer outro momento da sua história, a Igreja deve fincar os pés na Escritura e fazer da Escritura o seu manual prático. Aquilo que não puder ser provado pela Escritura, ou deduzido de uma forma legítima da Escritura, deve ser rejeitado e colocado fora da nossa vida, da nossa Igreja e da nossa prática de ministério. A chamada da Igreja, a essa altura, é para a suficiência da Escritura, e todas as nossas práticas devem passar por esse crivo. A nossa oração a Deus, o nosso desejo é que nos Seminários, na Igreja evangélica brasileira, tomemos uma posição de firmeza sem negar a realidade dessas coisas, combatendo-as biblicamente, tomando toda a armadura de Deus que nos é concedida em Cristo. Que Ele nos abençoe!
*O Rev. Augustus é pastor presbiteriano, tem mestrado em Novo Testamento pela Potschefstroom University for Christian Higher Education, na África do Sul, e doutorado em Hermenêutica e Estudos Bíblicos pelo Westminster Theological Seminary, Filadélfia, USA. Atualmente é coordenador do Departamento de Novo Testamento do Centro de Pós-Graduação Andrew A. Jumper, em São Paulo.
(Publicado em O Presbiteriano Conservador na edição de Setembro/Outubro de 1996)
17 de junho de 2008
Autoridade x Responsabilidade
Autoridade X Responsabilidade
Quanto pesa a responsabilidade de um cargo?
Observa-se que muitos perseguem nomeações para cargos e disputam, com ardor, lugares que lhes conferirão autoridade sobre outros.
Contudo, quando assumem postos de comando esquecem-se dos objetivos reais para os quais foram ali colocados, passando a agir em seu próprio favor.
Tal posição nos recorda a história de um homem que foi nomeado mandarim, uma espécie de conselheiro na China.
Envaidecido com a nova posição, pensou em mandar confeccionar roupas novas.
Seria um grande homem, agora.
Importante.
Um amigo lhe recomendou que buscasse um velho sábio, um alfaiate especial que sabia dar a cada cliente o corte perfeito.
Depois de cuidadosamente anotar todas as medidas do novo mandarim, o alfaiate lhe perguntou há quanto tempo ele era mandarim. A informação era importante para que ele pudesse dar o talhe perfeito à roupa.
Ora, perguntou o cliente, o que isso tem a ver com a medida do meu manto?
Paciente, o alfaiate explicou: "a informação é preciosa.
É que um mandarim recém-nomeado fica tão deslumbrado com o cargo que anda com o nariz erguido, a cabeça levantada. Nesse caso, preciso fazer a parte da frente maior que a de trás.
Depois de alguns anos, está ocupado com seu trabalho e os transtornos advindos de sua experiência. Torna-se sensato e olha para diante para ver o que vem em sua direção e o que precisa ser feito em seguida. Para esse costuro um manto de modo que fiquem igualadas as partes da frente e a de trás.
Mais tarde, sob o peso dos anos, o corpo está curvado pela idade e pelos trabalhos exaustivos, sem falar na humildade que adquiriu pela vida de esforços. É o momento de eu fazer o manto com a parte de trás mais longa.
Portanto, preciso saber há quanto tempo o senhor está no cargo para que a roupa lhe assente perfeitamente."
O homem saiu da loja pensando muito mais nos motivos que levaram seu amigo a lhe indicar aquele sábio alfaiate, e menos no manto que viera encomendar.
........................................
Cargos e funções, são sempre responsabilidades que nos são oferecidas por Deus para nosso progresso.
Não há motivo para vaidade, acreditando-se superior ou melhor que os outros.
Quando Pilatos assegurou a Jesus que tinha o poder de vida e morte, e que em suas mãos estava o destino de suas horas seguintes, o Mestre alertou-o dizendo: "Procurador, a autoridade de que desfrutas não é tua; foi-te concedida e poderá ser-te retirada."
De fato isso veio a acontecer.
Apenas poucos anos após a morte de Jesus, o poder de Roma retirou do procurador da Judéia, Pôncio Pilatos, toda a autoridade. Ele perdeu o cargo, o prestígio, e tudo que acreditava fosse eterno em suas mãos.
........................................
Toda autoridade deve se centralizar no amor e na vida exemplar, a fim de se fazer real.
A autoridade de que nos vejamos investidos deve ser exercida sem jamais ferir a justiça.
No desempenho dos nossos deveres, recordemos que só uma autoridade é soberana: aquela que procede de Deus, por ser a única legítima!
SOLI DEO GLORIA!
Quanto pesa a responsabilidade de um cargo?
Observa-se que muitos perseguem nomeações para cargos e disputam, com ardor, lugares que lhes conferirão autoridade sobre outros.
Contudo, quando assumem postos de comando esquecem-se dos objetivos reais para os quais foram ali colocados, passando a agir em seu próprio favor.
Tal posição nos recorda a história de um homem que foi nomeado mandarim, uma espécie de conselheiro na China.
Envaidecido com a nova posição, pensou em mandar confeccionar roupas novas.
Seria um grande homem, agora.
Importante.
Um amigo lhe recomendou que buscasse um velho sábio, um alfaiate especial que sabia dar a cada cliente o corte perfeito.
Depois de cuidadosamente anotar todas as medidas do novo mandarim, o alfaiate lhe perguntou há quanto tempo ele era mandarim. A informação era importante para que ele pudesse dar o talhe perfeito à roupa.
Ora, perguntou o cliente, o que isso tem a ver com a medida do meu manto?
Paciente, o alfaiate explicou: "a informação é preciosa.
É que um mandarim recém-nomeado fica tão deslumbrado com o cargo que anda com o nariz erguido, a cabeça levantada. Nesse caso, preciso fazer a parte da frente maior que a de trás.
Depois de alguns anos, está ocupado com seu trabalho e os transtornos advindos de sua experiência. Torna-se sensato e olha para diante para ver o que vem em sua direção e o que precisa ser feito em seguida. Para esse costuro um manto de modo que fiquem igualadas as partes da frente e a de trás.
Mais tarde, sob o peso dos anos, o corpo está curvado pela idade e pelos trabalhos exaustivos, sem falar na humildade que adquiriu pela vida de esforços. É o momento de eu fazer o manto com a parte de trás mais longa.
Portanto, preciso saber há quanto tempo o senhor está no cargo para que a roupa lhe assente perfeitamente."
O homem saiu da loja pensando muito mais nos motivos que levaram seu amigo a lhe indicar aquele sábio alfaiate, e menos no manto que viera encomendar.
........................................
Cargos e funções, são sempre responsabilidades que nos são oferecidas por Deus para nosso progresso.
Não há motivo para vaidade, acreditando-se superior ou melhor que os outros.
Quando Pilatos assegurou a Jesus que tinha o poder de vida e morte, e que em suas mãos estava o destino de suas horas seguintes, o Mestre alertou-o dizendo: "Procurador, a autoridade de que desfrutas não é tua; foi-te concedida e poderá ser-te retirada."
De fato isso veio a acontecer.
Apenas poucos anos após a morte de Jesus, o poder de Roma retirou do procurador da Judéia, Pôncio Pilatos, toda a autoridade. Ele perdeu o cargo, o prestígio, e tudo que acreditava fosse eterno em suas mãos.
........................................
Toda autoridade deve se centralizar no amor e na vida exemplar, a fim de se fazer real.
A autoridade de que nos vejamos investidos deve ser exercida sem jamais ferir a justiça.
No desempenho dos nossos deveres, recordemos que só uma autoridade é soberana: aquela que procede de Deus, por ser a única legítima!
SOLI DEO GLORIA!
13 de junho de 2008
A Realidade de Deus e o Drama do Homen.
REALIDAD DE DIOS Y DRAMA DEL HOMBRE
por Manuel Fraijó Nieto
Introducción
BAJO el título Realidad de Dios y drama del hombre, los responsables de la CÁTEDRA DE TEOLOGÍA CONTEMPORÁNEA me piden que preste especial atención al «humanismo-ateo»; es decir, a ese ateísmo que se remite a la defensa del hombre como causa última de su opción atea. Se trata de importantes movimientos filosóficos, nacidos sobre todo en el siglo XIX y primera mitad del XX, pero que han mantenido su vigencia hasta nuestros días. Su tesis es bien sencilla: Dios y el hombre se excluyen. Los intentos de armonización terminan perjudicando siempre al hombre. Donde se afirma la existencia de Dios se sentencia al hombre a una situación degradante y alienada. Los dioses expropian a los hombres.
Intentaremos verificar y valorar esta tesis en algunos de sus principales representantes. Pero, antes, permitaseme una observación. Parto de la definición convencional de ateísmo: ateo es el que no cree en Dios. Pero confieso que lo hago a disgusto. Mi conferencia debería
haber ido precedida de otra ponencia de índole filosófico-teológica que, antes de examinar las diferentes clases de ateísmo, analizase la esencia y las condiciones de posibilidad de un proyecto de vida ateo. No hago esta afirmación porque piense que no es posible el ateísmo
(creo que sólo desde presupuestos muy intrateológicos es posible adherirse a la tesis de K. RAHNER sobre los cristianos anónimos), sino sencillamente porque considero que se trata de un fenómeno complejo, cambiante, ambiguo, que nunca debe ser un presupuesto ingenuo.
Más que como una constante, el ateísmo debería ser considerado como una variable a analizar en cada caso. Quisiera avalar esta sospecha con dos textos de un destacado estudioso de las religiones de la
humanidad: M. ELIADE. Preguntado sobre si, como MALRAUX, pensaba que «habrá un siglo XXI religioso o no lo habrá
en absoluto», •ELIADE-M respondió: «No es posible hacer ninguna predicción. La libertad Del espíritu es tal que no es posible anticiparla»1.
Y añadía: «Lo que hace aún más difícil cualquier predicción en este terreno es el hecho de que ciertas formas "religiosas" pueden pasar desapercibidas en cuanto tales. Puede haber una creación tan nueva que al principio, e incluso durante siglos, nadie la considere creación religiosa»2 .
Alude al caso del cristianismo que, en sus comienzos, fue acusado de ateísmo. M. ELIADE aporta una segunda razón para dudar de la posibilidad de la opción atea. El texto merece ser citado íntegramente: «El terror de la historia es para mí la experiencia de un hombre sin religión, que no tiene esperanza alguna de encontrar sentido definitivo al drama histórico, que debe sufrir los crímenes de la historia sin comprender su sentido. Un israelita cautivo en Babilonia sufría enormemente, pero aquel sufrimiento tenía un sentido: Yahvé quería castigar a su pueblo. Y sabía que, al final, iba a triunfar Yahvé, el bien por consiguiente... También para HEGEL, todo acontecimiento, toda prueba era una manifestación del espíritu universal y, por consiguiente, tenía sentido. Se podía, cuando no justificar, al menos explicar racionalmente el mal histórico... Cuando los acontecimientos históricos se vacían de toda significación transhistórica, cuando dejan de ser lo que eran para el hombre tradicional -pruebas para un pueblo o para un individuo-, estamos ante lo que he llamado el terror de la historia»3.
Y como M. ELIADE piensa que el terror de la historia es muy difícil de soportar «a secas», sin posibles reparaciones transhistóricas -no es el único en pensar así; recuérdense los postulados kantianos-, coloca un signo de interrogación detrás de todo alegato o credo ateo.
Tal vez debamos añadir que, por supuesto sin renunciar a su cosmovisión atea, destacados pensadores de la cultura occidental participan de la perplejidad e incluso de la protesta de M.
ELIADE frente al terror de la historia. Y no estamos aludiendo sólo a ese gran pensador utópico, refugio e inspirador de teólogos con antenas para los desafíos que la negatividad histórica plantea al cristianismo de todos los tiempos. No; no nos referimos únicamente a E. BLOCH y a su resistencia frente a la posibilidad de que «las mandíbulas de la muerte acaben triturándolo todo»4.
Son también conocidas las protestas testimoniales de los iniciadores de la Escuela de Frankfurt frente a la carga de negatividad que aqueja a las realizaciones históricas de los humanos. Ellos procedían directamente de los frentes de guerra europeos y
supieron de mutilaciones esenciales que han empañado para siempre la faz de nuestro planeta. Uno de ellos, M. HORKHEIMER, escribía: «La falta de sentido del destino individual, que ya antes estaba condicionada, dada la falta de la razón, por la naturalidad del proceso productivo, se ha constituido, en la fase actual, en la característica más aguda de la existencia. Todos se hallan abandonados al ciego azar. De aquí ese anhelo de justicia plena»5.
HORKHEIMER se resiste a que un mundo en el que «los niños mueren de hambre mientras las manos de los padres arrojan bombas»6 sea la realización máxima de lo que nos cabe esperar.
Sin embargo, no sería honesto omitir que no todos los impulsos del pensamiento actual entonan el mismo «cantus firmus». No todo son inquietudes en el seguimiento de PASCAL o KIERKEGAARD. Se profesa también la renuncia a la inquietud. Existe la nueva versión del agnóstico que proclama: «Yo vivo perfectamente en la finitud y no necesito más»7.
Se contempla la finitud como algo satisfactorio en sí mismo. Nada de ulteriores planteamientos sobre Dios u otra vida. Tales planteamientos denotarían una integración imperfecta en la única realidad existente: la finitud. «Hay lo que hay y nada ajeno a la realidad finita puede admitirse como existente»8.
Lo importante es estar perfectamente instalado en la finitud sin «echar de menos a Dios». Si alguien se cansa de lo finito es porque está «mal educado». Se impone renunciar a los «añadidos escatológicos» y a todo género de «tragedia teológica». Lo sensato será despreocuparse de la existencia de Dios. De todos modos, su verificación no es posible. Además, nos perturba. Es mejor decir: «Todo es mundo, es decir, finitud»9.
Adquiriendo el carnet de agnóstico desaparecen muchos problemas: «El agnóstico instalado en la finitud con su ajuar existencial completo no echa nada de menos; tampoco a Dios»10. Consecuentemente, tampoco ambiciona sobrepasar la vida más allá de las fronteras del mundo ni «desfacer entuertos» históricos en un posible más allá. El agnóstico acepta el perecimiento de lo finito sin refugiarse en ilusiones de pervivencia. «Nada hay más humano y que mejor defina la finitud que perecer» Una «sobrevida» u otra vida está en contradicción con el hombre y con el mundo. Hasta aquí, TIERNO GALVAN en su libro rebosa satisfacción y seguridad. Ha logrado una solución contundente: suprimir el problema. Vale. No le echaremos nada en cara. No nos dedicaremos a buscarle «agujeros» por los que introducir de nuevo subrepticiamente el tema «Dios». Ya BONHOEFFER anatematizó a tales perturbadores de la intimidad. A nosotros sólo nos interesa dejar constancia de que, junto a la inquietud que formula preguntas y se lanza a una búsqueda más o menos desesperada de respuestas, existe también la instalación perfecta en la finitud, la vivencia satisfecha, reconciliada con el perecer y bien avenida «con lo que hay». TIERNO GALVÁN ha rendido un tributo póstumo a ese héroe nacional llamado Sancho Panza, olvidándose de la tristeza y del sentimiento de mutilación esencial (el buen Sancho no entendería estas palabrejas) que invadían a Sancho cuando lo separaban de «su señor». Digamos, para terminar esta ya larga introducción, que aunque sin caer en las «rebajas» de TIERNO GALVÁN11, cada día son más numerosos los pensadores que renuncian a hacer filosofía -¡no digamos ya teología!- de la historia.
Precisamente porque conocen lo que M. ELIADE llama el «terror de la historia», renuncian a procurarle explicaciones últimas. Cunde por todas partes un atrincheramiento en lo fragmentario, nacido de la resignación y la impotencia. A siglo y medio de la muerte de HEGEL declina la búsqueda de explicaciones totalizantes. Tal vez porque el sustrato último sobre el que el gran filósofo alemán edificó todo su sistema, el Dios cristiano, ha perdido la plausibilidad de que en otro tiempo gozó. Personalmente me quedo más tranquilo después de haber cansado al lector con esta introducción. En ella he pretendido evitar que saque la impresión de que sé qué es el ateísmo, de que tengo «clasificados» a los ateos y les hablo del ateísmo humanista como podría haberles hablado del empirista o del que se basa en que Dios y la ciencia son incompatibles. No. Probablemente tanto la fe como la increencia tienen que ver con lo que FREUD llamaba el «oscuro inconsciente». Y ese oscuro inconsciente se resiste a clasificaciones simplistas y a intentos de sistematizaciones cartesianas.
* * * * *
1 Un acontecimiento intracristiano en el origen del ateísmo12
ME REFIERO a la sacudida y a la alteración de esquemas que la rrupción del protestantismo supuso para la Europa cristiana. Frente a la «plenitud» del universo católico, el protestantismo aparece como un truncamiento radical, como una reducción a «mínimos esenciales». P. BERGER ha contrapuesto el «pleroma católico» a la evangélica escasez del protestantismo.13
La Reforma, iniciada por LUTERO, reduce el alcance de lo sagrado en la realidad. El universo sacramental sufre amputaciones sensibles. Los siete sacramentos quedan reducidos a dos: la eucaristía y el bautismo. La negación de la transubstanciación priva a la eucaristía de sus características más numinosas. Los milagros dejan de ser centrales en la vida religiosa. La amplia red de intercesiones que une al católico con los santos y los difuntos queda sensiblemente mermada. Calvino mandó castigar a una mujer porque se le había oído musitar ante la tumba de su marido «requiescat in pace». Poco a poco, y no sin luchas y resistencias, el protestantismo fue ensayando una.relación con Dios
desprovista de milagros y magia. M. WEBER llamó a este proceso «desencantamiento del mundo»14.
El mundo del protestantismo dejaba de estar penetrado de seres y fuerzas sagradas. Todo se reducía a dos polos sumamente austero: la realidad trascendente de Dios y la humanidad «caída». Radical trascendencia de Dios enfrentada a un universo inmanente, cerrado a toda posible connotación sacralizante15.
Desde el punto de vista religioso, el mundo del protestante se vuelve muy solitario. Faltan los «consuelos» eclesiales del católico. Los canales de comunicación entre lo divino y lo humano quedan atascados. El hombre se ve obligado a enfrentarse consigo mismo de un modo que históricamente carecía de precedentes. De ahí que surgieran figuras como las de LUTERO y KIERKEGAARD, forjadas en la soledad y en lucha con la propia subjetividad. De poco sirvió a Lutero que STAUPITZ le recomendase afrontar sus dudas y luchas interiores refugiándose en las llagas de Cristo. Tal solución estaba mediatizada por una instancia eclesial y Lutero había roto ya con esos canales de salvación. El agustino de Wittenberg es ya un hombre moderno que busca la salvación dentro de la propia subjetividad. Las garantías eclesiales no le sirven. FE/MAGIA: Sólo un canal de comunicación con lo trascendente salvó Lutero: la «palabra de Dios»16.
