3 de abril de 2009

O Casamento de Muitas Igrejas Com O “deus$” Entretenimento

“Rico sou...e não sabes que és um desgraçado,e miserável,e pobre,e cego,e nu”-(AP-3.17ACF)

Meu alvo neste artigo é demonstrar os meios pelos quais o entretenimento se introduziu nas igrejas e-vangélicas nos últimos 120 anos, sua forte presença hoje. E suas terríveis consequências para a pré-gação do verdadeiro Evangelho.

No final do século 19 o grande pregador Spurgeon deu o alerta,ele já prenunciava o declínio que estava por vir nas igrejas em relação à adoração: “O fato é que muitos gostariam de unir igreja e palco, ba-ralho e oração, danças e ordenanças. Se nos encontramos incapazes de frear essa enxurrada, pode-mos, ao menos,prevenir os homens quanto a existência e suplicar que fujam delas”.1 Nessa perspec-tiva, Tozer 60 anos depois em 1950 confirmava: “o entretenimento religioso já está em muitos lugares, rapidamente desalojando as coisas sérias de Deus”.2 Em 1970, Lloyd-Jones já mostrava a pregação, do Evangelho, em crise: a “tendência, hoje (1970), é de depreciar a pregação em prol de várias outras formas de atividade.”3

Todavia, observem a leitura de Timmerman,quase 25 anos depois das palavras de Lloyd-Jones(1990-95):“em muitas igrejas o sermão é uma ilha que diminui cada vez mais em um mar turbulento de ativi-dades.”4 A pregação não é mais vista como sendo a voz de Deus falando ao seu povo.

Mas o que causou todo esse estrago nas igrejas?

I. O Surgimento do Show Business

Charles Spurgeon batalhou muito na Controvérsia do Declínio no final do século 19, mesma época em que a era da exposição começou a terminar. Paralelamente uma tendência mundial começava a nas-cer, o surgimento do entretenimento como centro da vida cultural e familiar. Essa nova filosofia de vida começou a se fortalecer cada vez mais, tomou corpo e norteou todo século 20. Prossegue no século 21 com vigor na vida secular e também na religiosa.

Desta forma,nasceu a era do Show Business a 110 anos atrás.Filmes,dramatizações,programas de auditório, inicialmente rádio e depois tele-novelas com advento da televisão, colocaram o show busi-ness no centro de nossas vidas e também de muitas igrejas.

No show business a verdade é irrelevante. O que realmente importa é se a pessoa está ou não sendo entretida,“feliz”...O estilo é tudo;portanto,atribui-se pouco valor ao conteúdo.Desse modo,se determi-nado programa está com super audiência, isso é o que vale.


No show business a forma como o veículo é passado ao povo se torna a mensagem. Portanto, pode-se dizer que o veículo é a mensagem.5 É essa maneira de pensar que rege o mundo atual. E também a grande maioria das igrejas seguidoras dos métodos a base de entretenimento.


II. Inicialmente a Igreja Resistiu a Sedução do “deu$” Entretenimento

Na realidade, durante séculos as igrejas se mantiveram firmes contra toda forma de entretenimento mundano dentro de seus cultos. Porque o reconhecia como um dispositivo de perda de tempo, um refúgio contra a perturbadora voz da consciência. E por manterem posições, de santas esposas de Cristo, as igrejas sofreram muitos ataques por parte do mundo.


Porém,nos últimos 60 anos,muitas igrejas se cansaram dessa luta.Optaram por ser politicamente cor-retas e passaram a oferecer uma alternativa de igreja que não confronte o pecado;que amenize o es-cândalo da cruz. Mas, principalmente, que ofereça uma mensagem de prosperidade financeira, e que fale o que o povo quer ouvir. Em fim, uma igreja mais “amigável” e atraente para com o mundo.


