28 de agosto de 2009

Intolerância Religiosa e o Futuro da Humanidade


















Por


Pr.Ricardo Gondim



Proponho trégua entre as religiões. Chega de incompreensão. Basta de sangue derramado em nome de Deus. Vamos entupir os fuzis dogmáticos com flores. Transformemos nossos tanques teológicos em tratores. Se crer gera amor e ódio com a mesma intensidade, concentremos nossas forças na ternura. Será possível um rascunho de paz religiosa, mesmo provisória? Sim, a Grande Utopia escatológica de um só pastor e um só rebanho pode ser alinhavada em pequenos gestos. O futuro será o resultado de mínimas decisões presentes. Não há mais volta, o planeta encolheu do tamanho dum vilarejo. Os desequilíbrios ecológicos locais repercutem globalmente e as decisões econômicas nacionais produzem desdobramentos mundiais. Urge pressa. Os teóricos da religião precisam conscientizar-se que vivem em sociedades complexas; é preciso conviver com os diferentes Os credos já não representam etnias ou culturas locais. Cada dia se tornará mais necessário entender o significado da tolerância. Qualquer intransigência religiosa pode desencadear uma guerra com poder de destruição comparável a um conflito atômico. Algumas mudanças precisam acontecer urgentemente entre as religiões mundiais. Que pastores, sacerdotes, rabinos e mulás dediquem mais tempo lendo, decorando e declamando poesia, e para prevenir preconceitos, que se omitam os autores. Assim, poderão saborear beleza sem distinguir entre ateus e crentes, devassos e santos; que teólogos se especializem em “agapeologia”; que solidariedade seja a melhor prece, e exemplo, o maior sermão. Que as religiões, grandes e pequenas, se concentrem na vida aqui no mundo; que busquem aliviar os cansados e oprimidos antes de prometerem salvação eterna; que visitem os doentes, antes de tentarem decodificar os mistérios da Divindade; que defendam o direito do órfão e da viúva, antes de se arvorarem únicos detentores da verdade; que aprendam a zelar pela vida e desprezem as taxas de crescimento de suas instituições; que a mão esquerda desconheça as virtudes praticadas pela direita e não usem a bondade como proselitismo; e que Deus seja percebido no rosto do próximo e não em livros, compêndios, altares ou imagens. Que os líderes eclesiásticos voltem a caminhar na beira da praia; que façam estágio na casa de um pescador artesanal; que acordem cedo, sintam o aroma do café preto, naveguem todo o dia e na boquinha da noite voltem para casa exaustos; que suas mãos calejadas lhes ensinem a manter o coração sensível; que o corpo doído lhes amorteça a ganância; que se deitem felizes numa rede, e embalados pela bruma, voltem a soletrar con-ten-ta-men-to. Que as liturgias dos templos imitem as brincadeiras infantis onde ninguém é dono de nada, nenhum projeto definitivo, e não se separam as pessoas entre líderes e liderados. Já que o Reino Eterno não é dos adultos, mas dos pequeninos desprovidos de amarguras, que os ritos busquem devolver a humanidade aos jardins-de-infância; que os bancos das igrejas sejam transformados em gangorras e balanços; que o culto vire festa parecida com casamento de italiano, com muito vinho, dança, e sem hora para terminar. Devo estar delirando, mas entre alucinar bobagens e permitir que a realidade se transforme em pesadelo, prefiro continuar um sonhador.





Soli Deo Gloria.

Um comentário:

  1. Que beleza de depoimento!

    Mais uns 12 pensando igual ao senhor, teríamos uma sociedade (religiosa) menos cruel.

    :)

    ResponderExcluir