De ahí que dedicara sus mejores energías a traducir la Biblia al alemán. Cuando Lutero realiza su magistral traducción había quince millones de alemanes y sólo circulaban unas seis mil biblias en alemán. Gran parte del clero ni siquiera sabía leer. La religión estaba plagada de magia y superstición. Había comulgantes que se guardaban la sagrada forma para esparcirla sobre sus sembrados con la esperanza de que acabase con las orugas... Otros bautizaban sus perros, caballos y ovejas para protegerlos de las epidemias... Los criminales acudían en seguida a la comunión seguros de que ésta los protegería de caer en manos de la justicia...Lutero intentó hacer frente a tanta magia y decadencia divulgando la palabra de Dios. La Sagrada Escritura se convertirá en norma suprema. Una norma que para Lutero no ofrecía dificultad alguna. Para él la Sagrada Escritura era clarísima en sí misma y no ofrecía dificultades de interpretación. Con la llegada de la modernidad, la situación cambia radicalmente. La Biblia deja de ser un conjunto de libros claros y coherentes. La investigación histórico-crítica no se detuvo ante las páginas sagradas y descubrió en ellas errores, contradicciones e intereses humanos. El único canal que había sido respetado fue desmitologizado y cayó en la implausibilidad. Se abrían así las puertas a lo que P. BERGER llamara la «inundación secularizadora»17, dando lugar a una situación empírica en la que terminaría siendo posible la teología de la muerte de Dios.
La separación entre Dios y el mundo, puesta en marcha por Lutero
radicalizada en nuestros días por la teología dialéctica de K. BARTH y sus amigos, tuvo como consecuencia un «Dios sin mundo» y un «mundo sin DIOS». Había sonado la hora del
ateísmo. Algunos teólogos norteamericanos no dudaron en llamar a K. BARTH padre del ateísmo contemporáneo. El protestantismo se convirtió así, en contra de su voluntad, en un preludio históricamente decisivo de la secularización y del ateísmo. Un cielo vacío de ángeles
se abrió en seguida a la intervención de los astrónomos y, por último, de los astronautas18.
Naturalmente, estamos simplificando. El protestantismo no ha sido el único portador de secularización y ateísmo. Ahí está para demostrarlo la dinámica del moderno capitalismo industrial con el estilo de vida que comporta y la civilización a que da lugar19.
También él ha sido portador de secularización y ateísmo. Y ahí está la historia de la Iglesia católica uniendo a sus indudables luces las sombras de sus egoísmos e intereses mezquinamente humanos. También ella tiene las manos sucias. Por lo demás, es bien conocido que la capacidad secularizadora del protestantismo no es un «novum» de la Reforma, sino que hunde sus raíces en la tradición bíblica del Antiguo Testamento. De ahí, pues, que muchos autores (R. GUARDINI, F. GOGARTEN, entre otros) distingan entre secularización (término positivo) y secularismo (término negativo). Recordemos, por último, la pasión de Lutero por el Deus absconditus, por el Dios oculto. Lutero, como su época, no cuestiona la existencia de Dios; pero lo percibe como oculto y misterioso. Llegará a decir que, a veces, Dios actúa como si fuese el demonio... La sensibilidad de Lutero por el Dios oculto y misterioso, tan alejada de las evidencias escolásticas decadentes, tiene su origen en la Biblia. Dios aparece en ella como misterio y trascendencia absoluta. Pero también se nutre del neoplatonismo, con el que Lutero estaba familiarizado. La imposibilidad de conocer el fundamento último del mundo, tan familiar al neoplatonismo, influyó poderosamente en el Reformador. La Reforma, un acontecimiento intracristiano, está en los orígenes del ateísmo contemporáneo. Con esta constatación no estamos emitiendo un juicio negativo sobre este decisivo acontecimiento de la historia del cristianismo. La Reforma era necesaria, y Lutero fue el genio religioso que la puso en marcha. La consecuencia más negativa de la Reforma, la división de la Iglesia, no fue pretendida ni querida por Lutero. Eso sí: una Iglesia dividida era una Iglesia desmitificada en la que eran posibles diversas concepciones de Dios. Partiendo de este hecho, importantes sectores de la modernidad pasarán a no tener «ninguna»
concepción de Dios. Profesarán abiertamente el ateísmo.
2 La provocación hegeliana
EL ATEÍSMO HUMANISTA siente pasión por el hombre. Es ateo porque no logra compaginar la realidad de Dios con el drama del hombre. Lo que le escandaliza no es que en este mundo exista el mal, sino que haya tanto mal. En este sentido, podría parecer que HEGEL -de él fue discípulo L. FEUERBACH, el padre del ateísmo contemporáneo- es un buen compañero de viaje del ateísmo humanista. En efecto, en una primera aproximación, HEGEL muestra gran sensibilidad para el lado negativo de la vida. Incluso llegó a describir la historia universal como un «matadero». Contemplando el escenario de las pasiones humanas, de las luchas e intereses que mueven el curso de la historia, HEGEL constató que se imponía a todos los niveles la «categoría del cambio» con sus secuelas de muerte y destrucción. Ante sus ojos aparecía gráficamente el cambio «de individuos, pueblos y Estados que ocupan la escena durante un corto espacio de tiempo... para desaparecer después». La contemplación de las ruinas de viejas culturas le lleva a considerar el lado negativo del cambio. El cambio va acompañado de muerte. Una muerte que siempre suscita preguntas últimas: «Pero al considerar la historia como ese matadero sobre el que son sacrificadas la felicidad de los pueblos, la sabiduría de los Estados y la
virtud de los individuos, surge necesariamente la pregunta: ¿a quién, a qué finalidad última han sido ofrecidos estos crueles sacrificios?»20.
También GOETHE, por la misma época, describía la historia como «un conglomerado de sinsentido para todo pensamiento
superior»21. Pero para HEGEL, la historia no es una amalgama de cambios sin rumbo: «La categoría del cambio va unida a otro aspecto: del fondo de la muerte surge nueva vida»22. Y es que, para el hombre occidental, la historia es una historia del Espíritu. Y, aunque también el Espíritu sabe de luchas y destrucción, retorna siempre a sí mismo elevado y transfigurado. De esta forma, la historia de la humanidad avanza hacia grados superiores de realización. HEGEL acabará reemplazando la imagen del mero cambio por la de una realización espiritual que afecta incluso a los condicionamientos naturales de la historia. HEGEL sabe que su concepción de la historia, orientada irresistiblemente hacia una finalidad futura y superior, es deudora del cristianismo. En efecto, la concepción bíblica de la historia afirma que ésta es una línea que avanza hacia una finalidad última y está guiada por la providencia de una voluntad divina. En el lenguaje de HEGEL: está guiada por el Espíritu o por la razón como una esencia absolutamente poderosa. De ahí que el único pensamiento que la filosofía debe tener presente al meditar sobre la historia es «que la razón domina al mundo». El proceso histórico es concebido según el paradigma de una futura realización del reino de Dios. La filosofía de la historia se convierte así para HEGEL en una especie de
teodicea23.
PROVI/HEGEL: La doctrina cristiana sobre la providencia coincide, según HEGEL, con su idea de que la razón rige la historia del mundo. Sólo que, como el concepto de providencia es demasiado indeterminado y regional, no puede aspirar a lograr validez filosófica. De ahí que la filosofía esté llamada a asumir la tarea de la religión cristiana explicando cómo realiza Dios sus planes en el mundo. Para compaginar la historia universal, tal como se ofrece ante nuestros ojos, con el plan y las intenciones de Dios, recurre HEGEL a un concepto muy importante en su filosofía de la historia: «la astucia de la razón». Es ella la que actúa a través de las pasiones e intereses de los hombres. En este sentido, no es casualidad, sino algo esencial a la historia, el que los resultados de los grandes acontecimientos humanos no coincidan con lo que los hombres que los protagonizaron pretendían. HEGEL ofrece ejemplos concretos: ni César ni Napoleón sabían, ni podían saber, lo que hacían cuando consolidaban sus dominios. Pero, sin saberlo, estaban realizando un plan general para la historia de
Occidente. Siguiendo sus instintos, se convirtieron en instrumentos para la realización de un plan superior. Detrás de su actuación histórica actuaba la «astucia de la razón»24, el concepto racional equivalente a providencia
De esta forma, sin ser conscientes de ello, los individuos y los pueblos se convierten en instrumentos en las manos de Dios. Los resultados finales en su actuación superan las metas que ellos se habían propuesto. El Espíritu universal triunfa sobre los planes de los individuos, llegando incluso a cambiarlos. Este triunfo va siendo progresivo. La historia universal se inicia en Oriente, pero termina en Occidente. Europa, dirá HEGEL, es sencillamente el final de la historia. En ella, el Espíritu ha llegado a su plenitud. Gracias al influjo del cristianismo, la libertad no es ya patrimonio de un tirano (Oriente), ni de unos pocos que han logrado escapar a la condición de esclavos (Grecia, Roma), sino del hombre en cuanto tal (pueblos germánicos).
El hombre de la antigüedad se sentía dependiente de fuerzas ajenas a él, de un fatum al que había que consultar a la hora de tomar decisiones importantes. Esta vinculación a una autoridad externa, de la que se depende, es abolida por el cristianismo, que sitúa al hombre en una relación directa con el Absoluto. No puede ya extrañar que HEGEL vea en Cristo el punto culminante de la historia. Con él, el tiempo ha alcanzado su plenitud. Y todo esto será posible gracias a que el Dios cristiano es Espíritu y hombre al mismo tiempo. De ahí que la historia se divida en antes y después de Cristo25.
La religión cristiana, interpretada en clave especulativa, permitió a HEGEL su grandiosa visión de la historia universal. En ella, la aparición del cristianismo pone fin a la escisión entre lo interior y lo exterior. Esta reconciliación justifica -siempre según HEGEL- todos los sacrificios
que lentamente la fueron preparando. La historia del mundo, en cuanto realización del espíritu cristiano, es la auténtica teodicea, la justificación de Dios. Tal vez por ello pudo HEGEL afirmar que «la historia del mundo era el juicio del mundo». Sin duda, para HEGEL la historia del mundo, la historia universal, se justifica a sí misma. Dijimos antes que, en nuestros días, se observa una clara renuncia a hacer filosofía de la historia. Tal vez para no incurrir en los fallos de HEGEL. Su síntesis fue demasiado brillante, demasiado «ideal» para soportar el peso de la realidad. Es natural que se anunciara en seguida una reacción de signo contrario. Es la que vamos a ver a continuación.
3 La reacción atea
HEGEL llegó a convertir la existencia de Dios en una especie de silogismo. Recuérdese su recuperación del argumento ontológico de San Anselmo, que KANT había rechazado. HEGEL llega a deducir a Dios de la historia, igual que la filosofía griega lo deducía de la realidad del cosmos. Pero, a partir de 1831, fecha de la muerte de HEGEL, la filosofía emprendió tareas de recuperación. Ante todo, el interés se centra en la transformación de lo que HEGEL se había limitado a interpretar. Se vuelve la mirada a este mundo finito y contingente del que HEGEL no había querido partir para acceder a Dios. El olvido de la finitud, central en el sistema hegeliano, es sometido a correcciones fundamentales. A partir de ahora, de una forma u otra, se partirá de abajo, del hombre, de los procesos económicos, de las realidades sociales y sus sangrantes retos. Por otra parte, nadie se atreverá, como lo había hecho HEGEL, a erigir su propio sistema filosófico en clave interpretativa última de la realidad. Se cobra conciencia de la provisionalidad. Nadie cree estar al final de la historia, sino más bien en sus pobres comienzos. Se apaciguan todos los conatos de alcanzar el telos último de la historia y se
centran los esfuerzos en tareas de restauración inmediata. K. MARX, pero también L. FEUERBACH, anticipan el contenido de la brillante frase de A. CAMUS: lo urgente es curar. La realidad les invitaba a intervenciones de urgencia. Y es que, mientras HEGEL alcanzaba metas insospechadas de especulación, en la Europa que él consideraba «el final de la historia», los niños de ocho y diez años eran triturados por las máquinas junto a las que habían trabajado dieciocho horas hasta que el sueño los vencía y caían inconscientes sobre sus instrumentos de trabajo. En realidad, el sistema hegeliano sólo se sostenía en la corte prusiana. La «aldea», como diría K. BARTH, nunca se enteró de que un gran filósofo había solucionado todos los problemas posibles...
Fue el desafío hegeliano, aunque no sólo él -habría que analizar todas las complejas causas del ateísmo humanista-, el que condujo a una triple reacción o, si lo prefieren, a tres clases de ateísmo humanista.
a) Feuerbach, Marx y Freud26
DESGRACIADAMENTE, no nos es posible, considerado el corto espacio de que disponemos, analizar detenidamente a estos tres autores. Todo el que tenga una ligera idea de su importancia lo comprenderá. Nuestra misión aquí es simplificar. Digamos, para tomar en seguida en serio nuestra tarea, que los tres coinciden en considerar la idea de Dios como proyección. Todo aquello que el hombre desea y no puede alcanzar lo proyecta en un Dios lejano e inaccesible. El hombre pobre -escribió FEUERBACH- tiene un Dios rico. Dios es lo que el hombre sueña para sí mismo. MARX y FREUD aplicarán esta teoría al campo social y psicoanalítico respectivamente, pero sin añadirle elementos esencialmente nuevos. El auténtico padre del ateísmo contemporáneo es, por tanto, FEUERBACH. No seria exagerado afirmar que FEUERBACH representa el primer intento, conscientemente programado, y hasta cierto punto logrado, de implantar el ateísmo en la historia de la humanidad. Así lo percibió K. MARX que, en lo referente a la crítica de la religión, no ve otro camino que el que pasa por FEUERBACH. «Para Alemania -escribe MARX-, la crítica de la religión está en lo esencial
concluida»27 . Alemania ha pasado, piensa MARX, por el baño de fuego que significa etimológicamente Feuerbach. Y añade: FEUERBACH es el purgatorio del presente28. Esto explica que, a pesar de las importantes correcciones hechas por MARX a la crítica de la religión de FEUERBACH, asuma en lo esencial sus tesis y se sienta dispensado de grandes profundizaciones personales en el tema. Curiosamente, FEUERBACH comenzó estudiando teología. También lo habían hecho HEGEL y SCHELLING. El mismo camino siguieron catorce de los treinta y dos compañeros de clase de MARX. La teología protestante de la época gozaba de gran prestigio (SCHLEIERMACHER enseña en Berlín) y atraía a los mejor dotados. Recordando sus orígenes teológicos, escribirá FEUERBACH: «Dios fue mi primer pensamiento, la razón mi segundo, el hombre mi tercero y último»29. Hay quien afirma que el primer pensamiento, Dios, le atormentó durante toda su vida. Pero lo cierto es que, después de haber pasado brevemente por un período que NIETZSCHE llamaría de hegelitis («la razón fue mi segundo pensamiento»), FEUERBACH se centra en el hombre. Su afán será liberar al hombre de todo posible rival, aunque éste sea Dios. Es lo que se ha llamado la reducción antropológica. Su consigna es bien gráfica: el hombre debe dejar de ser candidato del más allá para convertirse en estudiante del más acá. De los amigos de Dios hay que hacer amigos de los hombres, de los creyentes pensadores, de los orantes trabajadores, de los hombres divididos hombres enteros30.
Se trata de recuperar lo terreno, de evitar toda posible emigración de este mundo. La obsesión por el cielo repercute en detrimento de la tierra. El que cree en Dios, piensa FEUERBACH, tiende al escapismo y a la pasividad. Pensando que Dios puede arreglarlo todo, se cruza de brazos. Además, Dios empobrece al hombre. FEUERBACH está convencido de que «cuanto más pone el hombre en Dios, tanto menos retiene para sí»31. Cuanto más lucha el hombre por engrandecer a Dios, tanto menos énfasis pone en sus propias reivindicaciones históricas. En vez de transformar su propia realidad, malgasta sus energías acumulando atributos de perfección en un ser celeste al que llama Dios. Dios se convierte así en «la suplencia de un mundo perdido, en producto de la necesidad humana»32.
El hombre sueña, pero proyecta sus sueños en Dios y se queda más pobre de lo que estaba.Es la necesidad humana la que conduce al hombre a Dios. Al tenerse que debatir entre precariedades, el hombre tiende a imaginar un cielo que carezca de ellas. Y como la precariedad por excelencia es la muerte, FEUERBACH escribirá: «Si el hombre no tuviera que morir, no habría religión»33. La religión es, pues, producto de la necesidad humana. Es una consecuencia de la falta de resignación de los humanos. Son ellos los que crean la religión. Dios debe su existencia al hombre y no al contrario. La conclusión se intuye: FEUERBACH desea que el hombre deje de ser benefactor de los dioses y se centre en sí mismo, en la superación de sus deficiencias y precariedades. En definitiva, desea que «el hombre sea Dios para el hombre». A esta tarea dedicó su vida. Cuando en 1848 estalla la revolución y le piden que empuñe las armas, responde: me voy a Heidelberg a dar clases sobre la esencia de la religión. Dentro de cien años no habrá dudas de que así he ayudado más a la humanidad. FEUERBACH murió en 1872, a los sesenta y ocho años. En sus últimos años conoció la pobreza, la enfermedad y el olvido de los amigos. Eso sí, como suele ocurrir casi siempre éstos se dieron cita ante su tumba para pronunciar sentidas oraciones fúnebres. Los cronistas hablan de veinte mil personas en su entierro. Una de ellas habló de su «amor a la verdad». Es evidente la intención humanista de FEUERBACH. En una época en la que las iglesias y la teología defendían a Dios a costa del hombre, el más allá a costa del más acá, FEUERBACH habló en favor del hombre. Es cierto que se pasó al otro extremo y disolvió la teología en antropología. Dejó así a otros la nada fácil tarea de relacionar rectamente lo humano y lo divino.Contra lo que pudiera parecer, la teología actual no tiene dificultad en aceptar la teoría de la proyección de FEUERBACH. La idea de proyección intenta resaltar la fuerza creadora del espíritu humano. Reconoce que la idea de Dios es también un producto de lo que BLOCH llamaría «latencias y potencias» del hombre. Sólo que para la teología no se trata de un producto accidental, sino de una componente esencial de la autocomprensión humana. En este sentido, la idea de Dios no sería desechable sin más como mera ilusión o engaño. La teología es bien consciente de que Dios tiene que ver con el deseo humano; pero piensa -con razón- que este dato no debe convertirse en un argumento contra la existencia de Dios. El argumento «lo deseo, luego no existe» no se sostiene. Eso sí: tampoco una apologética cifrada en el «lo deseo, luego existe» contribuiría a hacer plausible la existencia de Dios. El proceso mediante el cual un creyente del siglo xx «da razón de su esperanza» es, sin duda, mucho más complejo y menos proclive a la lógica silogística. Algún atisbo de este proceso ofreceremos en la última parte.Decíamos que la teología actual pone de relieve que la idea de Dios no es algo accidental en la vida del hombre, sino que pertenece esencialmente a lo más íntimo de su ser. Tanto es así que algunos teólogos no tendrán reparos en aceptar la tesis de H. BRAUN que afirma: «El ateo desfigura al hombre»34. BRAUN llega a preguntarse si existe el ateo... Sin ir tan lejos, W. PANNENBERG considera que el ateísmo es un producto tardío de la civilización occidental. «De suyo», el hombre es un ser religioso.