A idéia é que se a igreja não pode vencer o “deus entretenimento”, o melhor é unir forças com ele, e aproveitar ao máximo seus“poderes”.Razão pela qual se observa hoje,milhões sendo gastos em tem-plos mais aconchegantes, com palcos especiais, sons de ultima geração, bancadas acolchoadas... E treinamento especializado do pessoal de liderança, mas, não o treinamento bíblico. O foco, agora, é investir na elite eclesial com muitos cursos de marketing, técnicas de crescimento rápido (numérico) de igreja e administração financeira. Por outro lado, o investimento nas pessoas, os membros, caiu drasticamente, pois estes não necessitam estudar a Bíblia, pois seus líderes já lhes fornecem tudo pronto. E assim, tonam-se uma clientela “vip”, ávida por consumir as tão propaladas “bençãos”. Que não são nada barato...

Face a alta rentabilidade das igrejas modernas,as maiores passaram a investir em empresas de comu-nicações,que alavancam cada vez mais seus business.Tamanha é a rentabilidade, que algumas mega -igrejas já possuem: bancos, mansões, jatinhos executivos, carros de super blindagem para os “semi-deuses” que as imperam...


Nessa perspectiva, o sucesso financeiro de alguns “semi-deuses”, através de suas mega-tele-igrejas, tem arrastado muitas igrejas de pequeno e médio porte a se tornarem pobres teatros de quinta catego-ria.Nas quais os respectivos produtores,mascateiam suas mercadorias com plena aprovação dos seus pastores. Pastores, estes, que sonham um dia se tornar um“semi-deu$”.E ainda citam textos bíblicos para justificar tamanha delinqüência.

Alguns pastores justificam que devemos estar a abertos às novas maneiras de evangelizar hoje. Que devemos abandonar o passado que nos enrijece (?). Porque se o método deu certo na mega-igreja tal é porque é bom. Será que toda essa opulência, e seus meios para aquisição de recursos tem a apro-vação de Deus? A resposta é não.

Agora veja:Essa triste realidade que hoje sufoca o verdadeiro cristianismo é aquilo que a igreja flerta-va na época de Spurgeon (1890); que se tornou fascinação nos dias de Tozer (1950). E nos últimos 10 anos se converteu em obsessão doentia para grande parte do segmento evangélico, inclusive em muitas igrejas batistas.

O lamentável é que as mais variadas formas de entretenimento encontradas na igreja de hoje, em sua maioria,são completamente seculares.E pagãs em seu lado místico,desse modo,sem nenhum aspecto cristão.6

Ainda assim,a maioria dos pastores,atualmente,se renderam a adoção do entretenimento como parte litúrgica de seus cultos. O resultado foi:

III. O Casamento da Igreja com o “deus” Entretenimento

O púlpito, em muitas igrejas,transformou-se em mero palco e a igreja,simples platéia.Pastores animam seus auditórios com frases de efeito, contentam suas igrejas com mensagens superficiais...”7

Para os padrões atuais, essas questões que tanto afligiram Spurgeon,e tantos outros,parecem insigni-ficantes hoje. De certa forma,dá a impressão que todos nós já absorvemos tais práticas (de entreteni-mento no culto)como sendo normais.Por ex:Encontros espirituais de jovens são realizados tendo como atração principal “shows de danças” inseridos nos “cultos”...

Outro equívoco que se tornou“normal”são as cantorias repetitivas,mas com muita emoção e sem en-tendimento. Orações inflamadas, regadas a muito “choro” onde todos falam ao mesmo tempo; brados de aleluias e até assovio são partes integrantes do culto moderno.

Se não bastasse tamanha distorção dos princípios litúrgicos do N.T.Após longo tempo de preparação (psicológica é claro) vem alguém (o líder “miraculoso”) trazer uma palavra de fé. A mensagem é muito mais de auto-ajuda que ajuda do auto.Ou então,um“ex-isso”,“ex-aquilo”;vem contar uma história mira-bolante de impressionar a maioria(que pouco pensa).E,ao final,todos saem dizendo: nosso encontrão “bombou”, foi demais...

Em outras palavras,foi demais porque todos se divertiram e se sentiram bem.E há uma razão para is-so: A maioria dos cânticos, orações e mensagens, são meios de auto-reconciliação, de auto-ajuda e auto-aceitação.O resultado final é a sensação de se ir para casa"aliviado"e se sentindo bem,contudo, infelizmente, sem ter verdadeiramente adorado o Santíssimo Deus.

O que condenamos não é entretenimento em si mesmo.8 Mas a equivocada utilização dessa prática como elemento de culto, e principalmente a maligna filosofia que está por trás de seu uso, a mudança no foco bíblico da igreja. Os evangélicos estão usando o entretenimento, nos cultos públicos, como ferramenta de crescimento de igreja sem nenhum filtro bíblico. Nem mesmo a razão, o bom senso está funcionando como filtro. Tal fato é uma subversão das prioridades da igreja descritas no N.T.

O modelo para o“pastor”dessa nova igreja, não é mais o profeta de Deus,o pastor bíblico.Ele agora é o executivo de grande empresa; o político; o animador de programas ( a semelhança dos auditórios das tvs). E assim índice de popularidade para a igreja moderna, se tornou muito mais importante que o nível de espiritualidade.

Contudo, o fato problemático permanece: hoje é difícil encontrar alguém que ouse levantar voz contra todo esse mundanismo dentro da igreja.9

Conclusão

Devemos estar cientes de que a introdução do entretenimento como parte cúltica corrompe a sã dou-trina, descarta os instrumentos primordiais do ministério pastoral: pregação e ensino, o próprio método de Jesus.

A igreja jamais poderá mercadejar o ministério que recebeu de Jesus Cristo,como alternativa de entre-tenimento secular.A igreja é o corpo de Cristo (1ªCo-12.27), suas reuniões são para adoração e instru-ção dos salvos (Ef-4.12).

Nós pastores, somos embaixadores de Cristo para promover a reconciliação dos perdidos com Deus (2ªCo-5.20).Não somos apresentadores e nem animadores de auditório;e nem camelôs.Nosso desafio hoje é nos purificar “de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus” (2ªCo-7.1). Amém

Bibliografia
1 SPURGEON, C.H. The Sword and the Trowel. Another Wrd Concerning The Down-Grade, 1887, p.397.
2 TOZER, AW. The Root of the Righteous. Pensilvania, Christian Publications, 1955. p.33.
3 D. Martyn Lloyd-Jones. Pregação e Pregadores. São Paulo, Fiel, 2001. p.23.
4 John J. Timmerman, Through a Glass Lightly. Grand Rapids. Eerdmans, 1987. p. 97
5 McLuhan, Marshall, in McARTHUR J.F.Jn. Com Vergonha do Evangelho. São José dos Campos, Fiel, 1997. p.74.
6 Ibid. p.75
7 Ricardo Gondim, “Como a Pena de um Destro Escritor,” Ultimato 253 (1998), p. 50-51.
8 Entendo que o entretenimento, seja: esportivo, musical, ou sênica é saudável e necessário ao crescimento do ser humano, e tem o seu momento próprio para tal. Momento este que não é na hora do culto público.
9 TOZER, ibid.

Wilson Franklim-É pastor da Ig.Bat.Vila Jaguaribe,Piabetá-RJ-wilfran@gmail.com

2 comentários:

  1. Caríssimo Ramon, essa tua abordagem é perfeitamente compreensível e nítida aos olhos de quem quer enxergar a realidade dos últimos dias de nossa humanidade; de fato, querido irmão, tua visão comunga com o que Paulo ensina:"6 Mas é grande ganho a piedade com contentamento.
    7 Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele.
    8 Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes.
    9 Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína.
    10 Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores". (1Tim 1.6-10).

    Peço tua permissão para utilizar exortativamente esse teu artigo. Aguardo resposta.

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  2. Olá Joshua esta autorizado a utilizar este artigo...
    fica na Paz..
    abraço

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