Nos resulta difícil pronunciarnos sobre este tema. Aunque es posible que el conjunto de la exposición ilumine algo este punto, nos atrevemos a anticipar que lo seguro es que el hombre es un misterio, una pregunta abierta (recuérdese a San Agustín). Es cierto que K.
RAHNER y muchos otros han hablado del «a priori religioso». Pero se dan cita en esta expresión tantos presupuestos intrateológicos y ontológicos que, en nuestro marco, no podemos pronunciarnos sobre ellos. Preferimos limitarnos, en este momento, a sugerir dos enunciados: 1) La afirmación «el hombre es un misterio» no permite muchas adiciones posteriores. Constatar que es un misterio y añadir a continuación que es religioso, racional, sociable, político, faber, ludens , simbólico, económico, etc., puede desembocar en una cierta
contradicción. 2) En nuestra época, muchos hombres se confiesan ateos. Afirman explícitamente no creer en Dios. No parece buen método de diálogo replicarles que, aunque no lo sepan, poseen un «a priori religioso». Digamos, para terminar estas breves reflexiones sobre FEUERBACH, que la teología de su tiempo, con su intimismo exagerado, contribuyó no poco a la reacción atea de FEUERBACH. Una teología como la de SCHLEIERMACHER, que ponía todo su énfasis en el «sentimiento», en «las necesidades del corazón del hombre piadoso», tenía que suscitar necesariamente la sospecha de si, en definitiva, la religión no se reducía a eso: a sentimiento, a deseos, a proyecciones de los humanos. En sus hermosas páginas sobre Feuerbach, K. BARTH insiste en esta posible «culpa» de la teología (en su libro La teología protestante en el siglo XIX). No podemos desarrollar el ateísmo humanista de MARX y FREUD. Hemos dicho que, en realidad, se limitan a aplicar la teoría de FEUERBACH al campo social y psicoanalítico respectivamente. Nos limitamos a recordar la crítica de MARX a FEUERBACH. Era una ilusión de Ludwing FEUERBACH, piensa MARX, creer que destruyendo una ilusión de la humanidad se hace a ésta feliz. No basta con arrancar de las cadenas las flores imaginarias para que el hombre las soporte sin fantasías ni consuelos. Lo importante es acabar con las cadenas, transformar ese valle de lágrimas «que la religión rodea de un halo de santidad»35.
Frente a Feuerbach, MARX insistirá en que el hombre no es un ser abstracto, «agazapado fuera del mundo». El hombre es el mundo de los hombres, el Estado, la sociedad. Es ahí donde hay que dar la batalla. Son ellos los que, al crear un mundo invertido, producen la
religión. La lucha contra la religión es la lucha contra ese mundo invertido, «del cual la religión es el aroma espiritual». Con notable concisión y belleza, dirá MARX: «La miseria religiosa es, por una parte, expresión de la miseria real y, por otra, protesta contra esa miseria. La religión es el suspiro de la creatura oprimida, el corazón de un mundo sin corazón, el espíritu de una situación carente de espíritu. Es el opio para el pueblo»36. Y añade: «La crítica de la religión desemboca en la doctrina de que el hombre es el ser supremo para el hombre y, por consiguiente, en el imperativo categórico de echar por tierra todas las situaciones en las que el hombre sea una esencia humillada, esclavizada, abandonada y despreciable; relaciones que no pueden describirse mejor que con la exclamación de un francés cuando se proyectaba crear un impuesto sobre los perros: ¡Pobres perros! ¡Quieren tratarlos como a seres humanos!»37.
A MARX no le basta una reconciliación que se dé sólo en la cabeza de HEGEL; tampoco le satisfacen las brillantes interpretaciones de FEUERBACH sobre la religión. Desea bajar al terreno de la praxis y transformar el Estado y la sociedad. Tal vez esto explique sus preferencias por Prometeo. Alguna vez reveló a su hija que Prometeo era su modelo. Le fascinaba este héroe rebelde y ateo que se sacrifica por los hombres penetrando en el santuario de los dioses y arrebatándoles su fuego. Prometeo encadenado simboliza para él el proletariado encadenado por las clases dominantes. Con frecuencia citará la frase de Prometeo en Esquilo: «En una palabra: yo odio a todos y cada uno de los dioses». Prometeo es para MARX el santo más importante del calendario filosófico. También NIETZSCHE admiraba en Prometeo «el esplendor de la actividad». Para otros pensadores, como BACON, Prometeo representa la confianza titánica en la capacidad investigadora del espíritu humano. ¿Hay sitio en el calendario cristiano para Prometeo? ¿Es Cristo lo contrario de Prometeo? La espiritualidad cristiana ha visto con frecuencia en Jesús una especie de cordero antirrevolucionario, un símbolo de sometimiento, paciencia y resignación. Mientras tanto, el marxismo era tachado de reducción antropológica contraria a la gracia. Hoy los anatemas han cedido el paso al diálogo. J. M. GONZÁLEZ RUIZ afirma que la gracia no es una intromisión que quiera oscurecer la grandeza épica de Prometeo. El Dios cristiano no se reserva el «fuego», al estilo de los dioses de la mitología. Y el hecho de que no podamos encasillar a Jesús dentro del movimiento revolucionario zelota de su tiempo no significa que debamos considerarlo como un cordero antirrevolucionario. Es verdad que no se le conocen acciones «eficaces» de signo zelota. No estaba allí cuando este grupo político se arriesgó a
quemar los archivos en los que estaban consignadas las deudas de los pobres... Pero parece cierto que «su revolución» caló más hondo que la zelota. Lo espectacular no es siempre garantía infalible de eficacia duradera. A los zelotas sólo los conoce un reducido grupo de especialistas. En cambio, el proyecto utópico de Jesús se sigue barajando como posible ayuda para abandonar este negro túnel de egoísmo y amenaza de guerra total que ensombrece las perspectivas de futuro de la humanidad.
b) El argumento moral
LA SEGUNDA CORRIENTE de ateísmo humanista, en la que -igual que en la tercera- apenas insistiremos por falta de espacio, afirma que este mundo, con su carga de injusticia y sufrimiento, no es reconciliable con la bondad y omnipotencia de Dios. Es el llamado argumento moral contra la existencia de Dios. A. CAMUS y F. M. DOSTOYEVSKI son sus representantes más apasionados. Ambos dejaron constancia de su grandeza moral al negarse a «Comprender e integrar» el sufrimiento humano, en especial el de los niños. El médico de La peste (CAMUS) despliega una arriesgada e intensa actividad en favor de los apestados, mientras el teólogo de Orán (un jesuita) lanza tópicos escolásticos desde el acostumbrado púlpito.
ATEISMO/OMNIPOTENCIA: OMNIPOTENCIA/ATEISMO: Obviamente, la teología no intenta rebatir este argumento. Es muy consciente de que se trata de la objeción más seria a la que se enfrenta la idea de Dios. Es más: la misma teología es culpable de fomentar este género
de ateísmo hablando muy abstractamente de la omnipotencia de Dios. Una teología que, sin tener en cuenta las luchas y los sufrimientos de la historia, habla alegremente de la omnipotencia de Dios, se convierte ella misma en causa del ateísmo contemporáneo. No es que propongamos desterrar, sin más, del lenguaje teológico el tema de la omnipotencia de Dios; pero pensamos que, si se ven razones muy importantes para mantenerlo, habría que hablar de ella en futuro. Teólogos como PANNENBERG y MOLTMANN la entienden como expresión de una esperanza: la esperanza de que el amor de Dios triunfe sobre el lado oscuro y absurdo de este mundo. Se trata, por supuesto, de un triunfo futuro, que aún no suprime la negatividad inherente a lo humano, pero que supone distensión ante lo que
oprime y desconcierta.
MAL/OMNIPOTENCIA-D: Nadie mejor que J. MOLTMANN, en su libro El Dios crucificado, ha comprendido la dificultad de compaginar la omnipotencia de Dios con la teología de la cruz. La omnipotencia de Dios, afirma MOLTMANN, pasa por la impotencia de la cruz. Se trata, por tanto, de una omnipotencia que, en el ámbito de la historia, convive con el dolor y la muerte. Sus promesas de victoria son de índole escatológica. Se trata, sin embargo, de promesas que responden a las aspiraciones humanas más profundas. Sólo así se explica que la fe en Dios haya resistido el peso de tanto mal a lo largo de la historia. Los humanos -muchos de ellos- nunca abandonaron la esperanza de que ese Dios, que no parece poder evitar su dolor, haga justicia a sus causas más allá de la muerte. Es así cómo, generación tras generación, los creyentes -al menos los cristianos- abandonan este mundo entre el temor y la esperanza. Y seguimos viviendo sin noticias de lo que les ocurre en el más allá. Sólo la fiabilidad de las viejas promesas bíblicas avala la esperanza. Sólo ellas -Pablo, por ejemplo- se atreven a increpar al mal preguntándole dónde está su aguijón y su victoria. A los demás, ese aguijón y esa victoria nos son demasiado familiares.
c) El ateísmo de la libertad
FILÓSOFOS como NIETZSCHE, N. HARTMANN y J. P. SARTRE afirman que Dios y la libertad humana se excluyen. De suyo, esta forma de ateísmo afecta sólo a una determinada concepción teológico: a la que considera el mundo como un todo acabado y perfecto. En efecto, sólo si la creación aparece como un dechado de perfección, que haga inútil y superfluo todo ulterior esfuerzo humano, carece de sentido hablar de libertad. Pero el Dios cristiano no coloca al hombre frente a un mundo acabado y perfecto ante el que sólo quepa la aceptación o el rechazo. Más bien llama al hombre a que transforme y perfeccione el universo. El mundo no es un resultado logrado, sino un torso lleno de fisuras y opacidades que invitan al esfuerzo y a la transformación.
Es más: no sólo el mundo, sino también el reino de Dios está in fieri. PANNENBERG llegará a afirmar que la misma realidad de Dios se encuentra en camino. Y lo explica: Dios se identifica con su reino; pero es evidente que ese reino, con sus notas de humanidad lograda y justicia plena, no está aún presente en la historia. De ahí que PANNENBERG afirme que «la forma de ser de Dios es el futuro»38. A ese futuro remite PANNENBERG la prueba definitiva de su existência
Ponemos aquí fin a nuestra evocación de algunos rasgos del ateísmo humanista. Se trata de un ateísmo motivado por una gran fidelidad al hombre. De ahí su «simpatía» y el influjo que ha ejercido a lo largo de la historia. A lo largo de la exposición hemos apuntado posibles respuestas de la teología. Pero este tema hay que hacerlo objeto de un estudio más detallado.
4 Respuesta de la teologia
a) No a las pruebas
PUEDO ASEGURAR que la teología actual no desea renovar las pruebasde la existencia de Dios. Su diálogo con el ateísmo contemporáneo no está motivado por exigencias de tipo apologético. Es más: teólogos como PANNENBERG, TILLICH y EBELING piensan que las tradicionales pruebas de la existencia de Dios, en las que tanto insistía la teología natural, más que asegurar la existencia de Dios, pretendían mostrar la finitud del hombre y del mundo. Tales pruebas sólo remitirían a la condición finita y contingente del hombre; pero no serían la respuesta a esa contingencia. Su misión sería la de poner de manifiesto que es necesario ir más allá del hombre y del mundo, si se aspira a lograr un fundamento sólido para la realidad. Las pruebas de la existencia de Dios son, por tanto, un buen testimonio de que el hombre supera todo lo finito y busca la explicación última de las cosas en una instancia superior a él. (Recuérdese la frase de KIERKEGAARD: «Hay que ser más que hombre para ser al menos hombre».) Este es el sentido que da HEGEL a las pruebas de la existencia de Dios. HEGEL es consciente de que se trata de un proceder ilegítimo, ya que, partiendo de la realidad finita, se pasa a afirmar la existencia de Dios, que pertenece a otro orden de realidad. Pero HEGEL las mantiene como expresión formal de que el hombre supera lo finito. Precisamente porque es consciente de que no es legítimo hacer depender la existencia de Dios de la realidad finita, renueva el argumento ontológico de San Anselmo y lo defiende frente a la crítica kantiana. La ventaja del argumento ontológico radica en que el punto de partida no es la realidad finita, sino el concepto de Dios. Lo específico de este
argumento es pasar del concepto de Dios -"aquello mayor de lo cual no se puede pensar nada"- a su existencia. San Anselmo piensa que si es lo mayor que se puede pensar, tendrá que tener la existencia. De lo contrario, cualquier otra cosa existente sería mayor que él, ya que tendría una perfección -la existencia- que Dios no tendría. San Anselmo nos viene a decir que, en el concepto de Dios, coinciden esencia y existencia. La idea de Dios no es pensable sin su existencia. HEGEL no aceptará la distinción kantiana entre el orden del ser y el del pensamiento, que tan gráficamente había sido expuesta por el filósofo de Kónigsberg afirmando que no es igual tener cien monedas en la cabeza o en el bolsillo... Para HEGEL, el problema consistirá en explicar cómo se llega al concepto de Dios. Concluirá que se trata de un concepto necesario, hacia el que el hombre está esencialmente orientado. El concepto de Dios pasa por tanto, a ser parte esencial de la antropología actual. HEGEL ha antropologizado las pruebas de la existencia de Dios. El hombre está más en el centro que
nunca. Las pruebas de la existencia de Dios no demuestran que exista Dios sino que el hombre lo necesita radicalmente. Éste es el sentido que da la teología a este importante capítulo de la
historia del pensamiento occidental. La teología es bien consciente de que Dios es un misterio que se resiste a todo género de pruebas. Ya vimos que este ocultamiento de Dios no es un descubrimiento reciente. Se trata de un topos hondamente bíblico, evocado con gran profundidad por LUTERO. El ocultamiento de Dios es consecuencia de su trascendencia. Dios no es un objeto más de los que integran nuestro mundo de cosas. La experiencia humana no capta a Dios como un objeto entre otros. Dios no llega nunca directamente al receptor. Se requiere un laborioso esfuerzo para descubrir sus huellas en la realidad que nos rodea. La reflexión teológico sólo puede hablar de él indirectamente, a través de sus aplicaciones en la vida de los creyentes.
D/EXISTENCIA/PRUEBAS: En nuestros días, las pruebas de la existencia de Dios quedaron definitivamente sentenciadas por D. BONHÖFFER: «Einen Gott den es gibt, gibt es nicht»39, había escrito este creyente del siglo xx, fusilado por el régimen de Hltler el 9 de abril de
1945.
La frase alemana posee tal densidad que cualquier traducción resulta pobre. La idea es que no es posible hablar de Dios como de un objeto más de los que nos rodean. Un Dios, cuya existencia fuese constatable, no sería realmente Dios. La teología no afirmará nunca que puede probar la existencia de Dios. Se remitirá siempre a su revelación gratuita y tratará de descubrir su presencia en la historia, en las religiones y en la vida de los pueblos. La existencia del Dios cristiano no es objeto de prueba, sino de esperanza y confianza. Determinados hombres se sienten con fe, es decir, capaces de soportar «la incertidumbre objetiva, mantenida a través del escándalo del absurdo, por la pasión de la interioridad» (KIERKEGAARD). La dialéctica cristiana se mueve, pues, entre el «ya» y el «todavía no», presente en todo el Nuevo Testamento. La salvación es ya real, pero no invade aún todos los ámbitos de la vida. Es necesario esperar. Se explica así el lugar privilegiado que el futuro ocupa en la teología actual. Sólo el futuro decidirá sobre la frase «existe Dios». Esto explica también los recelos de la teología, tanto frente a un ateísmo dogmático como frente a un teísmo precipitado. Una postura atea, que proclame dogmáticamente el carácter ilusorio de la idea de Dios, puede caer en una cierta ligereza intelectual. W. PANNENBERG llega a decir que tal ateísmo descansa en una especie de «barbarie intelectual»40.
Pero también un teísmo precipitado, que cree poder demostrar la existencia de Dios, se atrae las críticas del pensamiento teológico actual. Si la realidad de Dios estuviera tan fuera de toda duda, la vida de los hombres no estaría tan llena de enigmas y problemas acuciantes. Por otra parte, como afirma PANNENBERG, «un Dios cuya existencia pudiese ser demostrada mientras el mundo va de mal en peor y los sufrimientos de los hombres claman al cielo, no sería la solución al oscuro enigma de nuestra vida»41.
Además, desde el punto de vista teológico, hay que insistir en que, tanto para afirmar como para negar la existencia de Dios, es necesario prestar atención a las tradiciones religiosas de la humanidad. No basta con antropologizar las pruebas de la existencia de Dios y afirmar que el hombre puede comprenderse a sí mismo y al mundo que le rodea sin recurrir a la idea de Dios. El hombre y su posible autocomprensión inmanente no son el único criterio para decidir sobre la existencia de Dios. Las tradiciones religiosas son un hecho que es preciso analizar. No parece justo excluir a priori, de forma dogmática y apodíctica, la posibilidad de que contengan un núcleo de verdad. Con otras palabras: aunque el hombre no necesitase existencialmente a Dios, debería ocuparse de las tradiciones religiosas que hablan de él, de cómo surgieron y de cómo se han ido desarrollando a lo largo de la historia. No basta, por tanto, el argumento antropológico. Al mismo tiempo, tales tradiciones religiosas deberán ser analizadas con el método histórico-crítico. No podrá ser la fe ni el dogma quien decida sobre la verdad de estos textos religiosos, sino la investigación histórica. En general, no es misión de la fe ni del dogma informarnos sobre si hace dos mil años ocurrió algo. La única instancia competente en tales temas es la investigación histórica. La fe, para ser auténticamente razonable, presupone un conocimiento de los contenidos en los que cree. De lo contrario sería una decisión ciega, una especie de autosalvación mediante autoconvicciones no contrastadas. Es sabido que gran parte de la teología protestante, en especial la teología dialéctica de K. BARTH y sus amigos, propugna este tipo de fe. A nosotros nos parece más acertada la definición de fe que ofrece el concilio Vaticano I: «Obsequium rationabile». Afirmando que es «obsequio», se excluye un racionalismo burdo; y al defender que es «razonable», se rechaza un fideísmo total. Se intentó una síntesis que aunque sólo es posible en teoría, no debería ser olvidada.
La teología actual intenta ser esencialmente modesta. No desea presuponer la existencia de Dios, sino caminar junto a los que lo buscan. En.un mundo que experimenta a Dios como «misterio absoluto» (K. RAHNER), no sería justo que la teología hablase de él como de una evidencia. Ya importantes hombres de la tradición cristiana, como NICOLÁS DE CUSA, relacionaron el tema «Dios» con la «conjetura». El teólogo está necesariamente obligado a hacer conjeturas. Por lo general, su trabajo parte de la inquietud y de un proyecto de búsqueda humilde y esperanzador.
b) Sí a la esperanza
EL ATEÍSMO humanista fracasa ante la imposibilidad de dar una respuesta positiva a la pregunta por el sentido de la historia. En este fracaso le sigue muy de cerca el teísmo. Y es que tal vez lo verdaderamente importante sea mantener abierta esta pregunta. Se trata de tener capacidad para vivir en la aporía que la historia de cada día pone ante nuestros ojos. Mientras continúe la historia, escribe MOLTMANN42, todo es posible
Hay que dejar abierta la pregunta por su sentido último. Sólo «al volver la última curva» (J. HICK)43, en la verificación escatológica, se rasgará el velo. En este sentido, defendemos la legitimidad de una especie de teología de la pregunta. La mejor forma de hablar de la actuación de Dios en la historia es hacerlo en forma de pregunta, como Job. El que no quiere saber nada de preguntas, difícilmente comprenderá lo que significa la palabra «Dios». La condición de posibilidad para comprender lo que significa «Dios» es un «no entender». Un no entender el dolor de la historia y un no entender a Dios mismo, un no poderlo compaginar sin violencia con el resto de la realidad: con el mal, la culpa, el sinsentido, la muerte. Un no poderlo compaginar con el destino trágico de las generaciones que nos precedieron. Con algo de imaginación su recuerdo desencadena problemas insolubles, que impulsan a dejar abierto el sentido de la historia. A veces, quien otorga rápidamente sentido a la historia es por que carece de memoria histórica. Tal vez algo parecido quiso expresar K. LóWITH cuando, en 1949, escribía: «La experiencia humana de la historia es la experiencia de un constante fracaso». Los acontecimientos históricos no ofrecen, según él, el más mínimo indicio de que exista un sentido último y
abarcador. Algo en lo que coincide con la Escuela de Frankfurt, de cuyo pesimismo ante la negatividad de la historia ya hemos hablado.
Desde nuestro punto de vista, el sentido de la historia y de la existencia individual se halla doblemente amenazado:
1) Por su carácter efimero44
ES VERDAD que existen experiencias parciales de sentido. Las hace el artista, el científico, el enamorado..., tal vez todo hombre. Pero se trata de experiencias constantemente amenazadas. En efecto, las más bellas realizaciones humanas, los momentos más densos y felices de la vida, están sometidos a la ambigüedad que caracteriza todo lo finito. Sobre las experiencias más ricas se cierne siempre el temor al fracaso, el.oscuro presentimiento de que incluso el amor y la vida, la fuerza y la salud, caminan inevitablemente hacia su final, sobre todo si tenemos en cuenta que la muerte no es únicamente el final de la vida, sino su amenaza constante. Los logros y progresos del hombre se inscriben siempre en el marco de un acabamiento seguro y penoso. La muerte, con su talante mudo e inmisericorde, arrastra personas y épocas: murieron, por ejemplo, las esperanzas de progreso y bienestar de los años sesenta; quedaron sesgados poderosos impulsos de renovación política y social a nivel mundial; tal vez se nos fueron seres queridos dejando su huella imborrable; y cada día enferma la paz en algún lugar de nuestra geografía. Alguien ha dicho: «Vivir significa enterrar esperanzas». Esta frase refleja una experiencia universal de la humanidad que, antes o después, todo ser humano realiza. Y cada esperanza truncada se convierte en una amputación sensible, aceptada con la resignación del que se rinde ante lo inevitable mientras en su interior todo es protesta. El reto más temible nos lo plantea la muerte. BLOCH la llamaba la «anti-utopía más poderosa». Su fuerza destructora no conoce límites. Y cuando la prepara una larga enfermedad, va minando, día a día, nuestras fuerzas físicas y espirituales. Al final, muere la sombra de lo que fuimos.
Existen, pues, experiencias parciales de sentido. Es necesario recordárselo al ateísmo humanista de signo más pesimista; pero hay que concederle que las preside un horizonte de lucha y agonía. Contempladas desde el final, esas experiencias de sentido son efímeras. Y es necesario verlas desde el final. «La verdad de las cosas finitas -afirmaba HEGEL- es su final».
2) Por su carácter regional
A NIVEL individual es posible que nos sorprendamos en secuencias de felicidad, de plenitud desbordante. Pero si nos hacemos eco del lema de Pablo: «¿quién sufre que yo no sufra?», nuestro sentido queda profundamente amenazado. Mientras nosotros gozamos, otros sufren. Es verdad que siempre es posible seguir el lema de BULTMANN45 y buscar el sentido en la propia historia personal.
Pero ¿es humana esta solución? ¿Es posible vivirse individualmente con sentido mientras otros gimen y lloran junto a nosotros? ¿No sería una felicidad insolidaria, lograda a golpe de olvido? Por otro lado, si no se emigra espiritualmente de este mundo, si se mantiene vivo el recuerdo de los miembros menos privilegiados de la historia, ¿es posible hablar de sentido y felicidad? Si se arroja una mirada sobre ese «matadero» (HEGEL), que es la historia universal, ¿no habría que dar la razón a ADORNO cuando afirma que sólo el pensar la esperanza es ya un crimen? Pensamos que el sentido, a costa del olvido de las víctimas, es un sinsentido; y, manteniendo vivo su recuerdo, su «historia passionis» (METZ) ¿es posible vivirse privadamente con sentido? He aquí el dilema. Dilema al que, hace cincuenta años, intentaron dar respuesta, en un debate filosófico-teológico, dos hombres que han marcado la fisonomía espiritual de nuestro tiempo: W. BENJAMIN y M. HORKHEIMER. BENJAMÍN sostuvo que la historia de los muertos, de las generaciones sacrificadas y torturadas, no estaba aún cerrada. HORKHEIMER le escribió: «En último término, su afirmación tiene carácter teológico». Respondió BENJAMÍN que, efectivamente, el recuerdo de los muertos, la solidaridad con ellos, nos prohíbe concebir la historia ateológicamente. Esto es tanto como afirmar que hay que concebirla utopicamente46.
También ADORNO y HORKHEIMER escriben en la Dialéctica de la Ilustración: «Toda política, que no contenga teología, aunque sea de manera muy poco consciente, no dejará de ser, a fin de cuentas, un negocio, por muy hábil que éste sea» Si analizamos qué entiende HORKHEIMER por teología, comprenderemos por qué desea que la política no prescinda de ella: «Teología es... la esperanza de que la injusticia que caracteriza al mundo no permanezca así, esperanza de que lo injusto no sea la última palabra»48. Y también: la teología es «expresión de un anhelo, de una nostalgia de que el asesino no pueda triunfar sobre la víctima inocente»49. En esto, como en tantas otras facetas de su pensamiento, HORKHEIMER es heredero de la tradición de su pueblo, el pueblo judío. En efecto, la fe en la resurrección nació, muy tardíamente, en Israel como un esfuerzo por justificar la presencia de Dios en la historia de su pueblo elegido. Se cree en la resurrección como protesta contra los acontecimientos humiIlantes. Era necesario documentar que la persecución y la derrota, por muy sangrantes que fuesen, no se alzarían con la victoria definitiva. Triunfador último sería Yahvé haciendo justicia al oprimido y concediendo «otra vida» al maltrecho reducto de sus fieles seguidores. Se trataba de gritar que Antíoco IV (175-164), con sus crímenes y crueldades, con sus saqueos y profanaciones, no tendría la última palabra sobre Israel. La resurrección era la esperanza de que el Dios de los ejércitos levantaría de nuevo lo que los tiranos de turno redujeron a tristes cenizas. Así, lentamente, se va abriendo camino la esperanza de los Macabeos: «Tú, criminal, nos privas de la vida presente; pero el rey del mundo resucitará a una vida eterna a los que morimos por sus leyes» (2 M 7,9). Uno de los siete hermanos martirizados increpa al tirano: «Para ti no habrá resurrección a la vida» (2 M 7,14). La imposibilidad de compaginar a Dios con el aspecto injusto y roto, que ofrece este mundo, condujo al hombre moderno al ateísmo y a Israel a su mayor falta de resignación: a concebir otra historia, otro escenario, en el que cambiarían los papeles. A partir de ahora, Israel pensará en una nueva creación, libre de las heridas y desgarrones que caracterizan la hora presente. La tradición judeocristiana, ante el hecho de que las experiencias de sentido poseen un marcado carácter regional; es decir, no alcanzan a todos los hombres, postula la radical apertura de la historia. La última palabra no está dicha, ni siquiera para los muertos. Nuestra tradición religiosa más cercana, el cristianismo, ofrece una respuesta serena y esperanzada a la pregunta por el sentido de la historia: los muertos resucitarán. La esperanza cristiana afirma, pues, que la última palabra sobre el destino de los ya desaparecidos no la tuvieron los verdugos que los torturaron ni la muerte que los venció. La victoria definitiva no será de la muerte, sino de Dios. Al final, se hará justicia a sus causas perdidas, se escuchará la voz de los sin voz, habrá abundancia para los pobres, consuelo para los que gimen y lloran, paz para los perseguidos.
Se trata de una visión de reconciliación final, en la que desaparezcan las contradicciones de la hora presente. El cristianismo no se decide, con CAMUS, a «pensar con claridad y abandonar la esperanza». Más bien mantiene la «esperanza contra toda esperanza» (Rm 4,18), confiando al Dios que resucita a los muertos el futuro de la historia humana. En este sentido, somos herederos de la falta de resignación del pueblo judío. Nos resistimos a que la palabra decisiva sobre el entramado de la historia la pronuncien el azar o el determinismo ciego de las viejas culturas que nos precedieron. En lugar de entregarnos resignadamente a esas fuerzas ciegas, apostamos por la presencia libre y misteriosa de Dios en la historia, confiriendo su sentido último a los acontecimientos. La pregunta decisiva es: ¿en qué se fundamenta nuestra esperanza? ¿Es algo gratuito y ciego? «Pensar es trascender», escribió E. BLOCH. ¿Se reduce la esperanza en la resurrección de los muertos a un trascender voluntarístico? ¿Se trata únicamente de expresar que el pensamiento de que la muerte sea simplemente lo último es impensable? ¿Nos anima solamente ese vigor antropológico que hizo exclamar a E. BLOCH, unos días antes de su muerte, ante la pregunta de J. MOLTMANN por su estado de ánimo: «Der Tod, das auch noch ... !» (¡la muerte, todavía me queda esa experiencia ... !)?
La respuesta a todas estas preguntas la darán los conferenciantes que me sigan. Yo sólo puedo anticipar que el cristianismo habla de la esperanza en la resurrección de los muertos. Y fundamenta esta esperanza en que Dios ha resucitado a Jesús, anticipando así un futuro absoluto de resurrección para todos los hombres. La resurrección de Jesús se convierte así en piedra angular de todo el edificio cristiano. El cristianismo se sostiene porque aun no se ha apagado del todo la esperanza de que, misteriosamente, Dios haya resucitado a Jesús de Nazareth. Se trata de una confianza fundamental que no considera la duda y la pregunta como adulteración, sino como herencia a conservar.
/SAL/021: El mismo Jesús no terminó su historia arropado en una seguridad inquebrantable, sino atormentado por la pregunta: «Dios mío, Dios mío, ¿por qué me has abandonado?» (Me 15, 34). Este grito es el comienzo del Salmo 22. Algunos intérpretes, entre ellos BULTMANN, piensan que se trata de un salmo de desesperación. Jesús habría muerto, como tantos otros hombres, sumido en la desesperación. Otros exegetas, más benévolos, piensan que el Salmo 22 no es de desesperación, sino de confianza puesta duramente a prueba. En todo caso, lo cierto es que no se trata de un salmo de confianza ingenua; más bien revela una muerte conflictiva.
Tal vez no haya inconveniente en que sea ésta la actitud del creyente frente a la historia y su sentido: por un lado, confianza, ya que Jesús de Nazareth parece haber vencido el símbolo último de la negatividad, la muerte; por otro, confianza sometida duramente a prueba, ya que la humanidad y, sobre todo, sus miembros menos privilegiados, aún sienten el peso de la negatividad, preguntan por qué y sienten el anhelo, en frase de HORKHEIMER, por «el totalmente otro».
Conclusión
PERMÍTASEME expresar la sospecha de que respuestas como la que hemos esbozado aquí -modesta y decidida a un tiempo- no habrían exacerbado, sino mitigado, la confrontación del cristianismo con el ateísmo humanista contemporáneo. En todo caso, me gustaría que no se me pudiese aplicar la mordaz ironía de VOLTAIRE: «Sólo hay una pequeña luz (la razón); viene el teólogo, dice que alumbra poco y la apaga». Desgraciadamente, la frase de VOLTAIRE es aplicable a gran parte de la apologética cristiana de los últimos siglos. Un fanatismo incontrolado y una seguridad ingenua, ciega y recalcitrante frente al laborioso progreso de la razón humana, ha cavado una profunda fosa entre la fe y la modernidad. La inexplicable vinculación del cristianismo a viejas y caducas concepciones del mundo y de la historia tiene en su haber una importante cadena de airadas deserciones y silenciosos abandonos. Lo peor es que la voluntad de aprender no parece todo lo nítida que sería de desear. A veinte años del Concilio Vaticano II, asistimos de nuevo en la Iglesia católica a un peligroso desplazamiento de acentos. De nuevo se mira hacia el pasado con el evidente propósito de volver a emplearse en tareas de recuperación no santas. Desde determinadas instancias, se niega el pan y la sal a los hombres comprometidos con el cautiverio de sus pueblos. Se priva así a estos pueblos, bastante desposeídos ya, del carácter liberador del mensaje de Jesús. Las reticencias frente a la teología de la liberación pueden ser de incalculables consecuencias. Terminemos ya. A su manera, el ateísmo humanista ha intentado responder a la pregunta por el sentido de la historia. En definitiva, ha hecho filosofía de la historia. Nosotros, sin dar del todo la razón a M. THEUNISSEN50 cuando afirma que «la filosofía de la historia no sólo ha brotado de la teología, sino que sólo sigue siendo posible como teología» pensamos que la reflexión teológica actual, con los niveles de rigor y compromiso con los marginados que ha alcanzado, puede contribuir no poco a iluminar el precario sentido de la vida.
....................
1 La prueba del laberinto, Ed. Cristiandad, Madrid 1980, P. 111.
2 Ibid.
3 ELIADE, M., La prueba del laberinto. Ed. Cristiandad, Madrid 1980, p. 122.
4 Véase la obra fundamental de E. BLOCH, El principio esperanza, 3 vols., Ed. Aguilar, Madrid 1977, 79, 80.
Remitimos también al Iibro de José A. GIMBERNAT, Ernst Bloch. Utopía y esperanza, Ed. Cátedra, Madrid
1983.
5 MARCUSE, H.; POPPER, K., y HORKHEIMER, M., A la búsqueda del sentido, Sígueme, Salamanca 1976, p.
112.
6 Ibid.
7 TIERNO GALVÁN, E., ¿Qué es ser agnóstico?, Tecnos, Madrid 1975, p. 15.
8 TIERNO GALVÁN, E., ¿Qué es ser agnóstico?, Tecnos, Madrid 1975, p. 33.
9 TIERNO GALVÁN, E., ¿Qué es ser agnóstico?, Tecnos, Madrid 1975, p. 31.
10 TIERNO GALVÁN, E., ¿Qué es ser agnóstico?, Tecnos, Madrid 1975, p. 35.
11 TIERNO GALVÁN, E., ¿Qué es ser agnósticos, Tecnos, Madrid 1975, p. 85.
12 Véase para todo este apartado Peter L. BERGER, Para una teoría sociológica de la religión, Ed. Kairós,
Barcelona 1971, pp. 151-181.
13 BERGER, P. L., Para una teoría sociológica de la religión, Ed. Kairós, Barcelona 1971, p. 161.
14 BERGER, P. L., Para una teoría sociológica de la religión, Ed. Kairós, Barcelona 1971, p. 161.
15 BERGER, P. L., Para una teoría sociológica de la religión, Ed. Kairós, Barcelona 1971, pp. 161 y ss.
16 BERGER, P. L., Para una teoría sociológica de la religión, Ed. Kairós, Barcelona 1971, p. 162.
17 BERGER, P. L., Para una teoría sociológica de la religión, Ed. Kairós, Barcelona 1971, p. 162.
18 BERGER, P. L., Para una teoría sociológica de la religión, Ed. Kairós, Barcelona 1971, p. 163.
19 BERGER, P. L., Para una teoría sociológica de la religión, Ed. Kairós, Barcelona 1971, p. 158.
20 Vorlesungen über die Philosophie der Weltgeschichie, edit. por G. Lasson, Leipzig 1917, p. 10.
21 Citado por K. LÖWITH, Weltgeschichte und Heilsgeschehen, Stuttgart 1967, p, 56. Véase también del
mismo Autor: Von Hegel Zu Nietzsche, Stuttgart 1969.
22 Vorlesungen über die Philosophie der Weltgeschichie, edit. por G. Lasson, Leipzig 1917, p. 10.
23 LówITH, K., Weltgeschichte und Heilsgeschehen, Stuttgart 1967, p. 57.
24 LówITH, K., Weltgeschichie und Heilsgeschehen, Stuttgart 1967, p. 58.
25 LówlTH, K., Weltgeschichie und Heilsgeschehen, Stuttgart 1967, p. 59.
26 Véanse los capítulos que H. KÜNG dedica a cada uno de estos autores en su libro ¿Existe Dios?, Ed. Cris-
tiandad, Madrid 1979. Sobre Feuerbach véase, además, M. CABADA CASTRO, El humanismo premarxista
de Ludwig Feuerbach, BAC 372, Madrid 1975. Del mismo Autor: Feuerbach y Kant: Dos actitudes
antropológicas, Publicaciones de la Universidad Pontificia Comillas, Madrid 1980. Sobre Marx y Freud véase
M. UREÑA, E., Karl Marx economista, Tecnos, Madrid 1977. Del mismo Autor: La teoría de la sociedad de
Freud, Tecnos, Madrid 1977.
27 Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie, en Werke-Schriften-Briefe, Darmstadt 1962, vol. 1, p. 488.
28 KÜNG, H., ¿Existe Dios?, Ed. Cristiandad, Madrid 1979, p. 305.
29 Fragmente zur Charakteristik meines philosophischen curriculum vitae, en Gesammelte Werke, editado por
W. Schuffenhaucr, Berlín 1971, vol. X, p. 178.
30 Vorlesungen über das Wesen der Religion, en Gesammelle Werke, vol. VI, pp. 30 y ss.
31 Das Wesen des Christemtums, VIII, p. 115.
32 Das Wesen des Christemtums, VIII, pp. 191 y ss.
33 Vorlesungen über das Wesen der Religion, en Gesammelte Werke, vol. VI, p. 41.
34 BRAUN, H., Gesammelte Studien zum Neuen Testament und seiner Umwell, J. C. B. Mohr, Tüblngen 1971,
p. 34I. Para una respuesta desde el ámbito de la fe cristiana, véase KASPER, W.: Inlroducción a la fe,
Sígueme, Salamanca 1976.
35 Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie, en Werke-Schriften-Briefe, Darmstadt 1962, vol. I, p. 489.
36 Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie, en Werke-Schriften-Briefe, Darmstadt 1962, vol. I, p. 489.
37 Kritik der Hegelschen Rechsphilosophie, en Werke-Schriften-Briefe, Darmstadt 1962, vol. I, p. 497.
38 Grundfragen systematischer Theologie, Göttingen 1967, pp. 251 y 393.
39 BONHÖFFER, D., Akt un Sein. Transzendentalphilosophie und Ontologie in der systematischen Theologie,
Munich 1964, p. 94.
40 PANNENBERG, W., Wie kann heute glaubwürdig von Goll geredet werden?,
en F. LORENZ (ed.), Gollesfrage heute, Stuttgart 1969, p. 52.
41 PANNENBERG, W., Wie kann heute glaubwürdig von Gott geredet werden?,
en F. LORENZ (ed.), Gotiesfrage heute, Stuttgart 1969, p. 52.
42 MOLTMANN, J., Goitesbeweise und Gegenbeweise, Wupertal 1967, p. 9.
43 ANTISERI, D., El problema del lenguaje religioso. Dios en la filosofía analítica,
Ed. Cristiandad, Madrid 1976, pp. 136-139.
44 Véase para lo que sigue Manuel FRAljó, La resurrección, sentido para una
humanidad irredenta: «Sal Terrae», 3 (1980), pp. 201-212.
45 BULTMANN, R., Geschichie und Eschatologie, Tübingen 1964, p. 184.
46 PEUKERiIi, H., Wissenschaflslheorie-HandlungstheorieFundamentale
Theologie, Düsseldorff 1976, pp. 278 y ss.
47 MARCIJSE, H., POPPER, K., y HORKHEIMER, M., A la búsqueda del sentido,
Sígueme, Salamanca 19 76, p. 105.
48 MARCUSE, H.; POPPER, K., y HORKHEIMER, M., A la búsqueda del sentido,
Sígueme, Salamanca 1976, p. 106.
49 MARCUSE, H.; POPPER, K., y HORKHEIMER, M., A la búsqueda del sentido,
Sígueme, Salamanca 1976, p. 106.
50 THEUNISSEN, M. Gesellschaft und Geschichie. Zur Kritik der kritischen
Theorie, Berlín 1969, pp. 39 y ss.
MANUEL FRAIJÓ NIETO
REALIDAD DE DIOS Y DRAMA DEL HOMBRE
Cátedra de Teología Contemporánea
Colegio Mayor CHAMINADE. Madrid 1985 . Págs. 9-66
......................................................
por Manuel Fraijó Nieto
Introducción
BAJO el título Realidad de Dios y drama del hombre, los responsables de la CÁTEDRA DE TEOLOGÍA CONTEMPORÁNEA me piden que preste especial atención al «humanismo-ateo»; es decir, a ese ateísmo que se remite a la defensa del hombre como causa última de su opción atea. Se trata de importantes movimientos filosóficos, nacidos sobre todo en el siglo XIX y primera mitad del XX, pero que han mantenido su vigencia hasta nuestros días. Su tesis es bien sencilla: Dios y el hombre se excluyen. Los intentos de armonización terminan perjudicando siempre al hombre. Donde se afirma la existencia de Dios se sentencia al hombre a una situación degradante y alienada. Los dioses expropian a los hombres.
Intentaremos verificar y valorar esta tesis en algunos de sus principales representantes. Pero, antes, permitaseme una observación. Parto de la definición convencional de ateísmo: ateo es el que no cree en Dios. Pero confieso que lo hago a disgusto. Mi conferencia debería
haber ido precedida de otra ponencia de índole filosófico-teológica que, antes de examinar las diferentes clases de ateísmo, analizase la esencia y las condiciones de posibilidad de un proyecto de vida ateo. No hago esta afirmación porque piense que no es posible el ateísmo
(creo que sólo desde presupuestos muy intrateológicos es posible adherirse a la tesis de K. RAHNER sobre los cristianos anónimos), sino sencillamente porque considero que se trata de un fenómeno complejo, cambiante, ambiguo, que nunca debe ser un presupuesto ingenuo.
Más que como una constante, el ateísmo debería ser considerado como una variable a analizar en cada caso. Quisiera avalar esta sospecha con dos textos de un destacado estudioso de las religiones de la
humanidad: M. ELIADE. Preguntado sobre si, como MALRAUX, pensaba que «habrá un siglo XXI religioso o no lo habrá
en absoluto», •ELIADE-M respondió: «No es posible hacer ninguna predicción. La libertad Del espíritu es tal que no es posible anticiparla»1.
Y añadía: «Lo que hace aún más difícil cualquier predicción en este terreno es el hecho de que ciertas formas "religiosas" pueden pasar desapercibidas en cuanto tales. Puede haber una creación tan nueva que al principio, e incluso durante siglos, nadie la considere creación religiosa»2 .
Alude al caso del cristianismo que, en sus comienzos, fue acusado de ateísmo. M. ELIADE aporta una segunda razón para dudar de la posibilidad de la opción atea. El texto merece ser citado íntegramente: «El terror de la historia es para mí la experiencia de un hombre sin religión, que no tiene esperanza alguna de encontrar sentido definitivo al drama histórico, que debe sufrir los crímenes de la historia sin comprender su sentido. Un israelita cautivo en Babilonia sufría enormemente, pero aquel sufrimiento tenía un sentido: Yahvé quería castigar a su pueblo. Y sabía que, al final, iba a triunfar Yahvé, el bien por consiguiente... También para HEGEL, todo acontecimiento, toda prueba era una manifestación del espíritu universal y, por consiguiente, tenía sentido. Se podía, cuando no justificar, al menos explicar racionalmente el mal histórico... Cuando los acontecimientos históricos se vacían de toda significación transhistórica, cuando dejan de ser lo que eran para el hombre tradicional -pruebas para un pueblo o para un individuo-, estamos ante lo que he llamado el terror de la historia»3.
Y como M. ELIADE piensa que el terror de la historia es muy difícil de soportar «a secas», sin posibles reparaciones transhistóricas -no es el único en pensar así; recuérdense los postulados kantianos-, coloca un signo de interrogación detrás de todo alegato o credo ateo.
Tal vez debamos añadir que, por supuesto sin renunciar a su cosmovisión atea, destacados pensadores de la cultura occidental participan de la perplejidad e incluso de la protesta de M.
ELIADE frente al terror de la historia. Y no estamos aludiendo sólo a ese gran pensador utópico, refugio e inspirador de teólogos con antenas para los desafíos que la negatividad histórica plantea al cristianismo de todos los tiempos. No; no nos referimos únicamente a E. BLOCH y a su resistencia frente a la posibilidad de que «las mandíbulas de la muerte acaben triturándolo todo»4.
Son también conocidas las protestas testimoniales de los iniciadores de la Escuela de Frankfurt frente a la carga de negatividad que aqueja a las realizaciones históricas de los humanos. Ellos procedían directamente de los frentes de guerra europeos y
supieron de mutilaciones esenciales que han empañado para siempre la faz de nuestro planeta. Uno de ellos, M. HORKHEIMER, escribía: «La falta de sentido del destino individual, que ya antes estaba condicionada, dada la falta de la razón, por la naturalidad del proceso productivo, se ha constituido, en la fase actual, en la característica más aguda de la existencia. Todos se hallan abandonados al ciego azar. De aquí ese anhelo de justicia plena»5.
HORKHEIMER se resiste a que un mundo en el que «los niños mueren de hambre mientras las manos de los padres arrojan bombas»6 sea la realización máxima de lo que nos cabe esperar.
Sin embargo, no sería honesto omitir que no todos los impulsos del pensamiento actual entonan el mismo «cantus firmus». No todo son inquietudes en el seguimiento de PASCAL o KIERKEGAARD. Se profesa también la renuncia a la inquietud. Existe la nueva versión del agnóstico que proclama: «Yo vivo perfectamente en la finitud y no necesito más»7.
Se contempla la finitud como algo satisfactorio en sí mismo. Nada de ulteriores planteamientos sobre Dios u otra vida. Tales planteamientos denotarían una integración imperfecta en la única realidad existente: la finitud. «Hay lo que hay y nada ajeno a la realidad finita puede admitirse como existente»8.
Lo importante es estar perfectamente instalado en la finitud sin «echar de menos a Dios». Si alguien se cansa de lo finito es porque está «mal educado». Se impone renunciar a los «añadidos escatológicos» y a todo género de «tragedia teológica». Lo sensato será despreocuparse de la existencia de Dios. De todos modos, su verificación no es posible. Además, nos perturba. Es mejor decir: «Todo es mundo, es decir, finitud»9.
Adquiriendo el carnet de agnóstico desaparecen muchos problemas: «El agnóstico instalado en la finitud con su ajuar existencial completo no echa nada de menos; tampoco a Dios»10. Consecuentemente, tampoco ambiciona sobrepasar la vida más allá de las fronteras del mundo ni «desfacer entuertos» históricos en un posible más allá. El agnóstico acepta el perecimiento de lo finito sin refugiarse en ilusiones de pervivencia. «Nada hay más humano y que mejor defina la finitud que perecer» Una «sobrevida» u otra vida está en contradicción con el hombre y con el mundo. Hasta aquí, TIERNO GALVAN en su libro rebosa satisfacción y seguridad. Ha logrado una solución contundente: suprimir el problema. Vale. No le echaremos nada en cara. No nos dedicaremos a buscarle «agujeros» por los que introducir de nuevo subrepticiamente el tema «Dios». Ya BONHOEFFER anatematizó a tales perturbadores de la intimidad. A nosotros sólo nos interesa dejar constancia de que, junto a la inquietud que formula preguntas y se lanza a una búsqueda más o menos desesperada de respuestas, existe también la instalación perfecta en la finitud, la vivencia satisfecha, reconciliada con el perecer y bien avenida «con lo que hay». TIERNO GALVÁN ha rendido un tributo póstumo a ese héroe nacional llamado Sancho Panza, olvidándose de la tristeza y del sentimiento de mutilación esencial (el buen Sancho no entendería estas palabrejas) que invadían a Sancho cuando lo separaban de «su señor». Digamos, para terminar esta ya larga introducción, que aunque sin caer en las «rebajas» de TIERNO GALVÁN11, cada día son más numerosos los pensadores que renuncian a hacer filosofía -¡no digamos ya teología!- de la historia.
Precisamente porque conocen lo que M. ELIADE llama el «terror de la historia», renuncian a procurarle explicaciones últimas. Cunde por todas partes un atrincheramiento en lo fragmentario, nacido de la resignación y la impotencia. A siglo y medio de la muerte de HEGEL declina la búsqueda de explicaciones totalizantes. Tal vez porque el sustrato último sobre el que el gran filósofo alemán edificó todo su sistema, el Dios cristiano, ha perdido la plausibilidad de que en otro tiempo gozó. Personalmente me quedo más tranquilo después de haber cansado al lector con esta introducción. En ella he pretendido evitar que saque la impresión de que sé qué es el ateísmo, de que tengo «clasificados» a los ateos y les hablo del ateísmo humanista como podría haberles hablado del empirista o del que se basa en que Dios y la ciencia son incompatibles. No. Probablemente tanto la fe como la increencia tienen que ver con lo que FREUD llamaba el «oscuro inconsciente». Y ese oscuro inconsciente se resiste a clasificaciones simplistas y a intentos de sistematizaciones cartesianas.
* * * * *
1 Un acontecimiento intracristiano en el origen del ateísmo12
ME REFIERO a la sacudida y a la alteración de esquemas que la rrupción del protestantismo supuso para la Europa cristiana. Frente a la «plenitud» del universo católico, el protestantismo aparece como un truncamiento radical, como una reducción a «mínimos esenciales». P. BERGER ha contrapuesto el «pleroma católico» a la evangélica escasez del protestantismo.13
La Reforma, iniciada por LUTERO, reduce el alcance de lo sagrado en la realidad. El universo sacramental sufre amputaciones sensibles. Los siete sacramentos quedan reducidos a dos: la eucaristía y el bautismo. La negación de la transubstanciación priva a la eucaristía de sus características más numinosas. Los milagros dejan de ser centrales en la vida religiosa. La amplia red de intercesiones que une al católico con los santos y los difuntos queda sensiblemente mermada. Calvino mandó castigar a una mujer porque se le había oído musitar ante la tumba de su marido «requiescat in pace». Poco a poco, y no sin luchas y resistencias, el protestantismo fue ensayando una.relación con Dios
desprovista de milagros y magia. M. WEBER llamó a este proceso «desencantamiento del mundo»14.
El mundo del protestantismo dejaba de estar penetrado de seres y fuerzas sagradas. Todo se reducía a dos polos sumamente austero: la realidad trascendente de Dios y la humanidad «caída». Radical trascendencia de Dios enfrentada a un universo inmanente, cerrado a toda posible connotación sacralizante15.
Desde el punto de vista religioso, el mundo del protestante se vuelve muy solitario. Faltan los «consuelos» eclesiales del católico. Los canales de comunicación entre lo divino y lo humano quedan atascados. El hombre se ve obligado a enfrentarse consigo mismo de un modo que históricamente carecía de precedentes. De ahí que surgieran figuras como las de LUTERO y KIERKEGAARD, forjadas en la soledad y en lucha con la propia subjetividad. De poco sirvió a Lutero que STAUPITZ le recomendase afrontar sus dudas y luchas interiores refugiándose en las llagas de Cristo. Tal solución estaba mediatizada por una instancia eclesial y Lutero había roto ya con esos canales de salvación. El agustino de Wittenberg es ya un hombre moderno que busca la salvación dentro de la propia subjetividad. Las garantías eclesiales no le sirven. FE/MAGIA: Sólo un canal de comunicación con lo trascendente salvó Lutero: la «palabra de Dios»16.
De ahí que dedicara sus mejores energías a traducir la Biblia al alemán. Cuando Lutero realiza su magistral traducción había quince millones de alemanes y sólo circulaban unas seis mil biblias en alemán. Gran parte del clero ni siquiera sabía leer. La religión estaba plagada de magia y superstición. Había comulgantes que se guardaban la sagrada forma para esparcirla sobre sus sembrados con la esperanza de que acabase con las orugas... Otros bautizaban sus perros, caballos y ovejas para protegerlos de las epidemias... Los criminales acudían en seguida a la comunión seguros de que ésta los protegería de caer en manos de la justicia...Lutero intentó hacer frente a tanta magia y decadencia divulgando la palabra de Dios. La Sagrada Escritura se convertirá en norma suprema. Una norma que para Lutero no ofrecía dificultad alguna. Para él la Sagrada Escritura era clarísima en sí misma y no ofrecía dificultades de interpretación. Con la llegada de la modernidad, la situación cambia radicalmente. La Biblia deja de ser un conjunto de libros claros y coherentes. La investigación histórico-crítica no se detuvo ante las páginas sagradas y descubrió en ellas errores, contradicciones e intereses humanos. El único canal que había sido respetado fue desmitologizado y cayó en la implausibilidad. Se abrían así las puertas a lo que P. BERGER llamara la «inundación secularizadora»17, dando lugar a una situación empírica en la que terminaría siendo posible la teología de la muerte de Dios.
La separación entre Dios y el mundo, puesta en marcha por Lutero
radicalizada en nuestros días por la teología dialéctica de K. BARTH y sus amigos, tuvo como consecuencia un «Dios sin mundo» y un «mundo sin DIOS». Había sonado la hora del
ateísmo. Algunos teólogos norteamericanos no dudaron en llamar a K. BARTH padre del ateísmo contemporáneo. El protestantismo se convirtió así, en contra de su voluntad, en un preludio históricamente decisivo de la secularización y del ateísmo. Un cielo vacío de ángeles
se abrió en seguida a la intervención de los astrónomos y, por último, de los astronautas18.
Naturalmente, estamos simplificando. El protestantismo no ha sido el único portador de secularización y ateísmo. Ahí está para demostrarlo la dinámica del moderno capitalismo industrial con el estilo de vida que comporta y la civilización a que da lugar19.
También él ha sido portador de secularización y ateísmo. Y ahí está la historia de la Iglesia católica uniendo a sus indudables luces las sombras de sus egoísmos e intereses mezquinamente humanos. También ella tiene las manos sucias. Por lo demás, es bien conocido que la capacidad secularizadora del protestantismo no es un «novum» de la Reforma, sino que hunde sus raíces en la tradición bíblica del Antiguo Testamento. De ahí, pues, que muchos autores (R. GUARDINI, F. GOGARTEN, entre otros) distingan entre secularización (término positivo) y secularismo (término negativo). Recordemos, por último, la pasión de Lutero por el Deus absconditus, por el Dios oculto. Lutero, como su época, no cuestiona la existencia de Dios; pero lo percibe como oculto y misterioso. Llegará a decir que, a veces, Dios actúa como si fuese el demonio... La sensibilidad de Lutero por el Dios oculto y misterioso, tan alejada de las evidencias escolásticas decadentes, tiene su origen en la Biblia. Dios aparece en ella como misterio y trascendencia absoluta. Pero también se nutre del neoplatonismo, con el que Lutero estaba familiarizado. La imposibilidad de conocer el fundamento último del mundo, tan familiar al neoplatonismo, influyó poderosamente en el Reformador. La Reforma, un acontecimiento intracristiano, está en los orígenes del ateísmo contemporáneo. Con esta constatación no estamos emitiendo un juicio negativo sobre este decisivo acontecimiento de la historia del cristianismo. La Reforma era necesaria, y Lutero fue el genio religioso que la puso en marcha. La consecuencia más negativa de la Reforma, la división de la Iglesia, no fue pretendida ni querida por Lutero. Eso sí: una Iglesia dividida era una Iglesia desmitificada en la que eran posibles diversas concepciones de Dios. Partiendo de este hecho, importantes sectores de la modernidad pasarán a no tener «ninguna»
concepción de Dios. Profesarán abiertamente el ateísmo.
2 La provocación hegeliana
EL ATEÍSMO HUMANISTA siente pasión por el hombre. Es ateo porque no logra compaginar la realidad de Dios con el drama del hombre. Lo que le escandaliza no es que en este mundo exista el mal, sino que haya tanto mal. En este sentido, podría parecer que HEGEL -de él fue discípulo L. FEUERBACH, el padre del ateísmo contemporáneo- es un buen compañero de viaje del ateísmo humanista. En efecto, en una primera aproximación, HEGEL muestra gran sensibilidad para el lado negativo de la vida. Incluso llegó a describir la historia universal como un «matadero». Contemplando el escenario de las pasiones humanas, de las luchas e intereses que mueven el curso de la historia, HEGEL constató que se imponía a todos los niveles la «categoría del cambio» con sus secuelas de muerte y destrucción. Ante sus ojos aparecía gráficamente el cambio «de individuos, pueblos y Estados que ocupan la escena durante un corto espacio de tiempo... para desaparecer después». La contemplación de las ruinas de viejas culturas le lleva a considerar el lado negativo del cambio. El cambio va acompañado de muerte. Una muerte que siempre suscita preguntas últimas: «Pero al considerar la historia como ese matadero sobre el que son sacrificadas la felicidad de los pueblos, la sabiduría de los Estados y la
virtud de los individuos, surge necesariamente la pregunta: ¿a quién, a qué finalidad última han sido ofrecidos estos crueles sacrificios?»20.
También GOETHE, por la misma época, describía la historia como «un conglomerado de sinsentido para todo pensamiento
superior»21. Pero para HEGEL, la historia no es una amalgama de cambios sin rumbo: «La categoría del cambio va unida a otro aspecto: del fondo de la muerte surge nueva vida»22. Y es que, para el hombre occidental, la historia es una historia del Espíritu. Y, aunque también el Espíritu sabe de luchas y destrucción, retorna siempre a sí mismo elevado y transfigurado. De esta forma, la historia de la humanidad avanza hacia grados superiores de realización. HEGEL acabará reemplazando la imagen del mero cambio por la de una realización espiritual que afecta incluso a los condicionamientos naturales de la historia. HEGEL sabe que su concepción de la historia, orientada irresistiblemente hacia una finalidad futura y superior, es deudora del cristianismo. En efecto, la concepción bíblica de la historia afirma que ésta es una línea que avanza hacia una finalidad última y está guiada por la providencia de una voluntad divina. En el lenguaje de HEGEL: está guiada por el Espíritu o por la razón como una esencia absolutamente poderosa. De ahí que el único pensamiento que la filosofía debe tener presente al meditar sobre la historia es «que la razón domina al mundo». El proceso histórico es concebido según el paradigma de una futura realización del reino de Dios. La filosofía de la historia se convierte así para HEGEL en una especie de
teodicea23.
PROVI/HEGEL: La doctrina cristiana sobre la providencia coincide, según HEGEL, con su idea de que la razón rige la historia del mundo. Sólo que, como el concepto de providencia es demasiado indeterminado y regional, no puede aspirar a lograr validez filosófica. De ahí que la filosofía esté llamada a asumir la tarea de la religión cristiana explicando cómo realiza Dios sus planes en el mundo. Para compaginar la historia universal, tal como se ofrece ante nuestros ojos, con el plan y las intenciones de Dios, recurre HEGEL a un concepto muy importante en su filosofía de la historia: «la astucia de la razón». Es ella la que actúa a través de las pasiones e intereses de los hombres. En este sentido, no es casualidad, sino algo esencial a la historia, el que los resultados de los grandes acontecimientos humanos no coincidan con lo que los hombres que los protagonizaron pretendían. HEGEL ofrece ejemplos concretos: ni César ni Napoleón sabían, ni podían saber, lo que hacían cuando consolidaban sus dominios. Pero, sin saberlo, estaban realizando un plan general para la historia de
Occidente. Siguiendo sus instintos, se convirtieron en instrumentos para la realización de un plan superior. Detrás de su actuación histórica actuaba la «astucia de la razón»24, el concepto racional equivalente a providencia
De esta forma, sin ser conscientes de ello, los individuos y los pueblos se convierten en instrumentos en las manos de Dios. Los resultados finales en su actuación superan las metas que ellos se habían propuesto. El Espíritu universal triunfa sobre los planes de los individuos, llegando incluso a cambiarlos. Este triunfo va siendo progresivo. La historia universal se inicia en Oriente, pero termina en Occidente. Europa, dirá HEGEL, es sencillamente el final de la historia. En ella, el Espíritu ha llegado a su plenitud. Gracias al influjo del cristianismo, la libertad no es ya patrimonio de un tirano (Oriente), ni de unos pocos que han logrado escapar a la condición de esclavos (Grecia, Roma), sino del hombre en cuanto tal (pueblos germánicos).
El hombre de la antigüedad se sentía dependiente de fuerzas ajenas a él, de un fatum al que había que consultar a la hora de tomar decisiones importantes. Esta vinculación a una autoridad externa, de la que se depende, es abolida por el cristianismo, que sitúa al hombre en una relación directa con el Absoluto. No puede ya extrañar que HEGEL vea en Cristo el punto culminante de la historia. Con él, el tiempo ha alcanzado su plenitud. Y todo esto será posible gracias a que el Dios cristiano es Espíritu y hombre al mismo tiempo. De ahí que la historia se divida en antes y después de Cristo25.
La religión cristiana, interpretada en clave especulativa, permitió a HEGEL su grandiosa visión de la historia universal. En ella, la aparición del cristianismo pone fin a la escisión entre lo interior y lo exterior. Esta reconciliación justifica -siempre según HEGEL- todos los sacrificios
que lentamente la fueron preparando. La historia del mundo, en cuanto realización del espíritu cristiano, es la auténtica teodicea, la justificación de Dios. Tal vez por ello pudo HEGEL afirmar que «la historia del mundo era el juicio del mundo». Sin duda, para HEGEL la historia del mundo, la historia universal, se justifica a sí misma. Dijimos antes que, en nuestros días, se observa una clara renuncia a hacer filosofía de la historia. Tal vez para no incurrir en los fallos de HEGEL. Su síntesis fue demasiado brillante, demasiado «ideal» para soportar el peso de la realidad. Es natural que se anunciara en seguida una reacción de signo contrario. Es la que vamos a ver a continuación.
3 La reacción atea
HEGEL llegó a convertir la existencia de Dios en una especie de silogismo. Recuérdese su recuperación del argumento ontológico de San Anselmo, que KANT había rechazado. HEGEL llega a deducir a Dios de la historia, igual que la filosofía griega lo deducía de la realidad del cosmos. Pero, a partir de 1831, fecha de la muerte de HEGEL, la filosofía emprendió tareas de recuperación. Ante todo, el interés se centra en la transformación de lo que HEGEL se había limitado a interpretar. Se vuelve la mirada a este mundo finito y contingente del que HEGEL no había querido partir para acceder a Dios. El olvido de la finitud, central en el sistema hegeliano, es sometido a correcciones fundamentales. A partir de ahora, de una forma u otra, se partirá de abajo, del hombre, de los procesos económicos, de las realidades sociales y sus sangrantes retos. Por otra parte, nadie se atreverá, como lo había hecho HEGEL, a erigir su propio sistema filosófico en clave interpretativa última de la realidad. Se cobra conciencia de la provisionalidad. Nadie cree estar al final de la historia, sino más bien en sus pobres comienzos. Se apaciguan todos los conatos de alcanzar el telos último de la historia y se
centran los esfuerzos en tareas de restauración inmediata. K. MARX, pero también L. FEUERBACH, anticipan el contenido de la brillante frase de A. CAMUS: lo urgente es curar. La realidad les invitaba a intervenciones de urgencia. Y es que, mientras HEGEL alcanzaba metas insospechadas de especulación, en la Europa que él consideraba «el final de la historia», los niños de ocho y diez años eran triturados por las máquinas junto a las que habían trabajado dieciocho horas hasta que el sueño los vencía y caían inconscientes sobre sus instrumentos de trabajo. En realidad, el sistema hegeliano sólo se sostenía en la corte prusiana. La «aldea», como diría K. BARTH, nunca se enteró de que un gran filósofo había solucionado todos los problemas posibles...
Fue el desafío hegeliano, aunque no sólo él -habría que analizar todas las complejas causas del ateísmo humanista-, el que condujo a una triple reacción o, si lo prefieren, a tres clases de ateísmo humanista.
a) Feuerbach, Marx y Freud26
DESGRACIADAMENTE, no nos es posible, considerado el corto espacio de que disponemos, analizar detenidamente a estos tres autores. Todo el que tenga una ligera idea de su importancia lo comprenderá. Nuestra misión aquí es simplificar. Digamos, para tomar en seguida en serio nuestra tarea, que los tres coinciden en considerar la idea de Dios como proyección. Todo aquello que el hombre desea y no puede alcanzar lo proyecta en un Dios lejano e inaccesible. El hombre pobre -escribió FEUERBACH- tiene un Dios rico. Dios es lo que el hombre sueña para sí mismo. MARX y FREUD aplicarán esta teoría al campo social y psicoanalítico respectivamente, pero sin añadirle elementos esencialmente nuevos. El auténtico padre del ateísmo contemporáneo es, por tanto, FEUERBACH. No seria exagerado afirmar que FEUERBACH representa el primer intento, conscientemente programado, y hasta cierto punto logrado, de implantar el ateísmo en la historia de la humanidad. Así lo percibió K. MARX que, en lo referente a la crítica de la religión, no ve otro camino que el que pasa por FEUERBACH. «Para Alemania -escribe MARX-, la crítica de la religión está en lo esencial
concluida»27 . Alemania ha pasado, piensa MARX, por el baño de fuego que significa etimológicamente Feuerbach. Y añade: FEUERBACH es el purgatorio del presente28. Esto explica que, a pesar de las importantes correcciones hechas por MARX a la crítica de la religión de FEUERBACH, asuma en lo esencial sus tesis y se sienta dispensado de grandes profundizaciones personales en el tema. Curiosamente, FEUERBACH comenzó estudiando teología. También lo habían hecho HEGEL y SCHELLING. El mismo camino siguieron catorce de los treinta y dos compañeros de clase de MARX. La teología protestante de la época gozaba de gran prestigio (SCHLEIERMACHER enseña en Berlín) y atraía a los mejor dotados. Recordando sus orígenes teológicos, escribirá FEUERBACH: «Dios fue mi primer pensamiento, la razón mi segundo, el hombre mi tercero y último»29. Hay quien afirma que el primer pensamiento, Dios, le atormentó durante toda su vida. Pero lo cierto es que, después de haber pasado brevemente por un período que NIETZSCHE llamaría de hegelitis («la razón fue mi segundo pensamiento»), FEUERBACH se centra en el hombre. Su afán será liberar al hombre de todo posible rival, aunque éste sea Dios. Es lo que se ha llamado la reducción antropológica. Su consigna es bien gráfica: el hombre debe dejar de ser candidato del más allá para convertirse en estudiante del más acá. De los amigos de Dios hay que hacer amigos de los hombres, de los creyentes pensadores, de los orantes trabajadores, de los hombres divididos hombres enteros30.
Se trata de recuperar lo terreno, de evitar toda posible emigración de este mundo. La obsesión por el cielo repercute en detrimento de la tierra. El que cree en Dios, piensa FEUERBACH, tiende al escapismo y a la pasividad. Pensando que Dios puede arreglarlo todo, se cruza de brazos. Además, Dios empobrece al hombre. FEUERBACH está convencido de que «cuanto más pone el hombre en Dios, tanto menos retiene para sí»31. Cuanto más lucha el hombre por engrandecer a Dios, tanto menos énfasis pone en sus propias reivindicaciones históricas. En vez de transformar su propia realidad, malgasta sus energías acumulando atributos de perfección en un ser celeste al que llama Dios. Dios se convierte así en «la suplencia de un mundo perdido, en producto de la necesidad humana»32.
El hombre sueña, pero proyecta sus sueños en Dios y se queda más pobre de lo que estaba.Es la necesidad humana la que conduce al hombre a Dios. Al tenerse que debatir entre precariedades, el hombre tiende a imaginar un cielo que carezca de ellas. Y como la precariedad por excelencia es la muerte, FEUERBACH escribirá: «Si el hombre no tuviera que morir, no habría religión»33. La religión es, pues, producto de la necesidad humana. Es una consecuencia de la falta de resignación de los humanos. Son ellos los que crean la religión. Dios debe su existencia al hombre y no al contrario. La conclusión se intuye: FEUERBACH desea que el hombre deje de ser benefactor de los dioses y se centre en sí mismo, en la superación de sus deficiencias y precariedades. En definitiva, desea que «el hombre sea Dios para el hombre». A esta tarea dedicó su vida. Cuando en 1848 estalla la revolución y le piden que empuñe las armas, responde: me voy a Heidelberg a dar clases sobre la esencia de la religión. Dentro de cien años no habrá dudas de que así he ayudado más a la humanidad. FEUERBACH murió en 1872, a los sesenta y ocho años. En sus últimos años conoció la pobreza, la enfermedad y el olvido de los amigos. Eso sí, como suele ocurrir casi siempre éstos se dieron cita ante su tumba para pronunciar sentidas oraciones fúnebres. Los cronistas hablan de veinte mil personas en su entierro. Una de ellas habló de su «amor a la verdad». Es evidente la intención humanista de FEUERBACH. En una época en la que las iglesias y la teología defendían a Dios a costa del hombre, el más allá a costa del más acá, FEUERBACH habló en favor del hombre. Es cierto que se pasó al otro extremo y disolvió la teología en antropología. Dejó así a otros la nada fácil tarea de relacionar rectamente lo humano y lo divino.Contra lo que pudiera parecer, la teología actual no tiene dificultad en aceptar la teoría de la proyección de FEUERBACH. La idea de proyección intenta resaltar la fuerza creadora del espíritu humano. Reconoce que la idea de Dios es también un producto de lo que BLOCH llamaría «latencias y potencias» del hombre. Sólo que para la teología no se trata de un producto accidental, sino de una componente esencial de la autocomprensión humana. En este sentido, la idea de Dios no sería desechable sin más como mera ilusión o engaño. La teología es bien consciente de que Dios tiene que ver con el deseo humano; pero piensa -con razón- que este dato no debe convertirse en un argumento contra la existencia de Dios. El argumento «lo deseo, luego no existe» no se sostiene. Eso sí: tampoco una apologética cifrada en el «lo deseo, luego existe» contribuiría a hacer plausible la existencia de Dios. El proceso mediante el cual un creyente del siglo xx «da razón de su esperanza» es, sin duda, mucho más complejo y menos proclive a la lógica silogística. Algún atisbo de este proceso ofreceremos en la última parte.Decíamos que la teología actual pone de relieve que la idea de Dios no es algo accidental en la vida del hombre, sino que pertenece esencialmente a lo más íntimo de su ser. Tanto es así que algunos teólogos no tendrán reparos en aceptar la tesis de H. BRAUN que afirma: «El ateo desfigura al hombre»34. BRAUN llega a preguntarse si existe el ateo... Sin ir tan lejos, W. PANNENBERG considera que el ateísmo es un producto tardío de la civilización occidental. «De suyo», el hombre es un ser religioso.
Nos resulta difícil pronunciarnos sobre este tema. Aunque es posible que el conjunto de la exposición ilumine algo este punto, nos atrevemos a anticipar que lo seguro es que el hombre es un misterio, una pregunta abierta (recuérdese a San Agustín). Es cierto que K.
RAHNER y muchos otros han hablado del «a priori religioso». Pero se dan cita en esta expresión tantos presupuestos intrateológicos y ontológicos que, en nuestro marco, no podemos pronunciarnos sobre ellos. Preferimos limitarnos, en este momento, a sugerir dos enunciados: 1) La afirmación «el hombre es un misterio» no permite muchas adiciones posteriores. Constatar que es un misterio y añadir a continuación que es religioso, racional, sociable, político, faber, ludens , simbólico, económico, etc., puede desembocar en una cierta
contradicción. 2) En nuestra época, muchos hombres se confiesan ateos. Afirman explícitamente no creer en Dios. No parece buen método de diálogo replicarles que, aunque no lo sepan, poseen un «a priori religioso». Digamos, para terminar estas breves reflexiones sobre FEUERBACH, que la teología de su tiempo, con su intimismo exagerado, contribuyó no poco a la reacción atea de FEUERBACH. Una teología como la de SCHLEIERMACHER, que ponía todo su énfasis en el «sentimiento», en «las necesidades del corazón del hombre piadoso», tenía que suscitar necesariamente la sospecha de si, en definitiva, la religión no se reducía a eso: a sentimiento, a deseos, a proyecciones de los humanos. En sus hermosas páginas sobre Feuerbach, K. BARTH insiste en esta posible «culpa» de la teología (en su libro La teología protestante en el siglo XIX). No podemos desarrollar el ateísmo humanista de MARX y FREUD. Hemos dicho que, en realidad, se limitan a aplicar la teoría de FEUERBACH al campo social y psicoanalítico respectivamente. Nos limitamos a recordar la crítica de MARX a FEUERBACH. Era una ilusión de Ludwing FEUERBACH, piensa MARX, creer que destruyendo una ilusión de la humanidad se hace a ésta feliz. No basta con arrancar de las cadenas las flores imaginarias para que el hombre las soporte sin fantasías ni consuelos. Lo importante es acabar con las cadenas, transformar ese valle de lágrimas «que la religión rodea de un halo de santidad»35.
Frente a Feuerbach, MARX insistirá en que el hombre no es un ser abstracto, «agazapado fuera del mundo». El hombre es el mundo de los hombres, el Estado, la sociedad. Es ahí donde hay que dar la batalla. Son ellos los que, al crear un mundo invertido, producen la
religión. La lucha contra la religión es la lucha contra ese mundo invertido, «del cual la religión es el aroma espiritual». Con notable concisión y belleza, dirá MARX: «La miseria religiosa es, por una parte, expresión de la miseria real y, por otra, protesta contra esa miseria. La religión es el suspiro de la creatura oprimida, el corazón de un mundo sin corazón, el espíritu de una situación carente de espíritu. Es el opio para el pueblo»36. Y añade: «La crítica de la religión desemboca en la doctrina de que el hombre es el ser supremo para el hombre y, por consiguiente, en el imperativo categórico de echar por tierra todas las situaciones en las que el hombre sea una esencia humillada, esclavizada, abandonada y despreciable; relaciones que no pueden describirse mejor que con la exclamación de un francés cuando se proyectaba crear un impuesto sobre los perros: ¡Pobres perros! ¡Quieren tratarlos como a seres humanos!»37.
A MARX no le basta una reconciliación que se dé sólo en la cabeza de HEGEL; tampoco le satisfacen las brillantes interpretaciones de FEUERBACH sobre la religión. Desea bajar al terreno de la praxis y transformar el Estado y la sociedad. Tal vez esto explique sus preferencias por Prometeo. Alguna vez reveló a su hija que Prometeo era su modelo. Le fascinaba este héroe rebelde y ateo que se sacrifica por los hombres penetrando en el santuario de los dioses y arrebatándoles su fuego. Prometeo encadenado simboliza para él el proletariado encadenado por las clases dominantes. Con frecuencia citará la frase de Prometeo en Esquilo: «En una palabra: yo odio a todos y cada uno de los dioses». Prometeo es para MARX el santo más importante del calendario filosófico. También NIETZSCHE admiraba en Prometeo «el esplendor de la actividad». Para otros pensadores, como BACON, Prometeo representa la confianza titánica en la capacidad investigadora del espíritu humano. ¿Hay sitio en el calendario cristiano para Prometeo? ¿Es Cristo lo contrario de Prometeo? La espiritualidad cristiana ha visto con frecuencia en Jesús una especie de cordero antirrevolucionario, un símbolo de sometimiento, paciencia y resignación. Mientras tanto, el marxismo era tachado de reducción antropológica contraria a la gracia. Hoy los anatemas han cedido el paso al diálogo. J. M. GONZÁLEZ RUIZ afirma que la gracia no es una intromisión que quiera oscurecer la grandeza épica de Prometeo. El Dios cristiano no se reserva el «fuego», al estilo de los dioses de la mitología. Y el hecho de que no podamos encasillar a Jesús dentro del movimiento revolucionario zelota de su tiempo no significa que debamos considerarlo como un cordero antirrevolucionario. Es verdad que no se le conocen acciones «eficaces» de signo zelota. No estaba allí cuando este grupo político se arriesgó a
quemar los archivos en los que estaban consignadas las deudas de los pobres... Pero parece cierto que «su revolución» caló más hondo que la zelota. Lo espectacular no es siempre garantía infalible de eficacia duradera. A los zelotas sólo los conoce un reducido grupo de especialistas. En cambio, el proyecto utópico de Jesús se sigue barajando como posible ayuda para abandonar este negro túnel de egoísmo y amenaza de guerra total que ensombrece las perspectivas de futuro de la humanidad.
b) El argumento moral
LA SEGUNDA CORRIENTE de ateísmo humanista, en la que -igual que en la tercera- apenas insistiremos por falta de espacio, afirma que este mundo, con su carga de injusticia y sufrimiento, no es reconciliable con la bondad y omnipotencia de Dios. Es el llamado argumento moral contra la existencia de Dios. A. CAMUS y F. M. DOSTOYEVSKI son sus representantes más apasionados. Ambos dejaron constancia de su grandeza moral al negarse a «Comprender e integrar» el sufrimiento humano, en especial el de los niños. El médico de La peste (CAMUS) despliega una arriesgada e intensa actividad en favor de los apestados, mientras el teólogo de Orán (un jesuita) lanza tópicos escolásticos desde el acostumbrado púlpito.
ATEISMO/OMNIPOTENCIA: OMNIPOTENCIA/ATEISMO: Obviamente, la teología no intenta rebatir este argumento. Es muy consciente de que se trata de la objeción más seria a la que se enfrenta la idea de Dios. Es más: la misma teología es culpable de fomentar este género
de ateísmo hablando muy abstractamente de la omnipotencia de Dios. Una teología que, sin tener en cuenta las luchas y los sufrimientos de la historia, habla alegremente de la omnipotencia de Dios, se convierte ella misma en causa del ateísmo contemporáneo. No es que propongamos desterrar, sin más, del lenguaje teológico el tema de la omnipotencia de Dios; pero pensamos que, si se ven razones muy importantes para mantenerlo, habría que hablar de ella en futuro. Teólogos como PANNENBERG y MOLTMANN la entienden como expresión de una esperanza: la esperanza de que el amor de Dios triunfe sobre el lado oscuro y absurdo de este mundo. Se trata, por supuesto, de un triunfo futuro, que aún no suprime la negatividad inherente a lo humano, pero que supone distensión ante lo que
oprime y desconcierta.
MAL/OMNIPOTENCIA-D: Nadie mejor que J. MOLTMANN, en su libro El Dios crucificado, ha comprendido la dificultad de compaginar la omnipotencia de Dios con la teología de la cruz. La omnipotencia de Dios, afirma MOLTMANN, pasa por la impotencia de la cruz. Se trata, por tanto, de una omnipotencia que, en el ámbito de la historia, convive con el dolor y la muerte. Sus promesas de victoria son de índole escatológica. Se trata, sin embargo, de promesas que responden a las aspiraciones humanas más profundas. Sólo así se explica que la fe en Dios haya resistido el peso de tanto mal a lo largo de la historia. Los humanos -muchos de ellos- nunca abandonaron la esperanza de que ese Dios, que no parece poder evitar su dolor, haga justicia a sus causas más allá de la muerte. Es así cómo, generación tras generación, los creyentes -al menos los cristianos- abandonan este mundo entre el temor y la esperanza. Y seguimos viviendo sin noticias de lo que les ocurre en el más allá. Sólo la fiabilidad de las viejas promesas bíblicas avala la esperanza. Sólo ellas -Pablo, por ejemplo- se atreven a increpar al mal preguntándole dónde está su aguijón y su victoria. A los demás, ese aguijón y esa victoria nos son demasiado familiares.
c) El ateísmo de la libertad
FILÓSOFOS como NIETZSCHE, N. HARTMANN y J. P. SARTRE afirman que Dios y la libertad humana se excluyen. De suyo, esta forma de ateísmo afecta sólo a una determinada concepción teológico: a la que considera el mundo como un todo acabado y perfecto. En efecto, sólo si la creación aparece como un dechado de perfección, que haga inútil y superfluo todo ulterior esfuerzo humano, carece de sentido hablar de libertad. Pero el Dios cristiano no coloca al hombre frente a un mundo acabado y perfecto ante el que sólo quepa la aceptación o el rechazo. Más bien llama al hombre a que transforme y perfeccione el universo. El mundo no es un resultado logrado, sino un torso lleno de fisuras y opacidades que invitan al esfuerzo y a la transformación.
Es más: no sólo el mundo, sino también el reino de Dios está in fieri. PANNENBERG llegará a afirmar que la misma realidad de Dios se encuentra en camino. Y lo explica: Dios se identifica con su reino; pero es evidente que ese reino, con sus notas de humanidad lograda y justicia plena, no está aún presente en la historia. De ahí que PANNENBERG afirme que «la forma de ser de Dios es el futuro»38. A ese futuro remite PANNENBERG la prueba definitiva de su existência
Ponemos aquí fin a nuestra evocación de algunos rasgos del ateísmo humanista. Se trata de un ateísmo motivado por una gran fidelidad al hombre. De ahí su «simpatía» y el influjo que ha ejercido a lo largo de la historia. A lo largo de la exposición hemos apuntado posibles respuestas de la teología. Pero este tema hay que hacerlo objeto de un estudio más detallado.
4 Respuesta de la teologia
a) No a las pruebas
PUEDO ASEGURAR que la teología actual no desea renovar las pruebasde la existencia de Dios. Su diálogo con el ateísmo contemporáneo no está motivado por exigencias de tipo apologético. Es más: teólogos como PANNENBERG, TILLICH y EBELING piensan que las tradicionales pruebas de la existencia de Dios, en las que tanto insistía la teología natural, más que asegurar la existencia de Dios, pretendían mostrar la finitud del hombre y del mundo. Tales pruebas sólo remitirían a la condición finita y contingente del hombre; pero no serían la respuesta a esa contingencia. Su misión sería la de poner de manifiesto que es necesario ir más allá del hombre y del mundo, si se aspira a lograr un fundamento sólido para la realidad. Las pruebas de la existencia de Dios son, por tanto, un buen testimonio de que el hombre supera todo lo finito y busca la explicación última de las cosas en una instancia superior a él. (Recuérdese la frase de KIERKEGAARD: «Hay que ser más que hombre para ser al menos hombre».) Este es el sentido que da HEGEL a las pruebas de la existencia de Dios. HEGEL es consciente de que se trata de un proceder ilegítimo, ya que, partiendo de la realidad finita, se pasa a afirmar la existencia de Dios, que pertenece a otro orden de realidad. Pero HEGEL las mantiene como expresión formal de que el hombre supera lo finito. Precisamente porque es consciente de que no es legítimo hacer depender la existencia de Dios de la realidad finita, renueva el argumento ontológico de San Anselmo y lo defiende frente a la crítica kantiana. La ventaja del argumento ontológico radica en que el punto de partida no es la realidad finita, sino el concepto de Dios. Lo específico de este
argumento es pasar del concepto de Dios -"aquello mayor de lo cual no se puede pensar nada"- a su existencia. San Anselmo piensa que si es lo mayor que se puede pensar, tendrá que tener la existencia. De lo contrario, cualquier otra cosa existente sería mayor que él, ya que tendría una perfección -la existencia- que Dios no tendría. San Anselmo nos viene a decir que, en el concepto de Dios, coinciden esencia y existencia. La idea de Dios no es pensable sin su existencia. HEGEL no aceptará la distinción kantiana entre el orden del ser y el del pensamiento, que tan gráficamente había sido expuesta por el filósofo de Kónigsberg afirmando que no es igual tener cien monedas en la cabeza o en el bolsillo... Para HEGEL, el problema consistirá en explicar cómo se llega al concepto de Dios. Concluirá que se trata de un concepto necesario, hacia el que el hombre está esencialmente orientado. El concepto de Dios pasa por tanto, a ser parte esencial de la antropología actual. HEGEL ha antropologizado las pruebas de la existencia de Dios. El hombre está más en el centro que
nunca. Las pruebas de la existencia de Dios no demuestran que exista Dios sino que el hombre lo necesita radicalmente. Éste es el sentido que da la teología a este importante capítulo de la
historia del pensamiento occidental. La teología es bien consciente de que Dios es un misterio que se resiste a todo género de pruebas. Ya vimos que este ocultamiento de Dios no es un descubrimiento reciente. Se trata de un topos hondamente bíblico, evocado con gran profundidad por LUTERO. El ocultamiento de Dios es consecuencia de su trascendencia. Dios no es un objeto más de los que integran nuestro mundo de cosas. La experiencia humana no capta a Dios como un objeto entre otros. Dios no llega nunca directamente al receptor. Se requiere un laborioso esfuerzo para descubrir sus huellas en la realidad que nos rodea. La reflexión teológico sólo puede hablar de él indirectamente, a través de sus aplicaciones en la vida de los creyentes.
D/EXISTENCIA/PRUEBAS: En nuestros días, las pruebas de la existencia de Dios quedaron definitivamente sentenciadas por D. BONHÖFFER: «Einen Gott den es gibt, gibt es nicht»39, había escrito este creyente del siglo xx, fusilado por el régimen de Hltler el 9 de abril de
1945.
La frase alemana posee tal densidad que cualquier traducción resulta pobre. La idea es que no es posible hablar de Dios como de un objeto más de los que nos rodean. Un Dios, cuya existencia fuese constatable, no sería realmente Dios. La teología no afirmará nunca que puede probar la existencia de Dios. Se remitirá siempre a su revelación gratuita y tratará de descubrir su presencia en la historia, en las religiones y en la vida de los pueblos. La existencia del Dios cristiano no es objeto de prueba, sino de esperanza y confianza. Determinados hombres se sienten con fe, es decir, capaces de soportar «la incertidumbre objetiva, mantenida a través del escándalo del absurdo, por la pasión de la interioridad» (KIERKEGAARD). La dialéctica cristiana se mueve, pues, entre el «ya» y el «todavía no», presente en todo el Nuevo Testamento. La salvación es ya real, pero no invade aún todos los ámbitos de la vida. Es necesario esperar. Se explica así el lugar privilegiado que el futuro ocupa en la teología actual. Sólo el futuro decidirá sobre la frase «existe Dios». Esto explica también los recelos de la teología, tanto frente a un ateísmo dogmático como frente a un teísmo precipitado. Una postura atea, que proclame dogmáticamente el carácter ilusorio de la idea de Dios, puede caer en una cierta ligereza intelectual. W. PANNENBERG llega a decir que tal ateísmo descansa en una especie de «barbarie intelectual»40.
Pero también un teísmo precipitado, que cree poder demostrar la existencia de Dios, se atrae las críticas del pensamiento teológico actual. Si la realidad de Dios estuviera tan fuera de toda duda, la vida de los hombres no estaría tan llena de enigmas y problemas acuciantes. Por otra parte, como afirma PANNENBERG, «un Dios cuya existencia pudiese ser demostrada mientras el mundo va de mal en peor y los sufrimientos de los hombres claman al cielo, no sería la solución al oscuro enigma de nuestra vida»41.
Además, desde el punto de vista teológico, hay que insistir en que, tanto para afirmar como para negar la existencia de Dios, es necesario prestar atención a las tradiciones religiosas de la humanidad. No basta con antropologizar las pruebas de la existencia de Dios y afirmar que el hombre puede comprenderse a sí mismo y al mundo que le rodea sin recurrir a la idea de Dios. El hombre y su posible autocomprensión inmanente no son el único criterio para decidir sobre la existencia de Dios. Las tradiciones religiosas son un hecho que es preciso analizar. No parece justo excluir a priori, de forma dogmática y apodíctica, la posibilidad de que contengan un núcleo de verdad. Con otras palabras: aunque el hombre no necesitase existencialmente a Dios, debería ocuparse de las tradiciones religiosas que hablan de él, de cómo surgieron y de cómo se han ido desarrollando a lo largo de la historia. No basta, por tanto, el argumento antropológico. Al mismo tiempo, tales tradiciones religiosas deberán ser analizadas con el método histórico-crítico. No podrá ser la fe ni el dogma quien decida sobre la verdad de estos textos religiosos, sino la investigación histórica. En general, no es misión de la fe ni del dogma informarnos sobre si hace dos mil años ocurrió algo. La única instancia competente en tales temas es la investigación histórica. La fe, para ser auténticamente razonable, presupone un conocimiento de los contenidos en los que cree. De lo contrario sería una decisión ciega, una especie de autosalvación mediante autoconvicciones no contrastadas. Es sabido que gran parte de la teología protestante, en especial la teología dialéctica de K. BARTH y sus amigos, propugna este tipo de fe. A nosotros nos parece más acertada la definición de fe que ofrece el concilio Vaticano I: «Obsequium rationabile». Afirmando que es «obsequio», se excluye un racionalismo burdo; y al defender que es «razonable», se rechaza un fideísmo total. Se intentó una síntesis que aunque sólo es posible en teoría, no debería ser olvidada.
La teología actual intenta ser esencialmente modesta. No desea presuponer la existencia de Dios, sino caminar junto a los que lo buscan. En.un mundo que experimenta a Dios como «misterio absoluto» (K. RAHNER), no sería justo que la teología hablase de él como de una evidencia. Ya importantes hombres de la tradición cristiana, como NICOLÁS DE CUSA, relacionaron el tema «Dios» con la «conjetura». El teólogo está necesariamente obligado a hacer conjeturas. Por lo general, su trabajo parte de la inquietud y de un proyecto de búsqueda humilde y esperanzador.
b) Sí a la esperanza
EL ATEÍSMO humanista fracasa ante la imposibilidad de dar una respuesta positiva a la pregunta por el sentido de la historia. En este fracaso le sigue muy de cerca el teísmo. Y es que tal vez lo verdaderamente importante sea mantener abierta esta pregunta. Se trata de tener capacidad para vivir en la aporía que la historia de cada día pone ante nuestros ojos. Mientras continúe la historia, escribe MOLTMANN42, todo es posible
Hay que dejar abierta la pregunta por su sentido último. Sólo «al volver la última curva» (J. HICK)43, en la verificación escatológica, se rasgará el velo. En este sentido, defendemos la legitimidad de una especie de teología de la pregunta. La mejor forma de hablar de la actuación de Dios en la historia es hacerlo en forma de pregunta, como Job. El que no quiere saber nada de preguntas, difícilmente comprenderá lo que significa la palabra «Dios». La condición de posibilidad para comprender lo que significa «Dios» es un «no entender». Un no entender el dolor de la historia y un no entender a Dios mismo, un no poderlo compaginar sin violencia con el resto de la realidad: con el mal, la culpa, el sinsentido, la muerte. Un no poderlo compaginar con el destino trágico de las generaciones que nos precedieron. Con algo de imaginación su recuerdo desencadena problemas insolubles, que impulsan a dejar abierto el sentido de la historia. A veces, quien otorga rápidamente sentido a la historia es por que carece de memoria histórica. Tal vez algo parecido quiso expresar K. LóWITH cuando, en 1949, escribía: «La experiencia humana de la historia es la experiencia de un constante fracaso». Los acontecimientos históricos no ofrecen, según él, el más mínimo indicio de que exista un sentido último y
abarcador. Algo en lo que coincide con la Escuela de Frankfurt, de cuyo pesimismo ante la negatividad de la historia ya hemos hablado.
Desde nuestro punto de vista, el sentido de la historia y de la existencia individual se halla doblemente amenazado:
1) Por su carácter efimero44
ES VERDAD que existen experiencias parciales de sentido. Las hace el artista, el científico, el enamorado..., tal vez todo hombre. Pero se trata de experiencias constantemente amenazadas. En efecto, las más bellas realizaciones humanas, los momentos más densos y felices de la vida, están sometidos a la ambigüedad que caracteriza todo lo finito. Sobre las experiencias más ricas se cierne siempre el temor al fracaso, el.oscuro presentimiento de que incluso el amor y la vida, la fuerza y la salud, caminan inevitablemente hacia su final, sobre todo si tenemos en cuenta que la muerte no es únicamente el final de la vida, sino su amenaza constante. Los logros y progresos del hombre se inscriben siempre en el marco de un acabamiento seguro y penoso. La muerte, con su talante mudo e inmisericorde, arrastra personas y épocas: murieron, por ejemplo, las esperanzas de progreso y bienestar de los años sesenta; quedaron sesgados poderosos impulsos de renovación política y social a nivel mundial; tal vez se nos fueron seres queridos dejando su huella imborrable; y cada día enferma la paz en algún lugar de nuestra geografía. Alguien ha dicho: «Vivir significa enterrar esperanzas». Esta frase refleja una experiencia universal de la humanidad que, antes o después, todo ser humano realiza. Y cada esperanza truncada se convierte en una amputación sensible, aceptada con la resignación del que se rinde ante lo inevitable mientras en su interior todo es protesta. El reto más temible nos lo plantea la muerte. BLOCH la llamaba la «anti-utopía más poderosa». Su fuerza destructora no conoce límites. Y cuando la prepara una larga enfermedad, va minando, día a día, nuestras fuerzas físicas y espirituales. Al final, muere la sombra de lo que fuimos.
Existen, pues, experiencias parciales de sentido. Es necesario recordárselo al ateísmo humanista de signo más pesimista; pero hay que concederle que las preside un horizonte de lucha y agonía. Contempladas desde el final, esas experiencias de sentido son efímeras. Y es necesario verlas desde el final. «La verdad de las cosas finitas -afirmaba HEGEL- es su final».
2) Por su carácter regional
A NIVEL individual es posible que nos sorprendamos en secuencias de felicidad, de plenitud desbordante. Pero si nos hacemos eco del lema de Pablo: «¿quién sufre que yo no sufra?», nuestro sentido queda profundamente amenazado. Mientras nosotros gozamos, otros sufren. Es verdad que siempre es posible seguir el lema de BULTMANN45 y buscar el sentido en la propia historia personal.
Pero ¿es humana esta solución? ¿Es posible vivirse individualmente con sentido mientras otros gimen y lloran junto a nosotros? ¿No sería una felicidad insolidaria, lograda a golpe de olvido? Por otro lado, si no se emigra espiritualmente de este mundo, si se mantiene vivo el recuerdo de los miembros menos privilegiados de la historia, ¿es posible hablar de sentido y felicidad? Si se arroja una mirada sobre ese «matadero» (HEGEL), que es la historia universal, ¿no habría que dar la razón a ADORNO cuando afirma que sólo el pensar la esperanza es ya un crimen? Pensamos que el sentido, a costa del olvido de las víctimas, es un sinsentido; y, manteniendo vivo su recuerdo, su «historia passionis» (METZ) ¿es posible vivirse privadamente con sentido? He aquí el dilema. Dilema al que, hace cincuenta años, intentaron dar respuesta, en un debate filosófico-teológico, dos hombres que han marcado la fisonomía espiritual de nuestro tiempo: W. BENJAMIN y M. HORKHEIMER. BENJAMÍN sostuvo que la historia de los muertos, de las generaciones sacrificadas y torturadas, no estaba aún cerrada. HORKHEIMER le escribió: «En último término, su afirmación tiene carácter teológico». Respondió BENJAMÍN que, efectivamente, el recuerdo de los muertos, la solidaridad con ellos, nos prohíbe concebir la historia ateológicamente. Esto es tanto como afirmar que hay que concebirla utopicamente46.
También ADORNO y HORKHEIMER escriben en la Dialéctica de la Ilustración: «Toda política, que no contenga teología, aunque sea de manera muy poco consciente, no dejará de ser, a fin de cuentas, un negocio, por muy hábil que éste sea» Si analizamos qué entiende HORKHEIMER por teología, comprenderemos por qué desea que la política no prescinda de ella: «Teología es... la esperanza de que la injusticia que caracteriza al mundo no permanezca así, esperanza de que lo injusto no sea la última palabra»48. Y también: la teología es «expresión de un anhelo, de una nostalgia de que el asesino no pueda triunfar sobre la víctima inocente»49. En esto, como en tantas otras facetas de su pensamiento, HORKHEIMER es heredero de la tradición de su pueblo, el pueblo judío. En efecto, la fe en la resurrección nació, muy tardíamente, en Israel como un esfuerzo por justificar la presencia de Dios en la historia de su pueblo elegido. Se cree en la resurrección como protesta contra los acontecimientos humiIlantes. Era necesario documentar que la persecución y la derrota, por muy sangrantes que fuesen, no se alzarían con la victoria definitiva. Triunfador último sería Yahvé haciendo justicia al oprimido y concediendo «otra vida» al maltrecho reducto de sus fieles seguidores. Se trataba de gritar que Antíoco IV (175-164), con sus crímenes y crueldades, con sus saqueos y profanaciones, no tendría la última palabra sobre Israel. La resurrección era la esperanza de que el Dios de los ejércitos levantaría de nuevo lo que los tiranos de turno redujeron a tristes cenizas. Así, lentamente, se va abriendo camino la esperanza de los Macabeos: «Tú, criminal, nos privas de la vida presente; pero el rey del mundo resucitará a una vida eterna a los que morimos por sus leyes» (2 M 7,9). Uno de los siete hermanos martirizados increpa al tirano: «Para ti no habrá resurrección a la vida» (2 M 7,14). La imposibilidad de compaginar a Dios con el aspecto injusto y roto, que ofrece este mundo, condujo al hombre moderno al ateísmo y a Israel a su mayor falta de resignación: a concebir otra historia, otro escenario, en el que cambiarían los papeles. A partir de ahora, Israel pensará en una nueva creación, libre de las heridas y desgarrones que caracterizan la hora presente. La tradición judeocristiana, ante el hecho de que las experiencias de sentido poseen un marcado carácter regional; es decir, no alcanzan a todos los hombres, postula la radical apertura de la historia. La última palabra no está dicha, ni siquiera para los muertos. Nuestra tradición religiosa más cercana, el cristianismo, ofrece una respuesta serena y esperanzada a la pregunta por el sentido de la historia: los muertos resucitarán. La esperanza cristiana afirma, pues, que la última palabra sobre el destino de los ya desaparecidos no la tuvieron los verdugos que los torturaron ni la muerte que los venció. La victoria definitiva no será de la muerte, sino de Dios. Al final, se hará justicia a sus causas perdidas, se escuchará la voz de los sin voz, habrá abundancia para los pobres, consuelo para los que gimen y lloran, paz para los perseguidos.
Se trata de una visión de reconciliación final, en la que desaparezcan las contradicciones de la hora presente. El cristianismo no se decide, con CAMUS, a «pensar con claridad y abandonar la esperanza». Más bien mantiene la «esperanza contra toda esperanza» (Rm 4,18), confiando al Dios que resucita a los muertos el futuro de la historia humana. En este sentido, somos herederos de la falta de resignación del pueblo judío. Nos resistimos a que la palabra decisiva sobre el entramado de la historia la pronuncien el azar o el determinismo ciego de las viejas culturas que nos precedieron. En lugar de entregarnos resignadamente a esas fuerzas ciegas, apostamos por la presencia libre y misteriosa de Dios en la historia, confiriendo su sentido último a los acontecimientos. La pregunta decisiva es: ¿en qué se fundamenta nuestra esperanza? ¿Es algo gratuito y ciego? «Pensar es trascender», escribió E. BLOCH. ¿Se reduce la esperanza en la resurrección de los muertos a un trascender voluntarístico? ¿Se trata únicamente de expresar que el pensamiento de que la muerte sea simplemente lo último es impensable? ¿Nos anima solamente ese vigor antropológico que hizo exclamar a E. BLOCH, unos días antes de su muerte, ante la pregunta de J. MOLTMANN por su estado de ánimo: «Der Tod, das auch noch ... !» (¡la muerte, todavía me queda esa experiencia ... !)?
La respuesta a todas estas preguntas la darán los conferenciantes que me sigan. Yo sólo puedo anticipar que el cristianismo habla de la esperanza en la resurrección de los muertos. Y fundamenta esta esperanza en que Dios ha resucitado a Jesús, anticipando así un futuro absoluto de resurrección para todos los hombres. La resurrección de Jesús se convierte así en piedra angular de todo el edificio cristiano. El cristianismo se sostiene porque aun no se ha apagado del todo la esperanza de que, misteriosamente, Dios haya resucitado a Jesús de Nazareth. Se trata de una confianza fundamental que no considera la duda y la pregunta como adulteración, sino como herencia a conservar.
/SAL/021: El mismo Jesús no terminó su historia arropado en una seguridad inquebrantable, sino atormentado por la pregunta: «Dios mío, Dios mío, ¿por qué me has abandonado?» (Me 15, 34). Este grito es el comienzo del Salmo 22. Algunos intérpretes, entre ellos BULTMANN, piensan que se trata de un salmo de desesperación. Jesús habría muerto, como tantos otros hombres, sumido en la desesperación. Otros exegetas, más benévolos, piensan que el Salmo 22 no es de desesperación, sino de confianza puesta duramente a prueba. En todo caso, lo cierto es que no se trata de un salmo de confianza ingenua; más bien revela una muerte conflictiva.
Tal vez no haya inconveniente en que sea ésta la actitud del creyente frente a la historia y su sentido: por un lado, confianza, ya que Jesús de Nazareth parece haber vencido el símbolo último de la negatividad, la muerte; por otro, confianza sometida duramente a prueba, ya que la humanidad y, sobre todo, sus miembros menos privilegiados, aún sienten el peso de la negatividad, preguntan por qué y sienten el anhelo, en frase de HORKHEIMER, por «el totalmente otro».
Conclusión
PERMÍTASEME expresar la sospecha de que respuestas como la que hemos esbozado aquí -modesta y decidida a un tiempo- no habrían exacerbado, sino mitigado, la confrontación del cristianismo con el ateísmo humanista contemporáneo. En todo caso, me gustaría que no se me pudiese aplicar la mordaz ironía de VOLTAIRE: «Sólo hay una pequeña luz (la razón); viene el teólogo, dice que alumbra poco y la apaga». Desgraciadamente, la frase de VOLTAIRE es aplicable a gran parte de la apologética cristiana de los últimos siglos. Un fanatismo incontrolado y una seguridad ingenua, ciega y recalcitrante frente al laborioso progreso de la razón humana, ha cavado una profunda fosa entre la fe y la modernidad. La inexplicable vinculación del cristianismo a viejas y caducas concepciones del mundo y de la historia tiene en su haber una importante cadena de airadas deserciones y silenciosos abandonos. Lo peor es que la voluntad de aprender no parece todo lo nítida que sería de desear. A veinte años del Concilio Vaticano II, asistimos de nuevo en la Iglesia católica a un peligroso desplazamiento de acentos. De nuevo se mira hacia el pasado con el evidente propósito de volver a emplearse en tareas de recuperación no santas. Desde determinadas instancias, se niega el pan y la sal a los hombres comprometidos con el cautiverio de sus pueblos. Se priva así a estos pueblos, bastante desposeídos ya, del carácter liberador del mensaje de Jesús. Las reticencias frente a la teología de la liberación pueden ser de incalculables consecuencias. Terminemos ya. A su manera, el ateísmo humanista ha intentado responder a la pregunta por el sentido de la historia. En definitiva, ha hecho filosofía de la historia. Nosotros, sin dar del todo la razón a M. THEUNISSEN50 cuando afirma que «la filosofía de la historia no sólo ha brotado de la teología, sino que sólo sigue siendo posible como teología» pensamos que la reflexión teológica actual, con los niveles de rigor y compromiso con los marginados que ha alcanzado, puede contribuir no poco a iluminar el precario sentido de la vida.
....................
1 La prueba del laberinto, Ed. Cristiandad, Madrid 1980, P. 111.
2 Ibid.
3 ELIADE, M., La prueba del laberinto. Ed. Cristiandad, Madrid 1980, p. 122.
4 Véase la obra fundamental de E. BLOCH, El principio esperanza, 3 vols., Ed. Aguilar, Madrid 1977, 79, 80.
Remitimos también al Iibro de José A. GIMBERNAT, Ernst Bloch. Utopía y esperanza, Ed. Cátedra, Madrid
1983.
5 MARCUSE, H.; POPPER, K., y HORKHEIMER, M., A la búsqueda del sentido, Sígueme, Salamanca 1976, p.
112.
6 Ibid.
7 TIERNO GALVÁN, E., ¿Qué es ser agnóstico?, Tecnos, Madrid 1975, p. 15.
8 TIERNO GALVÁN, E., ¿Qué es ser agnóstico?, Tecnos, Madrid 1975, p. 33.
9 TIERNO GALVÁN, E., ¿Qué es ser agnóstico?, Tecnos, Madrid 1975, p. 31.
10 TIERNO GALVÁN, E., ¿Qué es ser agnóstico?, Tecnos, Madrid 1975, p. 35.
11 TIERNO GALVÁN, E., ¿Qué es ser agnósticos, Tecnos, Madrid 1975, p. 85.
12 Véase para todo este apartado Peter L. BERGER, Para una teoría sociológica de la religión, Ed. Kairós,
Barcelona 1971, pp. 151-181.
13 BERGER, P. L., Para una teoría sociológica de la religión, Ed. Kairós, Barcelona 1971, p. 161.
14 BERGER, P. L., Para una teoría sociológica de la religión, Ed. Kairós, Barcelona 1971, p. 161.
15 BERGER, P. L., Para una teoría sociológica de la religión, Ed. Kairós, Barcelona 1971, pp. 161 y ss.
16 BERGER, P. L., Para una teoría sociológica de la religión, Ed. Kairós, Barcelona 1971, p. 162.
17 BERGER, P. L., Para una teoría sociológica de la religión, Ed. Kairós, Barcelona 1971, p. 162.
18 BERGER, P. L., Para una teoría sociológica de la religión, Ed. Kairós, Barcelona 1971, p. 163.
19 BERGER, P. L., Para una teoría sociológica de la religión, Ed. Kairós, Barcelona 1971, p. 158.
20 Vorlesungen über die Philosophie der Weltgeschichie, edit. por G. Lasson, Leipzig 1917, p. 10.
21 Citado por K. LÖWITH, Weltgeschichte und Heilsgeschehen, Stuttgart 1967, p, 56. Véase también del
mismo Autor: Von Hegel Zu Nietzsche, Stuttgart 1969.
22 Vorlesungen über die Philosophie der Weltgeschichie, edit. por G. Lasson, Leipzig 1917, p. 10.
23 LówITH, K., Weltgeschichte und Heilsgeschehen, Stuttgart 1967, p. 57.
24 LówITH, K., Weltgeschichie und Heilsgeschehen, Stuttgart 1967, p. 58.
25 LówlTH, K., Weltgeschichie und Heilsgeschehen, Stuttgart 1967, p. 59.
26 Véanse los capítulos que H. KÜNG dedica a cada uno de estos autores en su libro ¿Existe Dios?, Ed. Cris-
tiandad, Madrid 1979. Sobre Feuerbach véase, además, M. CABADA CASTRO, El humanismo premarxista
de Ludwig Feuerbach, BAC 372, Madrid 1975. Del mismo Autor: Feuerbach y Kant: Dos actitudes
antropológicas, Publicaciones de la Universidad Pontificia Comillas, Madrid 1980. Sobre Marx y Freud véase
M. UREÑA, E., Karl Marx economista, Tecnos, Madrid 1977. Del mismo Autor: La teoría de la sociedad de
Freud, Tecnos, Madrid 1977.
27 Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie, en Werke-Schriften-Briefe, Darmstadt 1962, vol. 1, p. 488.
28 KÜNG, H., ¿Existe Dios?, Ed. Cristiandad, Madrid 1979, p. 305.
29 Fragmente zur Charakteristik meines philosophischen curriculum vitae, en Gesammelte Werke, editado por
W. Schuffenhaucr, Berlín 1971, vol. X, p. 178.
30 Vorlesungen über das Wesen der Religion, en Gesammelle Werke, vol. VI, pp. 30 y ss.
31 Das Wesen des Christemtums, VIII, p. 115.
32 Das Wesen des Christemtums, VIII, pp. 191 y ss.
33 Vorlesungen über das Wesen der Religion, en Gesammelte Werke, vol. VI, p. 41.
34 BRAUN, H., Gesammelte Studien zum Neuen Testament und seiner Umwell, J. C. B. Mohr, Tüblngen 1971,
p. 34I. Para una respuesta desde el ámbito de la fe cristiana, véase KASPER, W.: Inlroducción a la fe,
Sígueme, Salamanca 1976.
35 Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie, en Werke-Schriften-Briefe, Darmstadt 1962, vol. I, p. 489.
36 Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie, en Werke-Schriften-Briefe, Darmstadt 1962, vol. I, p. 489.
37 Kritik der Hegelschen Rechsphilosophie, en Werke-Schriften-Briefe, Darmstadt 1962, vol. I, p. 497.
38 Grundfragen systematischer Theologie, Göttingen 1967, pp. 251 y 393.
39 BONHÖFFER, D., Akt un Sein. Transzendentalphilosophie und Ontologie in der systematischen Theologie,
Munich 1964, p. 94.
40 PANNENBERG, W., Wie kann heute glaubwürdig von Goll geredet werden?,
en F. LORENZ (ed.), Gollesfrage heute, Stuttgart 1969, p. 52.
41 PANNENBERG, W., Wie kann heute glaubwürdig von Gott geredet werden?,
en F. LORENZ (ed.), Gotiesfrage heute, Stuttgart 1969, p. 52.
42 MOLTMANN, J., Goitesbeweise und Gegenbeweise, Wupertal 1967, p. 9.
43 ANTISERI, D., El problema del lenguaje religioso. Dios en la filosofía analítica,
Ed. Cristiandad, Madrid 1976, pp. 136-139.
44 Véase para lo que sigue Manuel FRAljó, La resurrección, sentido para una
humanidad irredenta: «Sal Terrae», 3 (1980), pp. 201-212.
45 BULTMANN, R., Geschichie und Eschatologie, Tübingen 1964, p. 184.
46 PEUKERiIi, H., Wissenschaflslheorie-HandlungstheorieFundamentale
Theologie, Düsseldorff 1976, pp. 278 y ss.
47 MARCIJSE, H., POPPER, K., y HORKHEIMER, M., A la búsqueda del sentido,
Sígueme, Salamanca 19 76, p. 105.
48 MARCUSE, H.; POPPER, K., y HORKHEIMER, M., A la búsqueda del sentido,
Sígueme, Salamanca 1976, p. 106.
49 MARCUSE, H.; POPPER, K., y HORKHEIMER, M., A la búsqueda del sentido,
Sígueme, Salamanca 1976, p. 106.
50 THEUNISSEN, M. Gesellschaft und Geschichie. Zur Kritik der kritischen
Theorie, Berlín 1969, pp. 39 y ss.
MANUEL FRAIJÓ NIETO
REALIDAD DE DIOS Y DRAMA DEL HOMBRE
Cátedra de Teología Contemporánea
Colegio Mayor CHAMINADE. Madrid 1985 . Págs. 9-66
......................................................
Assinar:
Postagens (Atom)